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A preocupação com a qualidade dos lanches das crianças é cada vez maior

Os hábitos alimentares das crianças em idade pré-escolar são objeto de uma grande pesquisa que mostra, entre outras coisas, que os pais estão mais preocupados com a qualidade nutricional dos lanches servidos entre as refeições principais

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Na casa de Marcos Lelis, 35 anos, o ditado "casa de ferreiro, espeto de pau" perde todo o sentido. O chef de cozinha ensina para filha, Mariah, 5, todos os cuidados para uma alimentação saudável e saborosa. "Eu prefiro usar o termo consumo consciente. O importante é inserir comidas mais naturais e com menos agrotóxicos para as crianças. Devemos mostrar para elas de onde vem o alimento e como ele é produzido. Assim, ensinamos de fato como deve ser a alimentação."


Mariah sabe diferenciar uma comida saudável de "besteira" e também aponta todos os coleguinhas que não seguem uma dieta equilibrada, mas admite: "Já comi guloseimas dos meus amigos". O pai não repreende, pois acredita que o açúcar também faz parte da infância. "Você não pode privar a criança do leite condensado, por exemplo, mas é necessário saber dosar isso no dia a dia", recomenda.

A pequena moradora de Águas Claras faz parte de uma nova geração de crianças que está sendo apresentada a um consumo mais sadio, aponta pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O trabalho descreveu os hábitos alimentares de crianças em idade pré-escolar em relação ao consumo dos lanches intermediários, aqueles feitos entre as principais refeições.

Foram analisadas as respostas dos pais ou responsáveis de 1.391 crianças, com idade entre 4 e 6 anos, de todas as regiões do Brasil. No projeto, identificou-se que o lanche entre refeições foi consumido por 98,20% das crianças brasileiras. Três grupos de alimentos se destacaram: frutas, biscoitos e iogurtes. O lanche da tarde, no geral, foi mais frequente (96,69% dos entrevistados relataram oferecer essa refeição aos filhos) do que o lanche da manhã, relatado por 71,17%.

"A coleta dos dados da pesquisa ocorreu entre julho e agosto de 2015. São dados que precisam de confirmações. Porém, percebemos que os pais têm consciência de que as crianças devem ter uma alimentação saudável. Grande parte afirmou colocar frutas nos lanches. Outro dado que deve ser comemorado é que os pais estão conseguindo prover os lanches intermediários, essenciais para complementar a alimentação diária", diz Ana Del Arco, doutoranda em Ciências Aplicadas à Pediatria da Unifesp.

O consumo de açúcar de adição ; aquele acrescentado além do que já está presente no alimento ; se aproximou do limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a dieta de uma criança de 4 a 6 anos: 22,5g por dia. "É preocupante ver toda essa quantidade de açúcar, que não vem da lactose nem da frutose, chegar às crianças via sucos de caixinha e biscoitos. Esse excesso pode desenvolver uma população obesa e/ou com diversos outros problemas de saúde, como diabetes e hipertensão", alerta Ana Del Arco.

Na Região Centro-Oeste, os lanches atingiram sozinhos esse limite, apresentando um consumo de 29,6g/dia. Somente o lanche da tarde (21,4g) contribui com quase a totalidade da recomendação diária. O lanche em questão consiste em biscoito rechado, banana e suco de frutas industrializado.

A ingestão de frutas em geral esteve presente em 98,8% das composições de lanches. O leite e bebidas à base de leite estiveram presentes em quase 10% das composições de lanches, e o suco compôs 8,3% dos lanches intermediários estudados. O refrigerante apresentou frequência de ingestão próxima a 5% no lanche da tarde das crianças. "É necessário que os pais e o Estado atentem para fomentar uma educação nutricional. O exemplo vem de casa ; os responsáveis devem ensinar às crianças como cozinhar e selecionar os alimentos nas refeições", recomenda Del Arco.

Mudança de hábitos

Planejar uma alimentação saudável para os filhos não é uma tarefa simples. Com a correria do dia a dia, fica difícil encontrar tempo para preparar uma dieta correta. Pensando nesses contratempos, a gastrônoma Vanessa Prado criou uma empresa que fornece lanches balanceados para os pequenos.

"Elaboramos um cardápio semanal para as crianças com alimentos preparados para cada momento do dia. É fantástico descobrir que muitas delas não conhecem frutas comuns, nunca tomaram um suco natural. A nossa meta é a criança conhecer novos sabores para aumentar o paladar", explica Vanessa Prado.

O nutricionista e professor Aldemir Mangabeira, do curso de gastronomia do Centro Universitário Iesb, acredita que o consumidor deve aprender sobre como os produtos são formados. "As crianças são seduzidas por sabores extremos: o muito salgado, o muito doce ou o crocante. Isso é encontrado em qualquer mercado, mas é necessário abandonar esses hábitos. Precisamos aprender a ler o rótulo dos produtos. Devemos evitar achocolatados com açúcar", defende.

Vanessa Prado indica paciência no momento de montar a merenda. "A lancheira deve ter um carboidrato, uma proteína de origem animal e uma fruta ou um suco. Os pais precisam mostrar como os alimentos são feitos e preparar a refeição com os filhos pelo menos uma vez na semana", afirma.

Duas sugestões de cardápio (por Vanessa Prado)

1. Uvas, suco (de mamão, laranja e beterraba) e cuscuz

Dica para o preparo do cuscuz:

Hidrate o fubá com água e uma pitada de sal.

Cozinhe por 10 minutos na cuscuzeira.

Depois de pronto, adicione meia xícara de leite de coco natural e sirva.

2. Melancia, suco de laranja e bolo de banana

Receita do bolo de banana

Ingredientes

2 bananas maduras

1 xícara de aveia

1/2 xicara de uvas-passas

2 ovos

1 colher de sopa de fermento

1/4 xícara de óleo coco

1 colher de café de canela

Modo de preparo

Bata no liquidificador a banana, os ovos, as uvas-passas, o óleo e a canela. Depois, misture a massa com a aveia e o fermento. Leve ao forno aquecido a 180;C por 30 minutos.