Ana Flávia Castro *
postado em 28/10/2018 08:00
Quem nunca ouviu falar que passar muito tempo em frente ao computador faz mal aos olhos? O que poucos sabem é que a exposição que tanto preocupa os oftalmologistas também é um risco para a pele. Celulares, computadores e tablets são emissores de luz visível, exigindo proteção inclusive em ambientes fechados.
Isso acontece porque a luz azul, segunda frequência de maior energia do espectro visível, atravessa a pele e alcança até a superfície subcutânea ; nível ainda mais profundo que a epiderme e a derme, segundo o mestre em dermatologia Orlando Morais. ;Cerca de 48 horas de exposição à tela do computador correspondem mais ou menos ao mesmo nível de exposição que você teria em aproximadamente 20 minutos no sol ao meio-dia.;
O efeito é a produção de radicais livres, que propicia a diminuição do colágeno. Isso se traduz em redução de elasticidade, formação de rugas e perda de contorno facial. Assim como os raios ultravioletas A e B, essa luz tem fatores cancerígenos e capacidade de estimular a produção de pigmento.
A principal fonte emissora de luz azul é, de fato, o sol. No entanto, qualquer tipo de lâmpada ou dispositivos como tablets, celulares e notebooks exigem cuidados. Por isso, nada daquele discurso de não precisar de filtro solar porque vai passar o dia no escritório. ;Até durante a noite, precisamos estar protegidos;, garante a generalista Cynthia Dias.
Como se proteger
Mas como preservar a pele da radiação se o celular está sempre em mãos e o computador é instrumento de trabalho? A indicação dos especialistas é o uso diário dos chamados protetores físicos. Segundo Morais, os compostos inorgânicos que promovem a proteção da pele desse tipo de radiação são dióxido de titânio, óxido de zinco e óxido ferroso. Esses componentes protegem tanto das radiações ultravioletas quanto da luz azul.
O risco no caso dos homens e das mulheres é geneticamente igual. Porém, elas têm uma forte aliada: a maquiagem. Muitos dos compostos que preservam a pele da luz azul são encontrados nas bases e nos corretivos.
Além disso, os produtos que têm pigmento oferecem mais segurança. ;Esses ativos também funcionam como barreira física, porque eles conseguem impedir a permeação da luz, refletindo-a;, explica o dermatologista. Eles também não atingem a corrente sanguínea.
Quando o assunto é proteção, existem os compostos físicos, que refletem a radiação e são especialmente eficazes quanto à proteção da luz azul; os químicos, que absorvem a radiação e a transformam em calor; e os fotoprotetores orais, que reúnem princípios ativos antioxidantes em formato de cápsulas e devem ser tomados diariamente.
Defesa oral
Celia Arcenio, 50 anos, sempre teve cuidado com a pele, mas preferia não utilizar alguns tipos de filtro. Como a radiação não é exclusividade da luz do sol, a alternativa mais segura foi procurar filtros solares com os compostos físicos ; que também protegem da luz azul e não ultrapassam a superfície cutânea ;, e complementar os cuidados com os fotoprotetores orais.
Segundo Cynthia Dias, as cápsulas funcionam como antioxidantes. Isso posterga o processo de envelhecimento e impede a formação dos radicais livres, prevenindo contra o câncer. As pílulas contêm compostos como pycnogenol, resveratrol, pomegranate e peeling oral. No entanto, elas não substituem o uso tópico. ;O melhor efeito acontece quando combinamos todos esses tipos de filtros e, assim, a pele fica mais protegida;, completa.
A rotina de saúde da servidora pública, no que refere à proteção solar, começa cedo e se estende ao longo do dia. ;Assim que acordo, já faço a hidratação, aplico o filtro e tomo a pílula de fotoproteção.; Para Celia, a atenção à pele traz efeitos significativos no bem-estar e na qualidade de vida.
Ainda que em quantidades menores, o uso do computador e do celular de forma contínua traz todos os prejuízos que a exposição à luz solar proporciona. Entre eles, a capacidade de produzir pigmento. Juliane Santos, 40, precisa de atenção especial. Há aproximadamente cinco anos, a bancária enfrenta as manchas características do melasma e elas só têm se alastrado pelo rosto e pela bochecha, apesar de muito esforço com a proteção.
Segundo Orlando Morais, os pacientes que têm melasma estão suscetíveis ao espectro da luz visível, especificamente ao de frequência azul. Muitas vezes, há uma preocupação intensa com o sol, mas a luz que vem dos dispositivos eletrônicos oferece risco significativo.
Cuidado constante
Na tentativa de amenizar os efeitos, a rotina de beleza de Juliane é cheia de cuidados. ;Sou morena e sempre tive muito medo de fazer tratamentos a laser. Então, meu tratamento tem sido com base em cremes e fluidos, tanto manipulados quanto os comprados prontos;, relata.
No dia a dia, a preparação começa cedo. A limpeza da pele com sabonete líquido próprio é acompanhada da hidratação e da aplicação do filtro solar com cor. ;Eu reaplico o protetor mais duas vezes ao longo do dia. E não é apenas para me proteger da luz do celular e do computador, é sobretudo para esconder minhas manchas, que me causam muito constrangimento. Não saio à rua sem filtro solar com cor;, conta a bancária. À noite, o cuidado continua, com a aplicação do creme clareador.
;Especialmente para quem tem melasma, é essencial usar a medicação até a noite porque você vai ficar muito tempo no computador ou ao telefone;, explica Cinthya Dias. ;Mas isso não se reduz a pacientes com o quadro. A proteção deve ser feita em todos os momentos. Esses dispositivos estão cada vez mais presentes no nosso cotidiano e cabe a nós reduzir os efeitos dessa exposição ao mínimo.;
Contraponto
Para Helio Miot, dermatologista especialista da Sociedade Brasileira de Dermatologia, a luz visível, apesar de chegar ao planeta em alta quantidade, é muito menos potente que os raios ultravioletas A e B e, no caso dos dispositivos eletrônicos, o risco é ainda menor. Ele argumenta que é muito recente a pesquisa dos efeitos da luz visível na pele. ;A gente sabe que ela atravessa a epiderme, a derme, chega até o subcutâneo.; Mas, no caso dos celulares e dos computadores, ele garante que os efeitos da radiação ainda não foram comprovados;.
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*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte