Renata Rusky, Juliana Andrade
postado em 13/05/2018 07:00
;Ser mãe nunca é fácil;, é o que dizem todas. E só sentindo na pele para saber. Quando pequenos, a adaptação à maternidade pode ser dura, a comunicação é complicada, mas o controle sobre eles, total. Aos poucos, elas perdem o domínio, eles vão tendo as próprias vontades, os próprios compromissos e uma vida em que a mãe já não está incluída em todos os momentos do dia.
A psicóloga Thirza Reis salienta que é necessário lembrar de algo muitas vezes esquecido: as mães estão aprendendo a ser mães junto com os filhos. ;Cada mudança na vida do filho é uma mudança na vida da mãe também;, explica. E, para complicar, quando ela finalmente se sente habilitada, de repente, muda tudo ; do bebê para uma criança que vai à escola, da criança para um adolescente, do adolescente para um adulto ; e ela tem que se reinventar.
Neste Dia das Mães, algumas delas compartilham um pouco da experiência de mudar de papel à medida que os pequenos ficam grandes. O desafio entre serem espectadoras da vida dos filhos, vibrarem e sofrerem com escolhas que são só deles e, ao mesmo tempo, se envolverem diretamente na história dos rebentos.
Um por todos...
Núbia Santana, 42 anos, cineasta e ativista social, tem dois filhos, Luís, um pré-adolescente de 12 anos, e Victor, 22, que já mora sozinho e até trabalha no projeto social da mãe. Mãe solo, ela sempre cuidou dos dois. Com o tempo, eles também começam a fazer papel de cuidadores. O mais velho, do caçula. Ambos, da matriarca.
A mãe vai acompanhando essa e tantas outras mudanças boquiaberta: ;A gente se surpreende, mas aí coloca o pé no chão e tem que pensar que o mundo mudou, as crianças estão cada vez mais inteligentes, mais maduras;. Ela conta que, em uma época conturbada e estressante da vida, o mais novo lhe questionou se ela estava bem. Ela não estava. ;O Luís me disse: mãe, eu sinto tudo que você sente;, relembra.
Luís começa a querer namorar. A cumplicidade entre eles é tão grande, que ele pediu para a mãe ajudá-lo a elaborar uma surpresa para a menina que queria conquistar. Sem esconder nada. Assustada, mas também feliz por ele, Núbia cancelou todos os compromissos para aproveitar o momento e honrar o fato de que estava sendo incluída em um momento tão importante da vida dele. ;Até passei várias camisas para ele experimentar e escolher;, conta.
O mais velho também facilitou o caminho do caçula. Ele já namora há cinco anos. Núbia garante que não sente ciúmes. ;Tem hora que eu me identifico mais com ela do que com ele.; No ano passado, Victor saiu de casa e foi morar sozinho em um apartamento na Asa Norte. A mãe ajudou na reforma, na decoração. Para ela, a participação dela e a mudança não ter sido repentina, mas um processo, foram importantes para que assimilasse melhor a ideia. ;Ele já passava menos tempo em casa, dormia fora às vezes, mas eu sinto muita falta.;
Núbia sempre quis dar autonomia aos filhos. Com 8 anos, Victor já andava de ônibus sozinho, ia ao supermercado, arrumava a casa com ela. Tudo isso também a deixou mais segura da capacidade dele de viver só, sem mamãe para cuidar.
Coração de mãe
Não dizem que sempre cabe mais um? No caso de Núbia, cabem muitos mesmo. Desde 2010, ela está à frente do projeto Nota 10, que faz um trabalho de ressocialização de jovens que cometeram delitos, além de trabalhar com adolescentes para prevenir que entrem no mundo do crime. ;Eles são minha segunda família. Digo que são meus filhos, porque tenho muito carinho por eles e sinto que preciso cuidar deles;, garante Núbia.
Atualmente, o projeto tem 35 meninos sob sua responsabilidade. Alguns já trabalham também no Nota 10, difundindo as ideias na comunidade, trazendo novos adolescentes, fazendo reuniões com órgãos públicos e dando aulas de percussão e outras artes para os acolhidos. ;Eu tenho muito orgulho dos meus filhos.;
Rumo ao altar
Ana Paula Farias, 25 anos, publicitária, se casará daqui a dois meses. Um dos grandes eventos da vida dela deixa a mãe, Lúcia Farias, 45, autônoma, em um misto de sentimentos. ;Choque, orgulho, dever cumprido, sensação de ninho se esvaziando; são apenas alguns que ela cita. Casar a filha e vê-la sair de casa é difícil. ;Eu sempre criei minhas filhas para o mundo e sempre soube que um dia elas iam se casar e ir embora. Até achei que seria mais cedo, porque eu me casei muito cedo;, reflete Lúcia.
