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O espaço verde faz mesmo diferença para nosso cérebro

Alguns estudos têm apontado efeitos positivos do "efeito natureza" sobre algumas funções cognitivas como, por exemplo, atenção, memória e linguagem

postado em 17/04/2017 08:00
Duas jovens observam uma cachoeira na Chapada dos Veadeiros
Por Ricardo Teixeira*

Temos evidências de que uma experiência de quatro dias de imersão na natureza, longe de bytes e pixels, é capaz de aumentar nossa capacidade criativa.
Pesquisadores escoceses e ingleses têm demonstrado nos últimos anos que, mesmo dentro da cidade, o contato com o verde pode trazer benefícios ao cérebro. Voluntários caminharam pela cidade de Edimburgo com um aparelho de eletrencefalograma portátil. Quando passaram por ruas comerciais agitadas, o cérebro se mostrou bastante excitado, o contrário do que aconteceu em um parque da cidade, quando as ondas cerebrais ficaram mais ;meditativas;. Sabemos também que pessoas que moram próximas a árvores e parques têm níveis menores do hormônio do estresse cortisol quando comparadas às que vivem cercadas de concreto por todos os lados.
Na semana passada, pesquisadores das Universidades de York e Edimburgo mostraram que idosos que caminhavam em espaços da cidade em que o verde estava bem presente, intercalado pela ;floresta de concreto;, apresentaram uma atividade cerebral mais modulada e maiores manifestações de bem-estar quando se comparava a espaços com pouco verde.
Já é bem reconhecido que as pessoas que vivem nas grandes cidades têm maior risco de apresentar transtornos mentais. Através de ressonância magnética funcional, foi demonstrado que o cérebro de quem mora no campo reage de forma diferente a estímulos de estresse do que o de moradores da cidade. Isso rendeu até a capa da prestigiada Nature.
O local onde moramos pode mesmo influenciar nossa saúde, não só a saúde mental. Sabemos que morar à beira de rodovias aumenta o risco de doenças cardiovasculares devido à poluição do ar e quanto maior o número de restaurantes ;fast food; na vizinhança, maior o risco de infarto agudo do coração e derrame cerebral. O risco de diabetes é menor em comunidades que têm na vizinhança boas opções para realização de atividade física, além de comércio com oferta de produtos alimentícios saudáveis. Isso sem falar no trânsito.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília e professor de pós-graduação em divulgação científica e cultural na Unicamp.

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