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Doutora em jornalismo faz sucesso com trabalho gastronômico

Em um restaurante que reproduz típicos pratos espanhóis, chef mata a saudade dos 15 anos em que viveu em Barcelona e delicia o brasiliense

Sibele Negromonte
postado em 20/08/2017 08:00
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Quando Simone Garcia vendeu o Fusca amarelo, juntou as economias e seguiu para cursar o doutorado em Barcelona, ela não imaginava que a estada de quatro anos em terras espanholas, tempo de duração da pós-graduação, se estenderia por 15 anos. Era 1990 e a jornalista tinha como objetivo, à época, seguir uma carreira acadêmica e se aperfeiçoar na profissão.

Com o dinheiro curto, passou a se virar para reforçar o orçamento. Deu aulas de português, atuou como tradutora, mas, com o curso exigindo cada vez mais a permanência na universidade, começou a fazer bicos à noite ; único horário disponível. Foi trabalhar, então, em bares e restaurantes. ;No início, recolhia os pratos da mesa. Depois, fui garçonete, gerente de salão, até que, um dia, uma cozinheira precisou se afastar para ter bebê e eu fui ser ajudante de cozinha. Cortava cebola, mas estava sempre de olho no que os chefs preparavam;, recorda-se.
Chef Simone apoiada a um balcão de seu restaurante. Simone terminou o doutorado e conseguiu um bom emprego em uma editora. Mas o bichinho da culinária parecia ter picado de vez a ;doutora;. Com uma situação financeira mais equilibrada, passou a fazer cursos pontuais de gastronomia e a frequentar bons restaurantes. As viagens pela Europa e, principalmente, pelas várias regiões da Espanha transformavam-se em experiências gastronômicas.

Cozinhar se tornou o principal hobby de Simone. Ela frequentava feiras, comprava frutos do mar fresquinhos e preparava almoços e jantares para os amigos. ;A relação dos espanhóis com a gastronomia é algo muito forte, é assunto sério. Por lá, até os mais jovens, antes da balada, costumam sair para jantar. Tudo gira em torno da mesa.;

No fim de 2004, Simone encerrou a temporada em terras espanholas e voltou para o Brasil. Primeiro, morou em Santa Catarina, sua terra natal, depois, mudou-se para Brasília, a trabalho. O tempo foi passando e o amor pelas panelas continuava ali, latente. Até que a saudade da Espanha ; e da cozinha mediterrânea ; apertou.

Em março de 2015, Simone encerrou um ciclo na EBC e decidiu visitar uma amiga no México para pôr as ideias no lugar e decidir quais seriam os próximos passos profissionais. A gastronomia estava entre as opções. Em uma caminhada pela quadra onde morava, Simone deu de cara com uma loja com a placa de aluga-se. ;Quando me deparei com o lugar, percebi que ali seria o meu restaurante.; Ela correu para alugar o espaço, mesmo sem ter nenhum projeto em mãos. Daí veio a certeza de que os ;astros; estavam a seu favor: a dona da loja era espanhola.

Simone, então, arregaçou as mangas. Contratou uma arquiteta e, paralelamente, começou a elaborar o cardápio. ;Ao responder à pergunta da arquiteta de quem seria o meu público, logo pensei no Javier Bardem, de bermuda e sandália, deliciando-se com umas tapas aqui na Asa Norte;, diverte-se.

Em dezembro de 2015, Simone inaugurava o Jamón Jamón. ;Foi a saudade da Espanha que me fez abrir o restaurante.; No enxuto cardápio, o carro-chefe são as famosas tapas ; aperitivos que, mais que um alimento, são uma tradição secular entre os espanhóis. ;Lá, as pessoas costumam ir de tapas. Ou seja, grupos de amigos se reúnem para saborear e, sobretudo, compartilhar os aperitivos. É comum, inclusive, eles saírem de bar em bar.;

Simone garante que não fez adaptações no tempero para agradar o paladar brasileiro. No Jamón Jamón, você comerá a típica comida espanhola. O restaurante só abre à noite, com exceção das sextas e sábados, quando Simone prepara, para o almoço, paella.

