Juliana Andrade
postado em 25/11/2018 08:00
Eles comentam tudo no Facebook, enchem os parentes de likes no Instagram e garantem muita agitação nos grupos de WhatsApp. Sem dúvidas, os idosos invadiram de vez as redes sociais. A ausência de botões no celular não intimidam, e a adaptação veio de forma natural. Hoje, os aparelhos são usados não só para socializar, mas também para facilitar o dia a dia deles.
Pelo smartphone, ela se comunica com a família, pesquisa receitas, compartilha ideias e até usa aplicativo de transporte. Na TV Smart, um site de músicas ajuda na trilha sonora para animar o dia. Assim, a tecnologia foi ganhando cada vez mais espaço na vida da dona de casa Edna Matsue Yamamoto, 60 anos. ;Antigamente, quando a gente ia fazer uma receita, precisava correr para o livros e para os caderninhos da vovó. Hoje, a gente usa só os dedinhos;, compara.
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Para a psicóloga Valmari Aranha, secretária-adjunta da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, a inclusão digital dos idosos é necessária. Valmari explica que o uso das redes sociais e de aplicativos os possibilitam lidar com uma linguagem diferente, em outro ritmo. Além disso, há as inúmeras opções e facilidades que a internet proporciona. ;O idoso está usando o tempo livre de maneira mais ativa. Por um aspecto, diminui também a solidão, pois pode fazer contato com outras pessoas e resgatar aspecto da história de vida dele;, diz.
Edna tem conta no Facebook, Instagram, WhatsApp e até no Tinder. A inclusão no mundo das redes sociais começou pelo incentivo da família. Ela afirma que o primeiro contato com a internet foi por meio do Orkut e do e-mail, que a filha e o genro criaram para ela. No início, Edna diz que sentiu dificuldade, porém, com o tempo, foi se adaptando, assim como acontece a cada atualização que aparece.
A dona de casa ainda enfatiza que as ferramentas digitais têm ajudado a mantê-la em contato com a família, e funcionam como um escape nos momentos de solidão. ;Eu moro sozinha, mas não me sinto só, porque a rede social não deixa. Quando me sinto sozinha, procuro alguém on-line para conversar;, comenta.
Edna ainda complementa: ;O WhatsApp de manhã, para a gente, é uma alegria. Quando acordo, já tem um monte de bom dia e mensagens dedicando bênçãos. Ao mesmo tempo, recebo e envio também.;
Longe da solidão
A professora da Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora do Programa Uniser (Universidade do Envelhecer), Margô Gomes Karnikowski, ressalta que a solidão é um grande problema para muitos idosos.;Muitas pessoas se preocupam com o aspecto biológico, mas o envelhecimento social é muito significativo e cruel. Quando as pessoas não conseguem conviver em sociedade, elas ficam marginalizadas, sozinhas nos seus lares, às vezes, até negligenciadas. Uma estratégia importante de integração passa, sim, pelas redes sociais;, afirma.
Margô explica que, além de ajudar na socialização, as redes proporcionam a interação de diferentes gerações em um mesmo ambiente. ;As redes não se importam com a faixa etária. As pessoas conseguem se comunicar, muitas vezes, melhor pelas redes sociais do que presencialmente ; embora os idosos precisem manter a afetividade, assim como qualquer outra pessoa, e o convívio presencial é indispensável nessa faixa etária;, analisa.
Trazendo o longe para perto
As especialistas destacam que outro benefício do uso das redes sociais pelos idosos é a possibilidade de conversar com pessoas que estão distantes, conhecer gente nova e até mesmo viajar sem sair do lugar, principalmente para aquele que tem dificuldade de mobilidade. ;Eles podem visitar um museu, ver algo em tempo real, participar de uma festa via skype;, exemplifica a psicóloga Valmari Aranha.
A aposentada Dulce Maria de Oliveira,75, não tem problemas de locomoção; porém, alguns parentes moram muito longe e as redes sociais servem para manter o contato. ;Nem toda hora a gente pode estar frente a frente com nossos familiares. Pela internet, eu posso me comunicar com qualquer um. Eu tenho parentes em Nova Jersey e converso com todos eles pelo WhatsApp;, comenta.