Das três filhas, Ana é a segunda a se casar, mas isso não deixou Lúcia acostumada ou tornou as coisas mais fáceis. Com os olhos marejados, ela se prepara para o que vai mudar. Tem certeza de que difícil mesmo vai ser depois do casamento, quando o lar ficar mais vazio. ;Quando a primeira se casou, eu senti muito, mas ela já passava mais tempo fora de casa. Agora, Ana Paula é caseira, ela me faz mais companhia;, explica Lúcia.
Ana Paula nunca foi de namorar, e a mãe percebeu que o noivo dela estava apaixonado muito antes da filha. Era o instinto materno falando. ;Eu o conhecia da igreja. Um ano antes de começarmos a namorar, ele passou a frequentar minha casa, mas éramos só amigos. Minha mãe dizia que ele gostava de mim, mas eu não levava a sério;, relembra Ana. Com pouco tempo de namoro, já ficaram noivos.
Muita noiva reclama das interferências da mãe nos preparativos do casamento. Ana Paula não se importa. Até gosta. E Lúcia se sente incluída, o que acalenta o coração dela. A psicóloga Thirza Reis explica que a maioria dos filhos se incomoda com intervenções das mães, que vivem um dilema: dar autonomia ao filho ou intervir. ;A intervenção, muitas vezes, é necessária e o incômodo, natural. Mas até que ponto intervir e deixar que se expresse na sua autonomia? A mãe, às vezes, tem mais experiência, o filho nem sempre tem responsabilidade para arcar com as consequências;, explica. O desafio é dosar as duas coisas.
Outro momento marcante na vida das duas foi quando Ana Paula entrou na faculdade e não tinha certeza sobre a carreira que escolheria. ;Eu me preocupava como mãe, porque achava que ela tinha que ter certeza do que queria. Com o tempo, ela foi descobrindo, e eu também fui notando, que é da geração, que é normal;, afirma Lúcia.
Prontos para voar
Enquanto os filhos esperam ansiosos pelo tão sonhado intercâmbio, a mãe, Juliana Amaral, 42, espera receosa, porém feliz. Serão 10 meses longe dos trigêmeos: José Felipe, João Guilherme e Maria Vitória Amaral. Os jovens, de 15 anos, embarcam ainda este ano para um intercâmbio nos Estados Unidos.
Ainda faltam cerca de três meses para a viagem dos trigêmeos, mas Juliana não esconde que já está com o coração apertado. A alegria de ver a realização dos filhos se mistura à saudade que insiste em bater antecipadamente. ;É claro que vou ficar com o coração morrendo de saudade, mas é uma oportunidade única para eles. A gente quer o melhor para os nossos filhos. Nós os criamos para o mundo e não para a gente. Foco nisso para ficar firme;, destaca.
Morar fora é uma das metas de José Felipe. Como toda mãe, Juliana não mediu esforços para ajudar o filho e viu o intercâmbio voltado para o ensino médio como uma oportunidade única ; não só para ele, como para os outros irmãos.
As recomendações já foram todas listadas. Mandar notícia para a mãe diariamente é regra, e a atenção com os horários também tem papel importante. ;Alertei, principalmente, quanto à organização, porque aqui em casa é de um jeito e lá eles terão que se virar. Quero que eles ajam da melhor maneira possível;, ressalta.
Para matar a saudade, Juliana afirma que está se programando para ir visitar os filhos no Natal. Motivo de alegria para os trigêmeos, que também não escondem a falta que a mãe fará. Sobre do que sentirão mais saudades do Brasil, os meninos respondem de primeira: da família. José Felipe ainda acrescenta: ;Ela é a melhor mãe de todas;.
Independência
Uma das razões que ajudam Juliana a guardar a superproteção e soltar, aos poucos, os filhos é a importância disso para o desenvolvimento deles. Ela enfatiza que os ver crescerem é maravilhoso, pena que o tempo voa. ;Sabe quando a ficha cai que seus filhos cresceram? Passa muito rápido;, diz.
É justamente seguindo a mesma linha da autorresponsabilidade que Juliana já planeja um intercâmbio também para a filha caçula, Maria Júlia Amaral, 14. ;Essa coisa de eles saberem se virar e serem responsáveis, de entender que precisam crescer, de ter a oportunidade de estarem sozinho e se virarem;, justifica. Assim, Juliana, como muitas mães, vê com emoção cada passo dos filhos, com a sensação de um dever que se cumpre a cada dia e a cada realização.