Passado o primeiro ano de funcionamento, Simone estuda, aos poucos, algumas mudanças. Ela acaba de acrescentar ao cardápio, por exemplo, uma trilogia de minihambúrgueres. O carrinho com drinques também é um sucesso entre os clientes. A aceitação, segundo ela, tem sido muito boa, e a casa tem atraído um público bastante eclético. Javier Bardem ainda não apareceu por lá, mas Simone não perde as esperanças.

Serviço

Jamón Jamón Tapas y Copas

SCLN 109, Bloco D
Funciona de terça a quinta-feira, das 18h às 23h, e sextas e sábados, das 12h às 15h30 e das 18h às 23h30
Tigela de Crema Catalana.

Crema Catalana
(Para 4 pessoas)

Ingredientes
l 250ml de leite integral
l 60ml de nata líquida
l 3 ovos
l 2 tiras de casca de laranja
l 1 pau de canela
l 45g de açúcar refinado %2b açúcar para finalizar
l 1/2 fava de baunilha ou 1/2 colher de sopa de essência
l 10g de amido de milho

Modo de fazer
Coloque para ferver o leite, a nata líquida, a canela, a e a baunilha. Em um bowl, misture os ovos inteiros, o amido de milho e o açúcar. Em seguida, verta o leite quente sobre a mistura de ovos ; ao verter, use uma peneira para separar as especiarias. Leve a mistura ao fogo lento, mexendo sem parar, durante aproximadamente 10 minutos. Coloque a crema em um recipiente adequado ; é recomendado deixar uma superfície maior e pouca profundidade. Use um ramequim baixinho com um bom diâmetro. Leve o creme à geladeira ou deixe em temperatura ambiente. No momento de servir, espalhe um pouco de açúcar refinado na superfície e use um maçarico para queimar o açúcar. Verá que se formará uma fina telha doce na superfície. O gostoso é sentir o contraste entre as temperaturas do creme e do açúcar queimado.



Marinada de frutos do mar.

Marinada de frutos do mar
(Para 4 pessoas)

Ingredientes
l 150g de camarão descascado
l 150g de mexilhão cozido sem concha
l 150de lula cortada em rodelas finas
l 100g de pimentão vermelho
l 100g de cebola
l 50g de pimentão verde
l Pimentón picante (páprica picante)
l 400ml de azeite de oliva virgem de boa qualidade
l Vinagre de vinho ou de Jerez
l Sal

Modo de fazer
O processo é rápido, e é necessário deixar toda a mise en place dos temperos preparada. Corte os pimentões e a cebola em pequenos cubinhos (brunoise) ; quanto menor, melhor ; e deixe reservado. Corte a lula em aros finos, limpe bem o mexilhão, retirando aquelas fibras de algas que, eventualmente, encontre e separe o camarão. Verta um fio de azeite de oliva virgem em uma frigideira grande e de fundo grosso e deixe esquentar bem. Nela, você vai saltear, separadamente, a lula e o camarão, sempre em fogo alto para evitar que fervam. Controle a textura para que não passe do ponto. Lembre que esses frutos do mar finalizarão seu cozimento na marinada de vinagre e azeite em que ficarão mergulhados. Se comprar mexilhão com concha, cozinhe-os com pouca água, em uma panela com tampa, retire-os da casca e reserve. Se forem congelados sem casca (já cozidos), deixe-os descongelar na geladeira e retire-os no momento de montar a marinada.

Montagem
Em um bowl grande, junte os frutos do mar e os temperos. Coloque uma pitada de páprica picante (a ponta de uma colher de chá) e sal a gosto, aos poucos e provando sempre. Faça o mesmo com o vinagre. Por último, adicione o azeite. Misture tudo, prove e ajuste, se necessário, o tempero de acordo com seu paladar. A marinada deve ter a acidez do vinagre, mas deve ser suave, ressaltando o sabor dos frutos do mar. Cubra o bowl e coloque-o na geladeira. O ideal é deixar a marinada repousar por dous ou três horas, para que os sabores se integrem. Sirva com fatias de uma boa baguete levemente tostadas e quentinhas.

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