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Quando a tristeza vem

Assim como os humanos, os pets podem sofrer de depressão. Uma mudança brusca de rotina ou uma perda pode ser o gatilho. É preciso ficar atento a mudanças de comportamento

Juliana Andrade
postado em 19/08/2018 08:00
Rafaelle Moreno ficou muito preocupada com a tristeza de Dark ao voltar de um hotel para petsEles geralmente são animados, amam brincar e morder as coisas, mas, de repente, de um dia para o outro, ficam apáticos, quietos, sem apetite, totalmente deprimidos. Sim, assim como acontece com os humanos, os animais também sentem emoções, inclusive a tristeza.

Segundo especialistas, esse sentimento é algo realmente difícil de lidar. Se nos humanos, que podem se expressar por meio de palavras, a situação já é complicada, podendo levar a sérios casos de depressão, imagine em um animal, que não consegue falar o que está sentido.

Rafaelle Moreno, 36 anos, não sossegou enquanto não conseguiu descobrir porque a vira-lata dela, Dark, andava triste, pelos cantos da casa. A historiadora conta que deixou a cadela por alguns dias em um hotel para pet durante uma viagem. No local, Dark se divertiu tanto que, para surpresa da tutora, a tristeza veio na volta para casa. ;Quando voltou, não queria mais brincar. A gente colocava os brinquedos perto e ela nem ligava;, relata.

O desânimo de Dark durou cerca de cinco dias, o suficiente para Rafaelle entrar em desespero. ;Fiquei muito preocupada e comecei a pesquisar, mas achei muito pouca informação sobre o assunto;, comenta. A tutora, então, buscou a veterinária da cadela para saber o que estava acontecendo.

O diagnóstico não foi muito difícil de encontrar. A tristeza da cadela era apenas saudade dos amigos do hotel. O remédio para tanto sofrimento? Altas doses de carinho e brincadeiras. Assim, em poucos dias, Dark voltou a abanar o rabinho, a pular e a correr como sempre fez.

Segundo a veterinária Cristiane Mayer, é normal que os animais fiquem tristes com a mudança de ambiente, de rotina ou, até mesmo, com a falta de outros animais e pessoas. ;Às vezes, o povo acha que é besteira, mas não é. Os bichos entram mesmo em uma tristeza muito profunda;, afirma.

Tristeza frequente

Sempre brincalhão, Jordan passou por um momento de profunda tristezaA médica Nathália Helena Falcão, 28, já até se acostumou. Ela comenta que viaja com frequência e sempre deixa o bulldog francês Jordan em um hotel para pet, mas, quando ele volta para casa, bate a tristeza e o ânimo do cachorro vai embora. ;A gente percebeu que ele sempre ficava um pouco mais quieto, no canto dele, apático, diminuía um pouco o apetite, não queria mais brincar. Lá, é como se fosse uma colônia de férias;, diz.

A veterinária Cristiane alerta que é preciso estimular os animais para a tristeza não se tornar um quadro mais grave. ;Alguns animais, quando estão deprimidos, não comem e começam a ficar sem as substâncias necessárias para a sobrevivência;, ressalta.

Preocupada com o bem-estar de Jordan, Nathália arranjou uma maneira de amenizar as crises do cachorro. Ela destaca que sempre capricha no carinho e procura estimular o pet a brincar e a se alimentar. De acordo com a médica, a companhia de um novo animal, também tem ajudado. ;Eu adotei um outro cachorro e ele ficou bem mais calmo. A presença do ;irmão;, com certeza, é importante para ele estar feliz;, frisa.

Sinal de alerta

Segundo a veterinária Carolina Rocha, especialista em comportamento animal, ainda não há um consenso na medicina veterinária em relação à depressão em animais, mas a tristeza dos bichos é sempre um sinal de alerta. Ela explica que pontos a serem observados são a duração e a frequência com que isso acontece. ;O normal é que ela dure um certo período, em torno de dois a três dias, passando disso, se o animal mantiver esse comportamento, é sinal de que tem algo errado;, enfatiza.

De acordo com Carolina, os animais deprimidos, geralmente, ficam desanimados e sem apetite, sintomas comuns em outras doenças. Assim, o primeiro passo a dar é procurar um profissional para verificar a saúde do animal. ;Se, após uma avaliação, for constatado que não existe nenhum problema orgânico, mas ele mantém aqueles sinais, deve-se buscar um médico veterinário comportamentalista para ser feito uma investigação voltada ao comportamento e ao bem-estar psicológico;, esclarece.

As especialistas destacam que a tristeza pode ser ocasionada por diversos motivos. Até mesmo a perda de um brinquedo ou a mudança de residência pode abalar o emocional do bicho. Algo também comum é a perda de alguém ou de outro cachorro. ;O mais comum é a solidão. Os animais são muito receptivos a tudo, eles gostam de companhia;, garante a veterinária Cristiane. A colega Carolina ainda complementa que o humor das pessoas da casa reflete no estado do animal de estimação.

Atenção!

Tratamento
A veterinária Carolina Rocha explica que é preciso compreender primeiro a causa da tristeza do animal para, assim, buscar o tratamento mais adequado. Ela afirma que a busca pela cura pode envolver três frentes: a mudança na rotina, o ambiente e o comportamento das pessoas da casa; medicação; e terapia comportamental.

Consequências
De acordo com a veterinária, as consequências do estado emocional dependem dos sinais que o animal apresenta. Em geral, na maioria dos casos, elas estão relacionada ao estresse, ou seja, ao aumento do hormônio cortisol. Animais deprimidos podem sofrer alterações metabólicas, como engordar ou emagrecer muito rápido, ter aumento de pressão arterial, perda de memória, ficar reativo e irritado. Além disso, o sistema imunológico tende a enfraquecer, deixando o pet vulnerável a infecções e doenças.

Síndrome da Ansiedade de Separação
Ao verem os animais deprimidos, muitas pessoas tendem a achar que o pet está com a Síndrome da Ansiedade de Separação. A veterinária Carolina Rocha explica que a síndrome tem três sintomas, acompanhados pelo fato de o animal ficar sozinho em casa: destruição, urinar e defecar no lugar errado e vocalização excessiva. ;Esses sinais aparecem quando ele está sozinho e podem ser relacionados a uma pessoa específica ou a todas as pessoas na casa;, menciona. Já na depressão, há uma mudança geral de comportamento que não é, necessariamente, relacionada ao fato de ficar desacompanhado na residência.

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