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Handmade: Peças fora do óbvio e feitas a mão pedem atenção e cuidado

Com produtos feitos à mão, marcas comandadas por estilistas e empresários da cidade fogem da estética vintage e apostam em um design moderno. Criatividade e ligação com a atmosfera moderna de Brasília pautam as peças dos novos artesãos da capital

Rebeca Oliveira
postado em 20/08/2017 08:00
Peças feitas à mão pedem atenção plena de quem as confecciona. São uma retomada à ação humana e à fabricação individualizada. Andam na contramão de grandes indústrias dos centros urbanos, sedentas por lucratividade. Pessoais e únicas, exigem um ritmo mais lento, como tudo que é orgânico e natural. Roupas, acessórios, óculos. Para quem produz itens artesanalmente, o trabalho funciona quase como um refúgio. O processo de descobrimento pessoal vai além da necessidade de rentabilizar ou de expandir negócios.
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;Fazemos os moldes, cortamos, costuramos;, orgulha-se Marcela Torres, da Bruma. Amiga da natureza, a marca brasiliense de vestuário não terceiriza mão de obra. As camisetas e camisas são feitas uma a uma. ;Sem dúvida, isso deixa um pouco de nós nas roupas. Entra, inclusive, em uma questão de transmissão energética, algo mais subjetivo;, filosofa Bruno Pinheiro, parceiro de Marcela na empreitada.

É impossível separar o feito à mão da cultura econômica sustentável. ;Torcemos para viver o dia em que o ecológico não vai ser um diferencial, mas uma obrigação;, defende Marcela. A Bruma usa tecidos que combinam algodão ecológico reaproveitado do descarte de indústrias têxteis com garrafas pet.

Essa postura aparece em diferentes aspectos de grifes locais. Inaugurada há um ano, a marca de óculos Rever surge como exemplo. A empresa trabalha exclusivamente com acetato italiano, mais durável, leve e maleável, e com grande parte das etapas de criação manuais. Isso evita desperdícios e gera menos resíduos industriais. ;Faz parte de quem nós somos e da nossa identidade pensar nos detalhes. Na briga entre qualidade e quantidade, focamos sempre no primeiro ponto. Não queremos vender números astronômicos;, assegura Brice Filiatre, da Rever.

Para quem ainda não entende o valor agregado, Gustavo Halfeld, cofundador da Quero Melancia, conta como diferenciar a peça feita à mão daquela produzida em larga escala: ;Nenhuma roupa fica com a estampa exatamente no mesmo lugar da outra, por exemplo. Temos um cuidado e um carinho muito grande em cada etapa.; No final, explica, as peças adquirem um design mais orgânico, menos padronizado, como ocorre nas produções em larga escala. ;Do ponto de vista do preço, acabamos tendo um custo por peça mais elevado, pois a produção é relativamente pequena e cuidadosa.;

O design com pegada mais contemporânea tem, diretamente, influência da cidade modernista onde esses profissionais vivem. ;O brasiliense ficou mais apaixonado pela capital de uns tempos para cá. Existe aquele preconceito de ser a sede do governo, muita gente vinculava a política com a cidade. Estamos um pouco mais bairristas, no bom sentido, de querer valorizar e de produzir itens com a cara da capital;, avalia Thaís Fread, que comanda uma marca de acessórios homônima desde 2012.

Uma nova visão

A relação de Brice Filiatre com o segmento ótico é antiga. A família é dona de uma fábrica instalada no SIA. Por lá, são confeccionados modelos para várias marcas do Distrito Federal. Engenheiro civil, o brasiliense Gustavo Fabrino desenvolvia negócios no setor na Alemanha quando, ao retornar ao país, foi ;mordido; pela mesma paixão de Brice. No início de 2015, a dupla começou a fazer estudos do que veio a se tornar a Rever, no ano seguinte. ;Nossa preocupação era atender diferentes rostos e biotipos, de acordo com a diversidade do nosso país;, explica Brice Filiatre.
Brice Filiatre e Gustavo Fabrino, sócios da Rever, empresa especializada em óculos com matéria-prima italiana: confecção manual resulta em mais conforto e durabilidade

Em um mercado dominado por gigantes do varejo mundial, a marca de óculos caminha em sentido contrário. As peças são feitas em pequena escala. O desenho é manual e concluído com o auxílio de softwares específicos. Mais artesanal, o processo é conhecido como fresado.

