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Homens plus size conquistam o mercado da moda nacional e internacional

No Brasil e no exterior, homens acima do peso conquistam as passarelas e encabeçam um movimento de moda inclusiva

Rachel Sabino *
postado em 15/04/2018 07:00
A marca LAB, reconhecida por defender a diversidade na moda brasileira, colocou modelos plus size na passarela na última edição do São Paulo Fashion Week, em agosto passadoDemocracia e representatividade são os termos da moda do futuro ; ou da atual, para não parecer tão distante assim. O desejo de identificação do público com o que é apresentado na passarela tem se tornado obrigação no ramo, a partir da referência de corpo ideal.

O filósofo norueguês Lars Svendsen argumenta no livro Moda: uma filosofia que o corpo se tornou um objeto de moda especialmente privilegiado e que o ego é constituído em grande parte por meio da apresentação do corpo. A estilista Elsa Schiaparelli também dialogou sobre a relação entre a forma corporal e o vestuário: ;As roupas não devem ser adaptadas ao corpo, é o corpo que deve ser adaptado às roupas.;

Em posicionamento contrário ao de Schiaparelli, o movimento plus size tem crescido dentro e fora do Brasil, principalmente no que tange ao público masculino. Aceitar o próprio corpo e ter acesso a peças confortáveis e atuais é lema para homens que têm dito sim à autoestima e à própria forma corporal e feito da passarela um palco para o mundo.

O modelo Zach Miko é um dos maiores sucessos internacionais pela IMG ModelsA IMG Models, uma das maiores agências de modelos do globo, presente em cinco países, incluindo Estados Unidos e França, acrescentou, recentemente, ao casting modelos plus size. O primeiro homem a se agenciar e lançar a tendência do segmento é o ator e blogueiro americano Zach Miko ; considerado a versão masculina da renomada Ashley Graham, modelo norte-americana também acima do peso.

Ivan Bart, vice-presidente sênior da IMG, declarou ao portal Women;s Wear Daily que a diversidade é algo relevante e não sairá da cabeça das pessoas. ;Estamos estendendo essa conversa ao segmento masculino. É horrível quando você vai a certas lojas e elas nem têm peças do seu tamanho. Todos queremos vestir roupas bonitas, e muita gente quer seguir a moda. Precisamos de mais opções;, afirmou.

Autoestima em alta

Arcadio Del Valle tem 180kg e não viu impedimentos em desfilar em uma das mais renomadas semanas de moda do mundo, a New York Fashion WeekQuem compra a ideia também é o modelo plus size Arcadio Del Valle. Aos 30 anos, ele assume o sobrepeso sem medo. Com 180kg, Del Valle contou ao portal Independent que se sentia envergonhado ao olhar os números na balança. ;Crescer em um mundo em que a mídia impõe ter uma certa aparência, ter um certo peso e a seguir um certo padrão é algo que ocupa a sua cabeça. Tudo o que eu quero é promover amor-próprio e aceitação, apesar de tamanhos, gêneros ou até deficiências.;

Até então, o ápice da carreira de Del Valle foi quando ele foi convidado pela marca de streetwear Volare para desfilar nas passarelas da semana de moda de Nova York. ;Andar pela passarela foi surreal. Meu coração batia muito forte, foi um dos meus melhores momentos;, relembrou.

Talentos nacionais

Edu Rodrigues é modelo e blogueiro de moda masculina voltada para o público plus sizeO paulista Edu Rodrigues é modelo plus size profissional há seis anos. Nascido no Guarujá, em São Paulo, nem sempre se deu bem com o próprio corpo. À praia, ele ia de camiseta, por vergonha. Sentia pressão da família e dos amigos em relação ao peso e não encontrava roupas que o agradassem e servissem nele.

