Em algum momento da infância, os indivíduos começam a ter noção da própria aparência e passam a fazer escolhas sobre o vestuário. "O grande problema está na hipersensualização vivida hoje por nossas crianças, e que pode se tornar perigosa", pondera a psicóloga infantojuvenil Etiene Machado, 36 anos. Ela explica que a preocupação da criança com a moda é uma construção da cultura em que vivemos. Para os pais, o foco não deve ser a moda em si, mas o progresso da autonomia da criança. Durante esse progresso, é importante que ela se sinta bem com o que usa, pois isso faz parte da construção da identidade.
Etiene observa que esse momento não tem sido respeitado. "Em lugar da descoberta de gostos e preferências, temos hoje uma exposição ao universo adulto um pouco antes da hora". A psicóloga descreve a relação da moda com a infância como contraditória: ao mesmo tempo em que a infância é valorizada, símbolos adultos são apresentados às crianças de forma muito atrativa. Como resultado, as crianças tentam responder a esses estímulos, expressando essa preocupação na indumentária e no jeito de ser. Uma oferta variada de produtos (maquiagem, roupa e acessórios) ajuda a catalisar esse comportamento.
Mais do que os meninos, as meninas se preocupam, desde muito pequenas, com a cor dos cabelos, com o penteado, com o estilo dos ícones do momento. Vale ressaltar que essas referências são construções e modelos que, nós adultos, colocamos à disposição das crianças. "Já o autocuidado precisa ser sempre encorajado. Cuidados com o corpo, sentir-se bem com o que veste, respeitar a cor da pele e respeitar os cabelos... Comportamentos e escolhas que vão ferir esse autocuidado não devem ser estimulados", ressalta a psicóloga Etiene Machado. Em certa medida, essa escolha da roupa é também um treino de papéis sociais. Por isso, tampouco deve ser negligenciada.