A estrutura do óculos começa a partir de chapas de acetato importadas da Itália. Mais maleável, leve e flexível, a matéria-prima permite maiores ajustes. ;Os óculos precisam ter uma ergonomia e se adaptar ao rosto do cliente;, conta Brice. Uma das maiores preocupações é o conforto. ;Em função dessas características, a durabilidade da peça é grande. Chega a décadas!”, garante o sócio, Gustavo.

As chapas de acetato são cortadas apenas nos tamanhos em que serão usadas. Isso evita desperdícios ; filosofia sustentável que a Rever defende desde fundada. O corte inicial (fresar) é apenas a primeira parte de muitas etapas, como a colagem, o acabamento e o polimento. O último é feito individualmente, sem o uso de verniz. Ou seja, os óculos não descascam.

A indústria, em geral, usa outro método, o injetado, em que o acetato é submetido a altas temperaturas e colocado dentro de um molde plástico. A produção, nesse caso, é em larga escala e pouco personalizada. ;Sempre acreditamos em fazer a diferença. Em Brasília, há uma grande oferta de grifes conhecidas, mas nossa proposta causou impacto pelo que tem de novo na identidade;, destaca Brice Filiatre.

Essa sequência de cuidados não acaba na fábrica. Continua na loja. Com um plano de negócios metódico e milimetricamente planejado, ambos focaram nos detalhes como um fator surpresa para o público. Até o projeto arquitetônico da loja, na 309 Sul, foi desenhado por eles.

A evolução em termos de design e parcerias é constante. Uma delas, mais recente, foi firmada com o design de mobiliário Danilo Vale. Celebração a Brasília, os itens são batizados com nomes que remetem à história da capital, como o visionário Dom Bosco. Ao todo, a Rever tem 22 modelos. As armações da Rever custam a partir de R$ 368.
Rever , 309 Sul, Bloco A, loja 5, 3536-3866. Aberto de segunda a sexta, das 9h às 19h, e sábado, das 9h às 18h

A praia é para todos

Estampas florais, cores alegres e modelagem cortininha. Esqueça o imaginário comum. Nada disso pontua os biquínis, maiôs, bodies e até peças de vestuário da Helmet Clothing, marca criada em Brasília, há cinco anos, pela publicitária Daniela Pesce e a estilista Paula Francisco. Ousadia é a palavra certeira para definir os valores da empresa de viés alternativo. A começar por propor moda praia em uma cidade que não é litorânea. ;Pouca gente sabe, mas o segundo lugar em que mais se vende biquíni no Brasil é Brasília. As pessoas compram aqui e usam em outros estados, no Lago Paranoá, em clubes, na Chapada dos Veadeiros;, exemplifica Daniela.

No método de fabricação, a Helmet evoca os tempos da vovó, com corte manual e costura finalizada na máquina. Na estética, a onda é outra. Tons mais escuros e temas soturnos dominam o leiaute. As estampas não são literais. Lembram constelações e estrelas, em uma nítida ligação com a astrologia. Mas não só. A fabricação é manual e elas aproveitam todas as partes do tecido. O que não serve (geralmente, recortes de 5cm x 5cm) é doado a cooperativas especializadas em reaproveitamento.

Dessa maneira, cerca de 100 itens são fabricados todos os meses. ;Percebemos que a sociedade está aderindo ao consumo feito à mão, muito mais consciente. Queremos ir contra o descartável. Quero que o cliente tenha um produto que dure o máximo possível, tanto em termos de estética quanto de qualidade. E não estamos sozinhas. Esse nicho não para de crescer. Vemos muitas pessoas selecionando a marca que compram por esses ideais;, pondera Daniela.

Hot pants e maiôs podem transitar do dia para a noite em um interessante jogo de sobreposições. A demanda levou a marca a desenvolver também roupas para dias mais frios, caso dos moletons. As peças vão de R$ 50 (cada uma das peças do biquíni: top ou calcinha) a R$ 250 (body ou moletom).
Helmet Clothing. Venda on-line pelo site www.helmetclothing.com.br ou pelo WhatsApp 98165-9495

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