Apesar das redes sociais serem uma opção de comunicação, Valmari alerta que é preciso ter limites, para que a presença virtual não roube o espaço da presença real, pois mensagens de texto e vídeochamadas não substituem o corpo a corpo. ;O lado negativo disso também pode ser o isolamento. A internet não pode se tornar um motivo para ele deixar de ir presencialmente a eventos ou deixar de sair para encontrar pessoas para ficar em casa nas redes sociais;, frisa.
A família
A participação da família é algo comum entre os idosos antenados. No quesito tecnologia, até os netos socorrem os avós quando algo dá errado no aparelho. ;Até os bisnetos já ajudam. Tenho uma de 10 anos que sabe de tudo. Eles têm mais facilidade que a gente;, ressalta Dulce.
E não é só em relação a informações técnicas que os familiares atuam. Se tem gente que não curte quando aquela tia começa a comentar fotos antigas, os familiares da aposentada, pelo contrário, não dispensam o ibope que ela dá para eles nas redes sociais e até dão conselhos. ;Eles só não gostam quando eu descarrego 30 fotos de uma vez. Eles falam que eu posso colocar menos, que não precisa pôr todas;, brinca.
Valmari explica que conselhos são bem-vindos, pois alguns idosos não têm a dimensão do alcance das redes sociais, assim como um adolescente. Porém, é preciso ficar atento para não interferir demais e acabar se tornando um sensor deles na internet. Ela destaca que é preciso respeitar a forma de pensar dos idosos. ;Se tem algo que diverge, converse e explique como as redes sociais funcionam para que ele possa se resguardar. Não chamando a atenção e, sim, respeitando e orientando;, aconselha.
A psicóloga ainda destaca que muitos idosos se reaproximam dos familiares por meio dos grupos de WhatsApp, tendo mais voz, usando a mesma linguagem.
"Nem toda hora a gente pode estar frente a frente com nossos familiares. Pela internet, eu posso me comunicar com qualquer um"
Dulce Maria de Oliveira, aposentada.
Atualização necessária
Aos poucos, o aposentado Enéas Francisco de Souza, 75, viu os papéis abrirem espaço para as telas; as longas filas para resolver problemas serem trocadas por alguns minutos em frente ao computador. Uma facilidade que era preciso aproveitar. Com o tempo, Enéas foi percebendo que o computador não era um bicho de sete cabeças e que ele poderia facilitar, e muito, a sua vida. Para fazer as pazes com a ferramenta e usá-la a seu favor, o aposentado decidiu se matricular em um curso de informática e encarar o mundo digital.
Enéas faz curso de informática no Serviço Social do Comércio (Sesc) em uma turma dedicada especialmente para a terceira idade. Com o auxílio dos professores, aprendeu a usar o computador. ;Tudo que eu sei eu aprendi aqui. Eu não sabia nada. Agora, eu consigo;, garante.
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Hoje, ele reconhece que a tecnologia veio para facilitar, e não complicar. Enéas conta que, atualmente, resolve muitas coisas pela internet e reconhece o valor do conhecimento. ;Ajuda muito. Quando teve a lei da empregada doméstica, a maioria das coisas resolvia pela internet. Toda coisinha que você aprende é algo a mais na sua vida;, comemora.
O aposentado acrescenta que a inclusão digital veio por incentivo da filha. Valmari ressalta que muitos idosos ainda têm resistência ao computador, com medo de não conseguir mexer, além de muitos familiares não terem paciência de ensinar. ;Se o idoso tem cognição preservada, ele tem que romper a resistência e não ter vergonha de ter dificuldade de usar o celular ou um computador. O que para a criança é natural, para ele não é. É um processo de aprendizado.;
"Se o idoso tem cognição preservada, ele tem que romper a resistência e não ter vergonha de ter dificuldade de usar o celular ou um computador" - Valmari Aranha, secretária-adjunta da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia
Dicas preciosas
- Não tenha vergonha de pedir ajuda.
- Continue treinando o rompimento do preconceito.
- Se você tem dificuldades, procure um aparelho maior, com menos funções, que ajude apenas nas que você quer.
Fonte: Valmari Aranha, secretária-adjunta da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia