Alan Rios*
postado em 01/04/2018 07:00
Na próxima quinta-feira, dia 5, a Dra. Henriqueta Camarotti lançará seu livro Superando a Depressão à Luz da Terapia Transessencial, e esse novo termo - ainda não presente no dicionário - pode transformar como nós compreendemos a nós mesmos e a tudo que nos cerca. Propondo uma visão integrada do ser humano, a obra pode causar espanto com o termo da transessencialidade, mas é recheada de capítulos que acolhem o leitor a partir várias reflexões: ;Acredito que a psiquiatria do futuro integrará todos os níveis, não desprezará o orgânico, a saúde emocional nem a espiritualidade, mas trabalhará tudo integradamente;, conta.
Sua nova obra foi pensada para servir de guia para os profissionais da saúde que trabalham com a depressão nos pacientes ou é um livro recomendado a quem tem ou teve essa doença?
Neste livro, eu busquei utilizar as pesquisas, o conhecimento sobre a depressão, mas trazendo para uma linguagem mais acessível. Não uma linguagem simplória, mas que pode ser compreendida por pessoas que não são médicas e, sobretudo, pelos pacientes. Tem muitas informações científicas, mas dentro de um texto que dá para ser acompanhado. Os alvos do livro são os médicos ; não só os psiquiatras, mas de todas as especialidades ;, os terapeutas, tanto os considerados alternativos como os psicólogos, e profissionais que trabalham ligando a depressão a alguma proposta terapêutica. Além dos pacientes, com certeza, que são as pessoas que mais têm lido meus livros.
No livro, você explica e liga os campos físico-biológico, vibracional, emocional, mental, consciencial e sélfico. Como surgiu a necessidade de unir esses vários níveis dimensionais para derrotar a depressão?
Isso vem de uma busca minha muito antiga. Desde a minha formação na medicina, há mais de 40 anos, eu tenho buscado integrar as várias linhas das ciências ligadas à área da saúde, integrando não só a parte de saúde, como a social, cultural, espiritual... À medida que eu fui trabalhando, coordenando serviços multidisciplinares, equipes que trabalham nessa linha ampla, fui construindo, dentro da minha prática, um modelo. Esse modelo eu chamei de Terapia Transessencial. O livro organiza essas ideias no sentido de construir essa metodologia, que pode ser aplicada não só para os médicos, terapeutas, mas qualquer profissional que queira entender e ajudar o ser humano. Por isso, organizei em níveis da essência: nível físico-biológico, vibracional, emocional, intelectual, consciencial ; que é muito mais profundo do que a mente pura e simples ; e o nível da espiritualidade.
Terapia Transessencial
(TTE) é uma abordagem terapêutica do sofrimento físico e psicoemocional que integra desde os aspectos fisiológicos até a compreensão filosófica e espiritual do ser. Nessa visão, a essência humana é compreendida em vários níveis dimensionais, e nós adoecemos em consequência de disfunções que afetam um ou mais desses níveis. A TTE é uma proposta que se insere dentro da visão holística e sistêmica, incluindo o conhecimento da medicina ocidental alopática, as medicinas tradicionais e a sabedoria oriental.
Como nós podemos compreender cada um desses níveis?
Por exemplo, algumas pessoas com depressão têm uma deficiência de hormônio tireoidiano, aí, temos uma relação muito clara com o nível orgânico. Passando para o nível mais energético ;, que é o campo vibracional ; algumas pessoas têm desequilíbrios no centro de energia, que foi chamado pela medicina oriental de chakra. Assim, a gente pode avaliar se essa pessoa está precisando dessa parte da vibração e da energia, do equilíbrio das funções psíquicas a partir disso. O terceiro nível, do emocional, é bem claro: as pessoas têm problemas emocionais, familiares, disfunções que podem pesar o sistema a ponto de levar a uma depressão. E depois, a mente, que é uma questão intelectual: as restrições, os preconceitos, as limitações que essa pessoa pode ter, que podem estar facilitando ou potencializando outros problemas que podem estar acontecendo. O nível da consciência é aquele em que a pessoa dá um salto de percepção do mundo, ou seja, não é só saber que estou acordado e vivo, é entender a existência de uma forma mais profunda.
