postado em 03/10/2016 11:25
Por Ricardo Teixeira*
Nunca antes na história tivemos uma sociedade tão conectada e as plataformas de redes sociais têm contribuído muito para isso. Entretanto, identificamos excessos de ;conexão;, especialmente entre os adolescentes. Essa hiperconectividade é um tema que os pais devem ficar muito atentos no dia a dia, pois ela não tem nada de inocente.
Vida social é uma ferramenta fundamental para nosso estado de felicidade e até mesmo de saúde. Mas será que os amigos virtuais têm esse mesmo poder? Parece que não. Pesquisas têm revelado uma associação entre o tempo gasto no Facebook e sintomas depressivos. Aí vem a velha pergunta de ovo ou galinha? A resposta mais provável é que o excesso de tempo nas redes sociais possa ser tanto a causa como conseqüência dessa maior freqüência de sintomas psiquiátricos.
Causa? Podemos pensar que uma pessoa exagerada e compulsiva tem problemas no controle de seus impulsos. E essa dificuldade em controlar os impulsos pode ter reflexos em varias dimensões da sua vida. E os adolescentes dão goleada quando se fala em impulsividade. Um estudo conduzido nos EUA mostrou que eles trocam uma média de 109 mensagens diárias pelo celular enquanto os adultos ficam com uma média de dez mensagens por dia.
Conseqüência? Redes sociais provocando mal estar psíquico? Uma forma de explicar essa ligação é o efeito comparativo com os outros ;amigos; que só expõem os louros do cotidiano e isso pode fazer com que a pessoa sinta que tem um projeto de vida mal-sucedido. Além disso, a prática virtual exagerada pode reduzir os encontros em carne e osso, o que pode desestabilizar o equilíbrio psíquico.
[SAIBAMAIS]Se esses fatores são relevantes para um adulto, imagine só para o cérebro de um adolescente que ainda está em formação! Alguns deles têm sinais típicos de dependência quando afastados do seu vício eletrônico. Pesquisas mostram que meninos e meninas digitam com a mesma frequência nas redes sociais, mas os exageros acontecem mais com as meninas. E esse exagero está associado a um menor desempenho acadêmico, mais sintomas depressivos, maior exposição ao álcool e outras drogas e também experiência sexual mais precoce.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília e professor de pós-graduação em divulgação científica e cultural na Unicamp.