Rodrigues se mudou para a capital de São Paulo aos 21 anos. Lá, começou a procurar lojas na cidade que atendessem ao seu corpo e tivessem peças de moda com modelagem plus. Por meio dos estabelecimentos, viu uma oportunidade de modelar. ;Uma amiga me incentivou a procurar uma agência de modelos, mas não achei que servia para isso;, duvidou. Depois de convencido, ele se matriculou em um curso preparatório específico para modelos plus size e logo se jogou no mercado.

Atualmente, o carro-chefe de Rodrigues são campanhas comerciais fotográficas. Nas passarelas, ele afirma que ainda há poucas oportunidades, mas admite que o mercado plus tem crescido e influenciado clientes. ;As lojas são as principais responsáveis por isso. Quando se investe em modelos plus size, o público logo se identifica.;

Além da dedicação às câmeras, Rodrigues é dono do Storm Size, blog de moda voltado para o público masculino. Com a plataforma, o modelo visa colaborar com a evolução do mercado e sanar a carência de investidores no ramo.

No mercado

Roberto Labate é modelo há oito anos, mas acredita que o mercado plus ainda tem muito a evoluirO motivo de se tornar modelo plus size está na oportunidade de autoaceitação, segundo Roberto Labate, 37 anos. Ele modela desde 2010 ; uns dos primeiros a atuar na área. Labate conta que começou a carreira quando uma loja, da qual era cliente, o chamou para desfilar e fazer catálogos de algumas coleções. O acaso, porém, virou profissão paralela à de empresário. ;Na época, não se via muitos modelos plus size, era raro. Comecei fazendo alguns trabalhos e deslanchei, não parei mais.;

Em oito anos de atuação, ele já participou de campanhas para marcas como Marisa e Malwee. Desfilou em mais de quatro edições do Fashion Weekend Plus Size, maior evento do ramo no país. Assim como Rodrigues, Labate vê o mercado da moda crescendo em representatividade. ;Acho que a maior evolução foi o entendimento de que o gordo pode e quer se vestir bem. Nesses últimos anos, acompanhei um crescimento da moda plus size masculina, com roupas mais modernas e algumas marcas se preocupando em oferecer um produto diferenciado e de qualidade.;

Contudo, ainda falta investimento. ;Há muitas oportunidades para trabalhos fotográficos, mas o acesso à passarela ainda é pouco, quase nada. Nem sempre os eventos incluem o masculino e a remuneração é baixa se comparada a tempos passados.;

Para quem tem interesse em atuar como modelo plus size, Roberto aconselha: ;Estude o mercado, entenda como funciona, conheça as marcas e, principalmente, tenha bom senso para saber se tem perfil. Não é só ser gordo, estar alguns manequins acima ou ter um rosto bonitinho. Hoje em dia, alguns fazem fotos e saem por aí falando que são modelos. Claro que é preciso começar de alguma forma, e fazer um book é o primeiro passo, mas existe uma enorme diferença entre o iniciante e o profissional realmente atuante no mercado.;

Na prática

Ainda tem dúvidas na hora de se vestir? A Revista apresenta algumas dicas para as produções do dia a dia.
  • Fique de olho no caimento e no tamanho certo das roupas. Ou seja, elas nao devem ser largas demais, ao ponto de aumentar a silhueta, nem tão apertadas.
  • Investir em cores neutras não tem erro: preto, cinza, azul-marinho e branco são tonalidades perfeitas para o cotidiano e ocasiões especiais.
  • Evite calças muito skinny ou extremamente justas na canela. Prefira shapes mais retos para dar efeito de alongamento.
  • Invista na gola V: camisas e camisetas com esse formato valorizam o colo e deixam o pescoço com aparência mais alongada.
  • A terceira peça é um truque que vale aderir. Complemente a combinação da camisa com jeans, por exemplo, com um blazer estruturado.
  • Capriche nos acessórios, como um belo relógio, cachecóis, colares discretos e pulseiras de couro. Eles não precisam ser usados todos ao mesmo tempo, mas dão um toque especial à produção.
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte

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