E a espiritualidade?
Finalmente, o nível sélfico, que considera que algumas pessoas possam ter alguma disfunção, algum desequilíbrio, entre a relação dela com o sagrado. Todos nós temos um sagrado, sem ter necessariamente uma religião, pois essa relação pode ser com o amor, com a compaixão, a generosidade, a humanidade, com o ser. Às vezes, a pessoa pode até ter uma religião, mas ela não se liga no sentido mais amplo do termo, de entender, por exemplo, que, quando alguém lá na África está sofrendo, isso tem a ver comigo, porque há um ponto de ligação entre eu mesma e esse ser que está lá, que é a humanidade. Isso é sagrado, algo que sai da rotina, do materialismo, da sobrevivência pessoal. É algo que transcende.
O título que fala da transessencialidade vai chamar a atenção. Mas também chama a atenção esse primeiro termo, sobre superação. Como se dá uma superação da depressão?
Excelente pergunta, porque eu tive cuidado em colocar ;superando; e não ;curando;. Superar é muito maior, porque uma coisa é ter uma doença e outra é ser doente, que é uma concepção. O que eu trabalho nos meus pacientes é exatamente isto de buscar a superação, porque, mesmo que eu tenha uma depressão e precise usar um medicamento por tempo indeterminado, minha maior preocupação é saber se a pessoa está bem, se autotransformando, crescendo como pessoa, se está sendo mais generosa, compassiva com ela mesma e com os seres à sua volta. Isso para mim é superar, quando eu me transformo, olho para o sintoma e penso: ;Ok, isso existe em mim, mas eu quero ter ações que busquem a superação;.
A depressão pode desaparecer por completo da vida de um paciente?
Superar não é só quando se cura, quando se para com o remédio ou com a terapia. Posso tomar remédio e me sentir plena e integrada. Eu escuto muito dos pacientes: ;Você não sabe como eu mudei com esse tratamento da depressão;. Eles começam achando que o sofrimento psíquico é uma fraqueza, mas depois consideram que faz parte ter angústias naturais que podemos compreender para nos ajudarem a nos transformarmos como pessoa.
É interessante citar que muitos consideram o sofrimento ou a sensibilidade como sinais de fraqueza, pois essa ainda é uma visão muito presente na sociedade. Como você vê esse pensamento?
Primeiro, acho que a gente tem que diferenciar emocionalidade de sensibilidade. Esta última está ligada aos sentimentos, que são mais profundos, como o de amor, compaixão ou generosidade. Emocionalidade é como eu achar o outro um ;coitadinho;. Então nós temos que administrar essa emocionalidade para nos tornarmos pessoas mais conscientes, porque, quando nós subimos esse grau da essência, a gente sai da emocionalidade convencional para uma consciência mais sutil. Então ter consciência, sensibilidade e ser capaz de entender o sofrimento do outro não é fraqueza, mas uma fortaleza. Quando a gente compara a educação do homem e a da mulher, por exemplo, vemos que o homem foi proibido de ter sensibilidade e, muitas vezes, endurece, deixa de se expressar. Mas isso faz com que ele fique mais vulnerável. Parece um paradoxo, mas é como a relação entre o poste e a palmeira, em que a planta sente o vento e balança para lá e para cá, mas não cai. O poste não, fica duro lá, mas, quando vem um vento forte, cai na hora.
Serviço
Lançamento do livro Superando a Depressão à Luz da Terapia Transessencial, de Henriqueta Camarotti
Quando: 5 de abril, às 18h
Onde: Restaurante Carpe Diem
Endereço: SQS 104, Bloco D, Loja 1, Asa Sul
* Estagiário sob supervisão de Valéria de Velasco, especial para o Correio