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Matemática não é mais difícil para as meninas

Um estudo recém-publicado por pesquisadores da Universidade da Florida no periódico Frontiers in Psychology mostrou, mais uma vez, que meninas são tão boas em matemática quanto os meninos

postado em 09/04/2017 08:00
Um estudo recém-publicado por pesquisadores da Universidade da Florida no periódico Frontiers in Psychology mostrou, mais uma vez, que meninas são tão boas em matemática quanto os meninos
Por Ricardo Teixeira*

A novidade é que eles se autoavaliam melhor. Os meninos acreditam que têm mais habilidade, 27% a mais do que as meninas. Efeito cultural? Sabemos que as mulheres têm mais tendência ao perfeccionismo enquanto os homens são incitados desde cedo a enfrentar desafios.
Os alunos estudados nessa pesquisa estavam no fim do ensino médio, época decisiva na escolha do curso superior. Essa menor confiança das meninas pode explicar em parte o menor numero de mulheres em profissões como engenharia, ciência e tecnologia.
Em 2015, outra pesquisa publicada pela revista Science avaliou 1800 pesquisadores e estudantes de graduação, de 30 diferentes disciplinas. Entre outras perguntas, eles tinham que responder quais qualidades julgavam importantes para alcançar o sucesso em seus ramos. As áreas em que os entrevistados julgavam que o brilhantismo era fundamental foram também as menos representadas por mulheres. Essa crença leva as mulheres a inconscientemente se afastar desses campos do conhecimento. Pode também levar à discriminação em exames de seleção.
É bom lembrar que não há qualquer evidência científica de que os homens são mais brilhantes que as mulheres. Testes de inteligência têm mostrado que as pessoas têm apresentado melhor desempenho de geração em geração, fenômeno intrigante conhecido por efeito Flynn. Nosso QI tem mais chance de ser maior que dos nossos pais enquanto o dos nossos filhos será maior que os nossos. James Flynn, o pesquisador que inspirou o termo por ter sido o primeiro a demonstrá-lo na década de 1980, revelou recentemente que sua última pesquisa apontou, pela primeira vez, que as mulheres não deixam nada a dever aos homens nos escores de QI. A amostragem da pesquisa envolveu voluntários da Austrália, da Nova Zelândia, da Estônia, da África do Sul e da Argentina.
De acordo com Flynn, o resultado pode ser explicado pelo maior acesso das mulheres a educação e trabalho, entre outras oportunidades de estímulo cognitivo do mundo moderno. Será que elas vão ultrapassar os homens nas próximas décadas?
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília e professor de pós-graduação em divulgação científica e cultural na Unicamp.

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