Camila Costa - Especial para o Correio
postado em 21/01/2018 07:00
Muito se fala sobre os treinamentos funcionais. De um tempo para cá, virou moda fazer atividades físicas mais dinâmicas, como uma fuga da velha e conhecida academia, fechada e cheia de aparelhos. A partir dessa necessidade de mudança, agachar, correr, pular, saltar, girar, puxar, ou seja, praticar com excelência os movimentos naturais do dia a dia, passaram a ser a fórmula para alcançar o corpo desejado.
O treinamento funcional, porém, vai além da beleza e se firma como mais do que um exercício. É um plano de qualidade de vida. O motivo é simples. Não dá para ficar sentindo dor ao agachar-se para pegar o filho no colo, ou desconforto no tornozelo não pode ser desculpa para cancelar aquela caminhada diária. E se a vontade e o prazer é correr atrás de um corpão, com foco no ganho de massa magra, isso também precisa ser feito com a segurança de que nada de errado acontecerá durante o percurso, como as tradicionais lesões em joelhos, ombros e lombares.
Há oito anos no ramo, a fisioterapeuta Hellen Goulart Martins Cacau, 36 anos, trabalha com a prevenção de lesões já no começo dos treinos, quando o aluno passa antes por um aquecimento, até chegar na parte de mobilidade e trabalho de articulações. Na sala, aparentemente pequena, mas bem equipada, treinam até nove pessoas ao mesmo tempo. Cerca de dois alunos por professor, o que torna a atividade personalizada.
;É um treino diferenciado, em que procuramos saber dos objetivos do aluno, mas sempre buscamos isso sabendo das limitações dele. Cerca de 80% do meu público têm uma dor na lombar, uma hérnia ou um problema no joelho. O funcional veio para trazer de volta a qualidade do dia a dia dessas pessoas. Um senhor que está comigo não quer emagrecer, ter bumbum na nuca, um bíceps largo. Ele quer apenas voltar a pegar no volante do carro e dirigir. Uma coisa simples, mas que ficou limitada após um AVC;, conta Hellen.
A funcionária pública aposentada Delma Ribeiro de Matos, 51 anos, treina, mas chegou ao funcional por um outro motivo: o sobrinho Fábio, 39. Com 1 ano de idade, Fabinho teve uma febre alta que ocasionou uma convulsão. Depois do episódio, as crises ficaram recorrentes. Resultado, um retardo mental. O rapaz não é totalmente incapacitante, mas precisa de cuidados, principalmente, com as taxas corporais e o peso.
;Ele está curvado, com a barriga saliente. Chegou a fazer natação, hidroginástica, mas não se adaptava aos exercícios. Descobrimos o treinamento funcional e ele se adaptou muito bem. Ele é introvertido, medroso, inseguro, mas lá se solta, extravasa a energia, e isso melhora a saúde dele;, comenta a tia.
Delma aproveitou para tratar um desgaste ósseo no quadril. A dor é antiga, começou há cerca de 10 anos, mas as consequências começaram a dar a cara agora. ;Sinto que está piorando, irradiando para a perna e a lombar. Depois de não ver melhora com outras atividades, o treino funcional foi o caminho ideal para fortalecer meu corpo. Antes, sentia dor só de ficar em pé. Quando andava muito, também doía. Estou com 51 anos e pensando no futuro, em envelhecer com mais qualidade de vida. Penso no amanhã, em viver bem, não em ficar com um corpo perfeito;, pondera Delma, que se exercita três vezes por semana, ao lado do sobrinho.
Com um propósito
O treinamento funcional é bastante focado no chamado core, o centro de força do corpo, a partir do cinturão de musculatura abdominal. Na sua origem, segue um padrão sequencial, segundo o professor de educação física Gustavo Schlottfeldt Brandão, 38. Primeiro trabalha a função do corpo, em seguida a parte muscular, para, só depois, chegar à estética. ;Estar com as funções do corpo em dia, saber o que pode e o que não pode é o maior foco;, explica Gustavo, que deixou uma carreira de 13 anos dentro das salas de musculação para se dedicar ao funcional.
Um dos principais mitos que Gustavo faz questão de esclarecer é a afirmação de que treinamento funcional é para velho e não é pesado, ou seja, não cansa e só é bom ser praticado se o aluno não puder fazer outra coisa. ;Ele nada mais é do que um treino com propósito. Quer pedalar ou correr? O seu corpo será preparado para fazer isso. O funcional deixará ele na melhor forma para que alcance o objetivo, porque se as funções do corpo não estiverem boas, não funciona;, frisa.
O aposentado Silvano Thees, 84, sabe bem disso. Após se desequilibrar ao descer de uma escada, quebrou o calcanhar. Segundo ele, na verdade, ;esfacelou; o osso do pé. Oito pinos, seis meses na cadeira de rodas e uma recuperação à base de treinamento funcional. ;Tentei a academia, mas tinha falta de equilíbrio, dificuldade de mobilidade. Graças ao exercício, consegui melhorar, caminhar. Hoje, faço todas as minhas coisas, vou ao supermercado e executo as outras demandas do dia a dia. Quero comemorar meus 100 anos em Paris;, festeja.
Quarenta e um anos mais jovem que Silvano, Fabianny Fernandes Simões Strauss, apesar da jovialidade, também deixou a estética para último plano. Ex-atleta de vôlei, a coach de carreira e alta performance sente no corpo os reflexos dos vários anos de esporte. Uma dorzinha no ombro, no joelho, no pulso. Nada limitante. Mesmo assim, Fabianny investe na prevenção. ;Quero a segurança de não ter lesão. Hoje, não me saboto mais. Quero conhecer meu corpo, meus limites, principalmente, porque quero pedalar e correr. Estou em busca do equilíbrio do core, como uma forma e sustentar a coluna. Com o funcional, tenho segurança para alcançar isso;, resume.
Calistenia
- Você sabia que por trás do treinamento funcional está uma técnica de nome bem estranho? Calistenia é o nome dado às atividades que usam apenas o peso do próprio corpo como carga. Além do funcional, os princípios da calistenia estão incorporados no crossfit e no street workout (treino de rua, em tradução livre) ; atividades muito comuns nos Estados Unidos, quando o praticante usa o peso do próprio corpo para executar exercícios em barras fixas, paralelas e no solo.
Treino personalizado
- Alguns estúdios de treinamento funcional oferecem o Functional Movement Screen (FMS), um sistema de avaliação com ranking e pontuação, que inclui sete testes dos padrões de movimento básico, em que limitações e/ou assimetrias musculares são identificadas. O objetivo é saber o que o aluno pode ou não fazer nos treinos. O professor só prescreverá os exercícios após saber o máximo que pode exigir de uma aluno e quando pegar leve. Tudo para evitar qualquer tipo de lesão.
Alguns benefícios
- Equilíbrio
- Flexibilidade
- Condicionamento
- Resistência
- Agilidade