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Câncer de fígado vai além do álcool e diagnóstico tardio dificulta cenário

Doença é uma das mais perigosos por conta da sua alta taxa de mortalidade e dificuldade de se identificar os sintomas. E, apesar de estar muito associada ao alcoolismo, essa não é a única causa

Alan Rios*
postado em 08/04/2018 07:00
O terceiro câncer com maior índice de mortalidade no mundo faz com que exista um consenso entre médicos especialistas: é preciso que a população o conheça melhor. Apesar dessa doença no fígado ser mais comum em países da África e do Sudeste Asiático, os casos nacionais trazem uma grande preocupação por serem diagnosticados tardiamente, quando existem poucas opções de tratamento.
De acordo com o DATASUS, os diagnósticos em estágios iniciais do carcinoma hepatocelular - forma mais comum de câncer de fígado primário - só são feitos em 10% dos casos, sendo que em 62% das vezes essa identificação da patologia é feita já nos estágios muito avançados. Um dos fatores de risco para essa doença é a esteatose, a gordura no fígado muito comum em pacientes alcoólatras e entre quem tem obesidade, diabetes, hepatites virais ou triglicérides elevados.
O que é?
  • Carcinoma hepatocelular (CHC) é a forma de câncer de fígado responsável por 3/4 dos casos
  • Pode acontecer com um único tumor que se espalha para as outras partes do fígado ou com múltiplos nódulos cancerígenos
  • O alcoolismo é um dos fatores de risco, mas as hepatites B e C também são sinais de alerta
O médico hepatologista Rogério Alves alerta para a importância dos exercícios físicos e dá dica sobre o consumo ideal do álcool: ;Para evitar a gordura alcoólica é necessário seguir o recomendado pela OMS: dez doses semanais para as mulheres e quinze doses semanais para os homens, obedecendo sempre duas doses por dia no caso das mulheres ou três no caso dos homens. É necessário também ficar, ao menos, dois dias na semana sem ingestão de álcool;, alerta.
Doença é uma das mais perigosos por conta da sua alta taxa de mortalidade e dificuldade de se identificar os sintomas. E, apesar de estar muito associada ao alcoolismo, essa não é a única causa
Rogério também explica que as cirroses podem levar ao câncer e que nem sempre elas têm a ver com o álcool. "Quando a gordura no fígado não é tratada, ela pode evoluir para um quadro de esteato-hepatite, que pode levar à cirrose. Essa doença se dá pelo acúmulo de lesões no fígado que foram se cicatrizando, mas não apenas o álcool pode causar lesões. As hepatites A, B e C, também são fatores de risco quando não tratadas."


Dados da CHC no mundo
  • 696 mil pessoas já faleceram por conta do carcinoma hepatocelular
  • É o 5; câncer mais comum em homens
  • 7; mais comum em mulheres
Dados no Brasil
  • 26.200 casos foram diagnosticados no SUS nos últimos 5 anos
  • 56% desses casos foram em homens
  • 44% em mulheres

Palavra do especialista
Dr. Roberto Gil é oncologista do INCA - Instituto Nacional de Câncer - e foi membro fundador do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais.

1. Como identificar o CHC ainda nos seus sintomas iniciais?
A melhor forma é consultar um médico regularmente, seja um hepatologista, para aqueles que possuem algum tipo de doença crônica, como a cirrose, ou um clínico geral. O fígado mesmo doente pode não causar sintomas e quando demonstra sintomas, a doença já está avançada. Por isso fazer exames de sangue e imagens periódicos é a melhor forma de detectar precocemente qualquer doença hepática, principalmente o câncer.

2. Para quem tem fatores de risco do carcinoma hepatocelular, como fazer com que essas agressões às células hepáticas não evoluam para um câncer?
Além do acompanhamento periódico com o especialista, é extremamente importante que sigam o tratamento indicado da forma mais correta possível. Manter boa alimentação, exercícios físicos e não beber são extremamente importantes. A vacinação da Hepatite B e o tratamento da Hepatite C, disponíveis no sistema público, são medidas efetivas de diminuição de doenças hepáticas que podem levar ao câncer.

3. As pesquisas sobre o CHC com a população em geral mostram um grande desconhecimento da doença. Se o senhor pudesse explicar os principais aspectos da doença que deveriam ser mais evidentes para os brasileiros, quais explicaria?
O brasileiro precisa saber de três coisas fundamentais sobre o câncer de fígado, primeiro que não é só a bebida que pode causar a doença, uma alimentação rica em gordura e a obesidade levam à esteatose, que é a gordura no fígado, e ela é tão nociva quanto o álcool. Segundo, o diagnóstico de hepatite não deve ser ignorado ou escondido. Procurar um bom especialista em doença do fígado é importante. O controle dessas doenças pode ser feito de maneira muito mais fácil do que anos atrás podendo evitar ou diagnosticar precocemente o câncer de fígado. E por último, o alcoolismo não é motivo de vergonha, trata-se de uma doença que deve ser tratada por profissionais para vencer o desafio dessa doença.

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