Revista

Estilista Ronaldo Fraga apresenta modelos transexuais de vestido na SPFW

"Se estamos falando do corpo como prisão do desejo, a roupa funciona como chave de libertação", disse Fraga no início da mostra

Ailim Cabral
postado em 26/10/2016 18:05
Convite do desfile

O estilista Ronaldo Fraga cumpriu a função social da moda. Em mais um desfile da São Paulo Fashion Week, nesta quarta-feira (26/10), no Teatro São Pedro, 28 modelos transexuais subiram à passarela para mostrar uma coleção - exclusivamente composta pelo mesmo modelo de vestido -, criada de acordo com o estilo de cada garota e inspirada nos anos 20 e 30.

"Se estamos falando do corpo como prisão do desejo, a roupa funciona como chave de libertação", disse Fraga no início do desfile, com as luzes do teatro completamente apagadas. A justificativa para escolher justamente o vestido para apresentar a nova coleção é porque o momento de liberdade de uma transexual ocorre, justamente, quando ela decide usar, pela primeira vez, esta peça de roupa.

Ainda no discurso inicial, Fraga relembrou que o Brasil carrega o fardo de ser o país que mais se mata travestis e transexuais no mundo. "São dizimados", emocionou-se. E, para tentar combater esses tristes números, o estilista convidou mulheres transgêneras que nunca foram modelos profissionais para apresentar as peças desenhadas por ele.

Ao fim do desfile, Fraga falou ao Correio sobre a importância desse tipo de ação para a sociedade. O estilista ainda rebateu possíveis críticas de que as peças apresentadas hoje teriam de ser adaptadas para serem comercializadas. "O mais difícil da moda é entender o tempo em que se vive. O que fizemos vai virar conversa no café da mahã das famílias", afirma.

Modelo Isabella Pascolatto comemorou o sucesso do desfile:

Participante do desfile, a transexual Isabella Pascolatto comemorou o sucesso do desfile. Segundo a modelo, assim que ela fez a troca de sexo, há 3 anos, as oportunidades do mercado de trabalho diminuíram, mas com a representatividade apresentada nas passarelas de hoje, a tendência é de que haja uma maior abertura e, consequentemente, mais oportunidades para os transexuais. "Mesmo se eu não desfilasse, já ficaria feliz em saber que houve um casting só de transexuais", celebrou.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação