Revista

Mercado de modelos tem buscado cada vez mais profissionais maduras

Para quem pensa que carreira de modelo termina cedo, está na hora de rever os conceitos

Rachel Sabino *
postado em 28/01/2018 07:00
O mercado da moda tem aprendido, aos poucos, que a beleza não é definida por idade. Nos últimos anos, a procura por modelos acima dos 40 anos tem aumentado no Brasil. Mulheres empoderadas ignoram estereótipos sociais e acreditam na capacidade de se sentirem bem na própria pele.

O booker Marthan Araújo, da agência Scouting, aqui de Brasília, confirma o crescimento da demanda. Ele compara que, há dois anos, acompanhava cerca de 100 modelos maduras na agência. Hoje, o número passou de 500 agenciadas.

O processo de procura é constante, e Marthan afirma que ele ocorre em mão dupla. ;Nós vamos atrás de mulheres com esse perfil para o nosso casting, mas muitas vêm por conta própria. Elas veem outras modelos da mesma idade nas nossas redes sociais e se sentem motivadas a participar da equipe;, explica.

A consultora de imagem Lilian Lemos percebe na valorização de novos biotipos de modelos uma oportunidade de reconhecimento para vários nichos de mercado. ;O desejo de estar bem acontece em todas as etapas da vida, seja na juventude, seja na maior idade;, afirma a profissional.

Segundo ela, o mercado se torna receptivo de acordo com a mensagem a ser comunicada pela moda em qualquer mídia. ;É maravilhoso ver barreiras e preconceitos sendo quebrados de forma inteligente e inclusiva. Ter uma mulher madura em uma propaganda ou em um desfile é um incentivo ao cuidado da imagem.;

Mercado democrático

A internacionalista e estudante de nutrição Cíntia Martins tem 35 anos e começou a carreira de modelo há menos de um. Mãe de dois filhos, foi descoberta por acaso, na academia, por um olheiro. ;Fiquei surpresa e não esperava que tivesse o perfil, ainda mais por não ser muito alta;, comenta Cíntia.

Mesmo de surpresa, ela abraçou a oportunidade e a viu como porta para a autoestima subir. ;Vejo cada vez mais brasileiras se importando consigo mesmas e se cuidando mais, independentemente da idade. Não sinto pressão nenhuma da sociedade. Pelo contrário, eu me sinto maravilhosa.;

A mineira Alessandra Marques, 41, concorda. ;A pressão social até existe, mas hoje o mercado mudou muito. Tem espaço para todos, tanto no quesito beleza quanto altura e idade;, diz Alessandra, que também entrou para o grupo e se sente segura com a maturidade.

O motivo de maior adesão no ramo por parte das mulheres também está no fato de o consumidor querer se sentir representado por quem divulga um produto. Logo, a aparência delas é a identificação direta com o público, seja na passarela, seja na televisão.

Warley Coimbra, proprietário da agência Clark;s Models, afirma: ;Antigamente, pessoas mais velhas estavam presentes somente em comerciais, como os de planos de saúde, e hoje isso vem mudando cada vez mais. Elas aparecem como referência para tudo, de bem-estar, exercitando-se, com uma vida mais ativa, enfim, como a que podem levar na realidade;.

Flashback

Em 2017, a estilista Donatella Versace homenageou os 20 anos da morte do irmão Gianni Versace, criador da marca, ao colocar na passarela as personalidades que mais marcaram a grife durante o ápice de sucesso. Carla Bruni, Claudia Schiffer, Naomi Campbell, Cindy Crawford e Helena Christensen surgiram de surpresa ao fim do desfile na semana de moda de Milão, em setembro passado, e trouxeram à memória dos fãs e da imprensa a época de ouro ; em que atraíam todos os flashes das passarelas internacionais nos anos 1980 e 1990.

Nunca é tarde

Eglay Rorato viu oportunidade de modelar após a maternidade de trigêmeasDepois de dar à luz trigêmeas, Eglay Rorato entrou em um período de resgate da autoestima. Além de psicóloga, servidora pública, dona de casa e ;trimãe;, como se autointitula, ela escolheu se aventurar como modelo e conciliar o novo trabalho com a rotina. Em conversa com a Revista, Eglay lembra que, na adolescência, foi chamada diversas vezes para fazer fotos profissionais. Na época, o hobby era jogar vôlei ; esporte escolhido por ela graças ao 1,74m de altura.

Contudo, há dois anos, recebeu o incentivo de uma amiga da mesma agência para fotografar e tentar algo novo. ;Ser mãe de três meninas foi o que mais me motivou. Saber que elas me teriam como modelo, literalmente, não só de beleza, mas, principalmente, de feminilidade, de empoderamento e de superação, fez-me seguir em frente com essa decisão.;

Eglay diz que, depois de ver suas fotos e admirar a aparência e a conquista, isso contribuiu prontamente para elevar o amor-próprio. ;Tornar-me modelo após os 40 é ser presença neste movimento. Sou mãe, profissional, dona de casa, mas, antes de tudo, sou mulher! E ser modelo é a expressão da minha feminilidade, tão agradavelmente conquistada nesse processo de resgate da autoestima.;

Volta por cima

Na mesma sintonia, a funcionária pública Maura Aguiar compartilha da sensação de se amar em primeiro lugar, em qualquer época da vida. Aos 44 anos, solteira e sem filhos, Maura se alegra em perceber que deu a volta por cima ao começar a carreira de modelo.

Em 2016, ela passou por alguns momentos adversos, que a confrontaram em sua autoconfiança com os ditos ;padrões sociais;, que Maura define como limites do que se pode ou não fazer de acordo com a idade que se tem. ;Eu acabei comprando essa ideia por um tempo, por insegurança, timidez e senso de autocrítica. Com bastante dificuldade, decidi reagir a essa situação;, conta.

O primeiro passo foi se inscrever em um curso preparatório de modelos na agência Scouting, organização da qual faz parte até hoje. A intenção inicial era melhorar a timidez, a postura e a expressão corporal, mas Maura engatou na carreira. Começou a ser chamada para participar de campanhas, desfiles de lojas, eventos de salões de beleza e estúdios de fotografia. ;Passei a ser desafiada de diversas formas e a ressignificar minha idade. Era realmente apenas um número, com toda certeza.;

Em um dos trabalhos, Maura teve sua imagem por toda a cidade: banners, outdoors, sites na internet e até ônibus e táxis. Depois da repercussão e de outros trabalhos pela frente, ela diz entender a essência da autoaceitação e da influência sobre outras pessoas que também se veem desencorajadas. Hoje, Maura concilia as duas profissões e foi convidada para monitorar crianças no curso de beleza infantil da agência. Sem prazo de validade, assim como a beleza de todas.

A vida não para aos 50

A prova disso são as modelos estrangeiras Maye Musk (@mayemusk) e Yazemeenah Rossi (@yazemeenahrossi). A primeira, americana de 69 anos, é inspiração forte para mulheres acima dos 60. Hiperconectada nas redes sociais, Maye atualiza com frequência o seu perfil no Instagram com trabalhos fotográficos pra lá de profissionais. Já Yazemeenah Rossi (foto) exibe as madeixas brancas como forma de autoconfiança e personalidade. A francesa, de 61 anos, é fã de fotos profissionais na praia e de biquíni: ela chegou a ser selecionada para estrelar uma coleção de beachwear com o papel de desvincular a imagem hiperssexualizada das campanhas de moda praia. Com êxito, Yazemeenah continua a brilhar na areia e na internet.


*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação