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Seu estresse, além de contagioso, pode transformar o cérebro dos outros

Ricardo Teixeira
postado em 12/03/2018 13:14
As redes sociais estão cheias de recados para ficarmos atentos com pessoas com grande nível de estresse e isso realmente parece ter bons fundamentos. No caso de pessoas queridas, acredito que ficar atento não quer dizer abandonar o barco, mas, sim, ajudar o outro a tentar enxergar o que pode ser mudado para minimizar essa condição.
Recentemente, uma preciosa peça foi colocada nesse quebra-cabeça. Pesquisadores da Universidade de Calgary, no Canadá, mostraram que camundongos estressados transmitem esse estado a outros que não receberam os estímulos estressantes. Isso já sabíamos. Dessa vez registraram que o cérebro daqueles não expostos ao estresse real apresentaram alterações celulares idênticas aos daqueles que foram expostos. Registraram mudanças nas sinapses de neurônios no núcleo paraventricular do hipotálamo que secretam o hormônio liberador de corticotropina, que, por sua vez, estimulam a liberação de outro hormônio na hipófise (ACTH) para, finalmente, provocar a produção do cortisol. O cortisol é considerado o hormônio do estresse e seus níveis elevados estão muito associados a quadros de ansiedade e depressão.
Os pesquisadores foram além. Demonstraram que o efeito negativo nas sinapses foi minimizado após interações sociais com camundongos que até então não tinham participado do experimento. Entretanto, só as fêmeas se beneficiaram. Resolveram também manipular a atividade desses neurônios, tipo ativar ou desativar. Quando esses neurônios eram desativados, toda a sequência de influência sobre os outros foi desativada, mesmo após o estímulo estressante. E, quando eles ativaram, o contágio nos outros acontecia, mesmo sem o estresse real. Essa ativação promovia a liberação de um sinal químico, como se fosse um feromônio de alarme, que é capaz de transmitir a informação para os outros membros do grupo. Isso serve para muitas espécies para comunicar situações de risco. Entre os humanos essa comunicação também parece acontecer, mas em épocas que não precisamos saber que um leão está se aproximando, isso talvez gere mais prejuízos do que benefícios.
A pesquisa foi publicada no prestigiado periódico Nature Neuroscience.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e Diretor Clínico do Instituto do Cérebro de Brasília

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