Por Ricardo Teixeira*
Não tem festa ou época do ano em que o clima de paquera seja maior que no carnaval. Atrás do trio elétrico e nos salões a folia no carnaval tem uma combinação de fatores que estimulam a sexualidade humana. E é claro que o cérebro é o maestro dessa experiência.
Corpos mais expostos e suados, além do estímulo visual, podem influenciar o cérebro através dos feromônios. Na maioria dos mamíferos, os níveis hormonais são influenciados por sinais químicos externos, que são esses tais feromônios.
Uma das evidências de que esse sistema também atua na espécie humana é a de que a convivência entre mulheres está associada a uma sincronia de seus ciclos menstruais, fato observado também em roedores. Ainda existe muito debate se esse é um sistema relevante para os humanos, mas recentes estudos têm confirmado que nossos níveis hormonais podem ser influenciados pelos odores das pessoas ao nosso redor. O candidato a feromônio humano mais estudado até o momento é o hormônio androstadienona, presente na saliva, sêmen e suor dos homens.
A androstadienona é capaz de influenciar o humor, nível de alerta e atividade cerebral, tanto nas mulheres, como nos homens com orientação homossexual. Uma recente pesquisa revelou que mulheres que cheiravam a androstadienona tiveram seus níveis de hormônio corticóide elevados após 15 minutos e com duração de até 60 minutos. Pode-se até supor que esse aumento nos níveis de corticóide poderia dar mais energia para os foliões, mas isso é só especulação. Há evidências também de que os feromônios podem anunciar a presença de parentes e comunicar estados de ânimo como o estresse e o medo.
Se, por um lado, os feromonios humanos ainda são um tema polêmico, por outro, conhecemos bem o papel dos neurotransmissores no fenômeno da atração sexual. As regiões cerebrais ativadas são muito parecidas com aquelas envolvidas ao nos deliciarmos com um alimento saboroso como um chocolate ; o sistema de recompensa cerebral. Os principais combustíveis dessas reações são a dopamina, ocitocina e vasopressina. Além das regiões do cérebro que ficam mais ativadas, sabemos também que outras áreas se ;apagam;, e essas são regiões vinculadas à função do medo (amígdala) e regiões associadas à nossa crítica, juízo de valores, nosso ;superego; (ex: lobo frontal). Vale lembrar que o álcool também apaga essas áreas, deixando o cérebro mais valente, o que, para muitas pessoas, é um combustível necessário para ;chegar junto; na hora da paquera. Entretanto, o álcool também está associado a um comportamento de sexo sem proteção.
Aqueles que estiverem livres para a paquera no carnaval podem abusar da dopamina e dos feromonios, mas a bebida é melhor consumir com moderação.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília e professor de pós-graduação em divulgação científica e cultural na Unicamp.