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Estilistas homens também ganham espaço no mundo fashion

Em um universo predominado pelo feminino, estilistas homens brilham no cenário da moda

Rachel Sabino *
postado em 19/11/2017 07:00
Em um cenário em que as mulheres predominantemente estão à frente das direções criativas de marcas brasileiras, poucos estilistas ainda se mantêm no ramo da moda, mesclando o tradicional e o inovador nas criações. Conheça alguns desses nomes, como Valdemar Iódice, Ricardo Almeida e João Foltran.

Da criação ao chão da fábrica

Desde a infância, quando observava a mãe fazer moldes de roupas, Valdemar Iódice começou a treinar a sensibilidade e o olhar para a moda. A paixão pela área e a descendência italiana ; que, segundo o estilista, é responsável pelo seu bom gosto ; são resultado de uma carreira sólida e de sucesso, que já dura 30 anos.

À frente da criação e dos negócios, o estilista ainda vai diariamente à fábrica da marca, em São Paulo. ;Eu vejo que a Iódice é uma criança que ainda está caminhando. Por isso, continuo sempre presente.; Ele confessa que tem trabalhado até mais do que no início da marca.
Em um universo predominado pelo feminino, estilistas homens brilham no cenário da moda
A proximidade com os funcionários e com os processos de criação ajudaram Iódice a driblar a crise, em meados de 2010. Em direção contrária às dificuldades financeiras do país, a antiga confecção de Pinheiros se mudou para a Vila Leopoldina com quase o dobro de metros quadrados de espaço. O motivo? ;Contato com o desenvolvimento do produto. Eu centralizo o trabalho e estou próximo de todo o processo de produção. Isso faz total diferença;, acredita.

A presença da Iódice no calendário de moda também o ajudou a se firmar no mercado. Até hoje, Valdemar não abre mão dos desfiles. ;Passarela é diferente de showroom, é outra perspectiva. E a moda feminina pede isso. O processo de produção exige uma cartela de cor nova a cada estação. É mais emocionante, mostra o DNA da marca, reforça a identidade;, argumenta.

Nesse ritmo, em 27 de agosto, Iódice celebrou 30 anos de grife em um desfile luxuoso no Palácio Tangará, em São Paulo. Por meio de um tropicalismo ultrafeminino e sofisticado, ele reforçou a identidade da marca.Iódice fez pela primeira vez um desfile see now buy now ; conceito em que as peças ficam dispostas à venda logo após a apresentação.

O foco agora está na inovação e no futuro. Iódice sente que precisa fazer mais do que já fez. ;A marca é constante, ela não teve muitos altos e baixos. Vejo como uma ladeira subindo. Nessa subida, fomos alcançando patamares de posicionamento, de inovações. O que eu sinto, agora, é que não posso repetir.;


Criação sob medida

Doda Miranda, Gustavo Kuerten, Edson Celulari, Gabriel Medina e Neymar. Todos eles ; e outros tantos famosos ; têm em comum o fato de terem escolhido Ricardo Almeida para se vestir. Reconhecido como o mestre da alfaiataria, o estilista continua, ao longo de 34 anos de carreira, a inovar.

Dentro do segmento de luxo, Ricardo sempre prezou por tecidos de alta qualidade e exclusivos. Ao relembrar o início da carreira, o estilista dispara: ;Acreditei em fazer diferente. Queria importar tecidos para as marcas para quem trabalhava, e eles não toparam. Abri a importação em 1991;.
Em um universo predominado pelo feminino, estilistas homens brilham no cenário da moda
Aos 62 anos, a rotina de produção continua em ritmo constante ; ou até crescente. De moto, para não perder tempo no trânsito de São Paulo, Ricardo visita a fábrica do Bom Retiro todos os dias, às 6h30 da manhã. Atende a clientela, supervisiona os departamentos e vai a Bela Sintra para encontrar mais clientes ; que acabam virando amigos próximos, parceiros de pingue-pongue, sinuca e videogame.

Estes, que vão de celebridades a executivos, foram conquistados pela perfeição nas peças sob medida de Ricardo. Se preciso, é feito um braço maior que o outro, se o cliente o tiver ; caso de Gustavo Kuerten, o Guga. Afinal, o terno se adapta a quem veste, e não o contrário. ;O segredo para qualquer pessoa é o bom caimento, o modelo mais justo ao corpo;, ensina.

Fora das semanas de moda há 10 anos por opção, Ricardo tem exclusividade ao apresentar suas coleções em eventos privados, organizados por ele. Escolhe a dedo os convidados, promove jantares e, claro, diversão.

Quando decidiu abandonar a São Paulo Fashion Week, em 2007, Ricardo já previa o see now buy now. Queria proporcionar imediatismo aos consumidores e, a partir daí, começou a fazer os próprios desfiles. ;Não desconsidero a importância de semanas de moda, mas queria trabalhar minha marca de uma forma mais exclusiva, sem dividir passarela.;

No mês passado, ao lançar a coleção verão 2018 com novidade de tecidos ; a mistura suave e sofisticada de vicunha e cashmere aparece de forma singular nas peças ;, Ricardo anunciou a retomada da linha de alfaiataria feminina. Além disso, a expansão está entre as metas do estilista. Atualmente, a Ricardo Almeida possui 22 lojas ; 19 masculinas, três femininas e um outlet. Empreendedor, aposta em 30 estabelecimentos de alfaiataria masculina e 40 femininas até 2022. Uma coisa é certa: Brasília está no mapa.

O mestre dos jeans premium

Para João Foltran, moda é arte e forma de expressão. ;Tem a ver com desejo, com o momento que a pessoa está vivendo. Por meio dela, podemos criar coisas incríveis.; Tais criações se resumem à nova empreitada do estilista: a Motor Oil Denim, grife de jeans premium criada em apenas três meses e com espaço inaugurado na Oscar Freire, em São Paulo, em outubro.
Em um universo predominado pelo feminino, estilistas homens brilham no cenário da moda
Reconhecido inicialmente como fundador da John John Denim, marca que conquistou o público brasileiro e internacional pela originalidade do jeans, Foltran se arrisca agora em produzir jeans sustentáveis com acabamento personalizado e exclusivo. ;Tenho muita atração por peças customizadas e tinha o desejo de voltar a ter a minha marca premium. Todos em minha família têm o DNA da moda e resolvemos voltar ao mercado com um produto que trouxesse inovação em jeans.;

Ao receber a equipe da Revista no recém-inaugurado showroom, um terraço projetado por ele, Foltran explicou a nova fase pós-John John ; o estilista vendeu a marca para o grupo Restoque, em 2011. A Motor Oil utiliza tecido importado no acabamento das peças e não adere à água no processo de lavagem do jeans.

;É um procedimento 100% manual, um segredo para a indústria. Somos a única marca no Brasil a fazer isso.; Foltran garante que economiza cerca de 80 litros de água em uma saia e 150 litros em uma calça, por exemplo.

Outra novidade é o selvedge. ;Sabe o que eu fiz? Quando recebi o tecido na fábrica, desenrolei o pacote de cada um e dormi neles;, brinca o estilista. O episódio representa, para Foltran, a qualidade e o conforto da matéria-prima. Exclusivo da marca italiana Candiani no Brasil, ele faz o acabamento com o tecido italiano, o selvedge, por dentro e fora das peças.

Com 26 anos de experiência, os próximos passos de João Foltran já estão alinhados à paixão de continuar a empreendeer e a fazer jeans únicos. Caminhando e apresentando, orgulhosamente, o espaço inaugurado, ele garante vendas on-line para todo o Brasil e revendas locais em Brasília em breve.

* Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte

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