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Tabagismo pode provocar doenças que vão além do pulmão

Vilão famoso do câncer pulmonar, o cigarro pode causar doenças no coração, no sistema vascular, no estômago e tantas outras. Até os dentes e a pele sofrem com o tabagismo

Alan Rios*
postado em 29/04/2018 07:00
Não é surpresa para ninguém que o pulmão dos fumantes é mais prejudicado do que o dos que ficam longe do cigarro. Mas o que muitos não sabem é que não é só esse órgão que sofre com o mau hábito. Além de prejudicar o combate a outras doenças que o paciente já tenha, o tabagismo pode contribuir para o aparecimento de outras enfermidades extremamente prejudiciais.

Edgard Santos Maestro, pneumologista do Hospital Santa Marta, é taxativo: ;O fumo é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o maior agente causador de doenças no mundo. Diversos tipos de câncer têm seu risco aumentado pelo cigarro, como os tumores de bexiga, boca, laringe, esôfago, estômago, rins, pâncreas, intestino e próstata;, exemplifica.
Além desses tipos de câncer, doenças frequentes na população surgem mais facilmente em fumantes. ;No sistema cardiovascular, o cigarro atua promovendo a doença arterial coronariana; no cérebro, é fator de risco importante para o Acidente Vascular Cerebral (AVC); e no sistema vascular periférico, pode provocar a Insuficiência Vascular Periférica ; só para citarmos algumas doenças de alta morbi-mortalidade;, completa o médico.

Diante de tudo isso, é consenso entre os especialistas que o melhor remédio para evitar todas essas complicações é ficar longe do cigarro, que pode ser ruim tanto para os que fumam quanto para quem não tem o vício, mas inala a fumaça. A coordenadora da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Maria da Penha Uchoa, diz que, para aqueles que já são viciados, as alternativas para parar de fumar são muitas e variam individualmente. ;Mas, primeiro, é preciso que ela conheça sua dependência para que possa se proteger e criar estratégias de se livrar.;
Vilão famoso do câncer pulmonar, o cigarro pode causar doenças no coração, no sistema vascular, no estômago e tantas outras. Até os dentes e a pele sofrem com o tabagismo

Segundo a OMS

  • Cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo são fumantes
  • Aproximadamente 47% de toda a população masculina mundial fumam. Entre as mulheres, a porcentagem cai para 12%
  • Todo ano, mais de cinco milhões de pessoas morrem no mundo por causa do cigarro
  • No Brasil, são 200 mil mortes anuais

Pelo corpo todo

O tabagismo está relacionado a mais de 50 doenças e é responsável por:
  • 30% das mortes por câncer de boca
  • 90% das mortes por câncer de pulmão
  • 25% das mortes por doença do coração
  • 85% das mortes por bronquite e enfisema
  • 25% das mortes por derrame cerebral

Palavra do especialista

Dr. José Jardim é pneumologista e professor livre docente de Pneumologia da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP

1. Em uma ordem de impacto, o cigarro acomete primeiramente o pulmão, mas quais outros órgãos mais sofrem os danos do tabagismo?
O tabagismo afeta o organismo de uma forma sistêmica, no entanto, alguns órgãos, além do pulmão, sofrem mais com os efeitos colaterais dele. O coração e todo o sistema circulatório, principalmente nas artérias, são os que mais penam com as toxinas que o cigarro libera pois elas afetam a elasticidade das estruturas e contribuem para o aumento da pressão arterial, para a formação de coágulos sanguíneos e inclusive para o infarto do miocárdio e derrame cerebral. A pele, dentes, e todos os órgãos do sistema digestivo também são altamente afetados.
2. Quais tipos de atividades cotidianas o corpo humano pode ter dificuldade de realizar devido ao prejuízo do fluxo de oxigênio, causada pelo tabagismo?
A diminuição do fluxo de oxigênio afeta tarefas rotineiras, como subir uma escada ou tomar banho, por exemplo. Não precisa nem mencionar as imposições que traz para a prática de atividades físicas como correr em uma partida de futebol, que é praticamente impossível. A diminuição crônica de oxigênio leva à sobrecarga do sistema cardiovascular que pode culminar em insuficiência cardíaca. Hoje já se reconhece que as pessoas que fumam podem ter diminuição da circulação cerebral o que pode levar a menor capacidade de raciocínio.
3. Entre os métodos disponíveis para acabar com o vício do fumo, quais são mais indicados pela medicina?
O ponto mais importante é o fumante estar realmente consciente da sua vontade ou necessidade de deixar de fumar. O método mais utilizado no mundo - e defendido por importantes associações de saúde - chama-se Terapia Cognitivo-Comportamental. Por Terapia Cognitivo entende-se dar conhecimento ao fumante sobre os malefícios do cigarro, indicar os benefícios, ensinar os meios para conseguir diminuir a vontade de fumar. Por Terapia Comportamental entende-se os meios de mudar o comportamento que faz o paciente fumar. Associado, pode-se ou se deve prescrever medicamentos que diminuem a vontade de fumar e os sintomas da abstinência (nervosismo, insônia, batedeira cardíaca). Nesse grupo está incluído o que se chama de Terapia de Reposição de Nicotina (TRN), como adesivo cutâneo de nicotina com liberação lenta e gomas de mascar de nicotina para liberação rápida. Além disso existem dois medicamentos para uso de via oral que podem ser associados a TRN, bupropiona e vareniclina, que são, inicialmente prescritos por 3 meses. De uma modo geral, após uma certa preparação, marca-se um dia e o fumante deixa de fumar agudamente
Curiosidades
  • A fumaça do cigarro tem mais de 4,7 mil substâncias tóxicas
  • A nicotina é considerada uma droga psicoativa que causa dependência e aumenta a liberação de catecolaminas, que contraem os vasos sanguíneos, aceleram a frequência cardíaca, e causam hipertensão arterial
  • As doenças e agravos não transmissíveis (DANT) já são as principais responsáveis pelo adoecimento e óbito da população no mundo

O tabagismo ainda pode causar:
  • Impotência sexual no homem;
  • Complicações na gravidez;
  • Aneurismas arteriais;
  • Úlcera do aparelho digestivo;
  • Infecções respiratórias;
*Estagiário sob supervisão de Sibele Negromonte

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