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Estilista Ronaldo Fraga apresenta modelos transexuais de vestido na SPFW

"Se estamos falando do corpo como prisão do desejo, a roupa funciona como chave de libertação", disse Fraga no início da mostra



O estilista Ronaldo Fraga cumpriu a função social da moda. Em mais um desfile da São Paulo Fashion Week, nesta quarta-feira (26/10), no Teatro São Pedro, 28 modelos transexuais subiram à passarela para mostrar uma coleção - exclusivamente composta pelo mesmo modelo de vestido -, criada de acordo com o estilo de cada garota e inspirada nos anos 20 e 30.

"Se estamos falando do corpo como prisão do desejo, a roupa funciona como chave de libertação", disse Fraga no início do desfile, com as luzes do teatro completamente apagadas. A justificativa para escolher justamente o vestido para apresentar a nova coleção é porque o momento de liberdade de uma transexual ocorre, justamente, quando ela decide usar, pela primeira vez, esta peça de roupa.

Ainda no discurso inicial, Fraga relembrou que o Brasil carrega o fardo de ser o país que mais se mata travestis e transexuais no mundo. "São dizimados", emocionou-se. E, para tentar combater esses tristes números, o estilista convidou mulheres transgêneras que nunca foram modelos profissionais para apresentar as peças desenhadas por ele.

Ao fim do desfile, Fraga falou ao Correio sobre a importância desse tipo de ação para a sociedade. O estilista ainda rebateu possíveis críticas de que as peças apresentadas hoje teriam de ser adaptadas para serem comercializadas. "O mais difícil da moda é entender o tempo em que se vive. O que fizemos vai virar conversa no café da mahã das famílias", afirma.



Participante do desfile, a transexual Isabella Pascolatto comemorou o sucesso do desfile. Segundo a modelo, assim que ela fez a troca de sexo, há 3 anos, as oportunidades do mercado de trabalho diminuíram, mas com a representatividade apresentada nas passarelas de hoje, a tendência é de que haja uma maior abertura e, consequentemente, mais oportunidades para os transexuais. "Mesmo se eu não desfilasse, já ficaria feliz em saber que houve um casting só de transexuais", celebrou.