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Kempô indiano é uma atividade física inspirada nos movimento dos animais

Inspirado nos movimentos instintivos dos animais, o kempô indiano prepara a mente e o corpo para enfrentar as tensões do dia a dia

André Baioff*
postado em 15/10/2017 08:00
Com as intensas pressões do dia a dia, o ser humano sente uma necessidade crescente de aliviar tensões por meio de práticas terapêuticas e exercícios físicos, para manter a saúde em equilíbrio. Os animais, por sua vez, sempre estão atentos: usam os sentidos, instintos e movimentos para permanecer alerta contra os perigos iminentes, como parte de suas táticas de sobrevivência.

Os movimentos que eles realizam no seu habitat são desenvolvidos no kempô indiano, um conjunto de técnicas corporais inspiradas na estratégia de sobrevivência do mundo animal, e na natureza. Os exercícios corporais trabalham o equilíbrio, a postura, a mente, fortalece os músculos e são também muito usados na preparação de dançarinos e atores.

O kempô surgiu na tribo Kastria, do Sul da Índia, há 7 mil anos, com o nome original de vajra mushti. Vajra significa trovão, ou a força que liga o céu à terra. E mushti, a consciência profunda. A tribo utilizava os métodos de imitar animais para invadir e atacar grupos rivais. Os movimentos eram, então, vistos como uma espécie de luta marcial. Como surtiam efeito no combate ao inimigo, as técnicas corporais acabaram passando de geração para geração.

Em viagem pelo mundo, no fim da década de 1960, um grupo de monges aproveitou a passagem pela América do Sul para compartilhar os conhecimentos sobre o kempô indiano. Em terras brasileiras, ancoraram no Rio de Janeiro. E uma das pessoas que estavam lá para encontrá-los era Jô Azer, mestre do músico, professor de dança negra contemporânea, terapeuta prânico e instrutor de kempô Júlio César Pereira, 56 anos.

;O mestre Jô Azer manteve a técnica dos monges, ou seja, não quis modificar nada para adaptar aqui;, detalha o instrutor da técnica corporal de kempô indiano em Brasília. Natural de São Paulo, Júlio veio para a capital federal na década de 1990 e, desde então, realiza cursos e workshops na cidade.

Postura consciente

Embora o kempô pareça luta, diz Júlio, a técnica vai muito além: é uma superação de obstáculos físicos e psicológicos e trabalha com o instinto de preservação. ;As técnicas buscam estimular o instintivo, o racional e o intuitivo, para que se possa ter postura consciente e alerta nas diversas situações da vida. Os exercícios não são feitos de maneira mecânica, como a ginástica, por exemplo;, explica.

Tudo começa com os alunos dispostos em círculos, que servem como uma espécie de ponte para a atividade. Depois, vêm os alongamentos. De olhos fechados, os participantes são orientados a focar toda a energia na barriga. Então, eles se abaixam, com os pés e as mãos no chão, movimentando os quadris e os ombros. Essa posição imita o tigre.

Em seguida, ao se levantar, precisam encontrar um eixo e se manter de olhos fechados. O objetivo é que a coluna seja o eixo central no espaço. O espaço, nesse caso, é uma expressão filosófica na qual se baseia o kempô. ;Isso quer dizer que o grande adversário não se encontra em outras coisas e pessoas, ou seja, não está do lado de fora, e sim, dentro de nós mesmos. Por isso, é preciso conhecer o eu interior para poder vencer o medo;, ensina Júlio.
Alger (no meio) faz os exercícios há um ano: %u201CSaímos  alegres e com a postura melhor%u201D
No kempô, o aluno tem contato direto com a natureza ; o que mais interessa ao funcionário público e professor de ioga e bambu-do Alger Carriconde, 51 anos. Ele pratica o kempô indiano há um ano e conta que o mais interessante é o desafio que a natureza propicia. ;Subimos em árvores, por exemplo, para elaborar as técnicas. Nisso, em vez de ficármos exaustos, como na musculação, saímos mais alegres, com mais vitalidade;, garante.

Alger ressalta que muitas pessoas procuram atividades físicas por estética e o kempô passa por cima dessa questão. Segundo ele, é um trabalho não convencional. Reúne força, resistência, e a prática está muito ligada ao ar livre. ;É como uma luta marcial. Melhora a postura e previne uma série de problemas. Trabalha com o próprio corpo de maneira integral, não apenas em áreas específicas;, complementa.

Respiração controlada

Assim como Alger, o produtor de eventos Rafael Justus, 50 anos, apaixonou-se pelo kempô. Praticante assíduo de esportes como corrida de rua, ciclismo e natação, ele conta que queria complementar com outro tipo de exercício. Na busca, há 10 anos, conheceu a modalidade durante um evento esportivo. Desde então, pratica duas vezes por semana, e lista os benefícios.

;O kempô fortalece toda a musculatura corporal, gera equilíbrio, flexibilidade e desliga a mente, por trabalhar movimentos inusuais;, explica Rafael. Ele diz que os exercícios envolvem tensão muscular e relaxamento, e são abordados de forma lúdica e com uma ligação excessiva com a natureza. A modalidade não tem restrições. Mas é sempre importante o praticante respeitar seus próprios limites, ele esclarece.

No kempô, assim como na ioga e nos exercícios alternativos, uma das principais vantagens é o controle e o treinamento da respiração. De acordo com o coordenador do curso de educação física do IESB e vice-presidente do Conselho Regional de Educação Física do DF, Sérgio Avelino da Silva, em todos os exercícios e atividades físicas, o organismo precisa de oxigenação, principalmente a musculatura.

Ele ressalta que as práticas mais alternativas, como ioga, pilates e o kempô indiano são muito importantes nesse sentido. E chama a atenção para o controle médico. ;Vale enfatizar que todas as práticas esportivas devem ter exames preventivos de saúde. Não é uma obrigatoriedade, e sim uma responsabilidade pessoal de cada um;, destaca Sérgio Avelino.

Bichos que voam

Diferentemente dos exercícios das ginásticas convencionais, o kempô indiano é uma técnica corporal que busca estimular os sentidos intuitivos de observação e de percepção, para aprimorar a postura consciente e de atenção constante das pessoas.
  • As técnicas iniciais se baseiam nos movimentos de animais rastejantes, como cobras, lagartos e até mesmo aranhas. A proposta é que os participantes se familiarizem com o solo.
  • Depois, é a vez de movimentos que remetem a animais quadrúpedes, como gatos, tigres, leopardos e macacos.
  • E, por fim, os movimentos reproduzem os bichos que voam.
* Estagiário sob supervisão de Valéria de Velasco

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