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Saiba como viajar em grupo sem confusão

Além de diversão, a viagem pode sair mais barata. Para especialistas, planejamento e organização ajudam a evitar conflitos

Viajar é sempre uma aventura. Há quem prefira encarar os destinos sozinho, mas há quem não abra mão de boas ; e muitas ; companhias. A experiência, porém, pode render alguns problemas, já que reúne pessoas com características diferentes e pensamentos diversos, mesmo que o objetivo seja um só: se divertir. Confusões à parte, relatos mostram que uma viagem em grupo sempre rende boas histórias e, se bem planejada, é possível, sim, agradar a todos os envolvidos.

Os aposentados Eurípedes Avila de Oliveira, 59 anos, e Leiva Mara de Avila, 57, já são experientes no assunto e garantem que quem viaja com eles se apaixona. Eurípedes conta que reúne os familiares para passeios à praia desde 1990. ;Começou com a vontade do meu irmão de conhecer o mar. Fomos a primeira vez com 14 pessoas.;

Desde então, juntos, os parentes conheceram 11 estados brasileiros e visitaram lugares como Praia do Francês, Porto de Galinhas e Morro de São Paulo. Eurípedes conta que eles viajam todo ano e chegam a repetir alguns destinos. ;Só não fomos em 2010, porque eu estava fazendo um tratamento contra um câncer. Nós ficamos, mas o grupo foi.;

Conforme o tempo foi passando, o grupo cresceu. Hoje, além de filhos e sobrinhos, os netos fazem parte da festa. Para estas férias, os aposentados contabilizam 25 pessoas. Além de se hospedarem todos em uma mesma casa, eles irão em um micro-ônibus. ;A gente não fica em hotel, sempre alugamos casa ou apartamento, porque sempre viajamos com criança. Preferimos fazer nossa própria comida;, comenta Leiva.

A aposentada explica que, em algumas viagens, eles alugam mais de uma casa. Além disso, todas as tarefas são divididas. ;Todo mundo tem de ajudar. Os homens também colocam a mão na massa, lavam a louça, há uma divisão de tarefas;, garante Eurípedes.


Pesquisa e planejamento


Para garantir o sucesso de uma viagem com muitas pessoas, organização é fundamental. No caso de Eurípedes e Leiva, ela começa no planejamento. O local da viagem é definido pelo grupo. Leiva fica responsável por pesquisar os imóveis e os pontos turísticos, e Eurípedes cuida das negociações e do transporte.

Para discutir os detalhes, os familiares aproveitam as facilidades proporcionadas pela tecnologia. ;No início, a gente se reunia, discutia o local, cada um dava uma ideia;, relata Leiva. ;Hoje, nós temos um grupo no WhatsApp, em que colocamos as ideias e tomamos as decisões.;

O consultor de turismo José Mário Vinhas destaca que o primeiro assunto a ser tratado na organização de uma viagem é o investimento. Ele indica que é preciso saber quanto cada um está disposto a gastar e, a partir daí, definir o destino e o tipo de hospedagem. Segundo José Mário, com as ideias postas à mesa, fica mais fácil definir se a aventura é viável para todos.

Outra dica do consultor é planejar com antecedência. Ele afirma que combinar antes o roteiro e pesquisar os valores ajudam a evitar surpresas desagradáveis e descontentamentos durante os passeios. ;O que é combinado não sai caro! É bom definir antes, para não ter problema na hora;, orienta.

Você não está sozinho!

Além de organização, Eurípedes destaca que compreender o lado do outro é indispensável e, em decisões complicadas, vale o que a maioria decidir. ;Como é um grupo, é claro que há ideias diferentes. Um quer A, outro quer B, assim dá confusão. Quando cada um abre mão de um desejo em prol da maioria, não há como dar errado;, enfatiza.

O aposentado ainda ressalta que é preciso buscar sempre contemplar as necessidades dos outros para garantir que todos se divirtam. ;Meu irmão mais velho tem dificuldade para dormir; então, ele sempre fica com um aposento melhor. A gente pensa nas necessidades de cada um e, com isso, a gente vai ter pessoas descansadas e alegres durante toda a viagem;, exemplifica.

De acordo com a vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem, Magda Nassar, as pessoas que viajam em grupo precisam ter a consciência de que não estão sozinhas. Diante disso, pontualidade e responsabilidade não podem ficar de fora.

A estudante Luiza Aviani, 22, viajou para Dublin, onde se encontrou com mais 11 pessoas. Ela conta que uma das dificuldades do grupo era justamente a pontualidade. ;Algumas pessoas são bem enroladas para se arrumar. Então, as que ficavam prontas iam indo na frente para adiantar;, diz. Nos tours, não era diferente. ;Todas queriam tirar fotos. Eu também tirava, mas tinham umas que ficavam mil anos. Eu sentia que a gente perdia tempo. Para fazer todas as coisas com o dia claro, tínhamos de andar rápido; então, a gente ia na frente;, comenta.

Atendendo às particularidades


Magda Nassar ainda indica que os viajantes não precisam fazer tudo junto. Para ela, é necessário deixar alguns dias livres de programação, assim as pessoas se sentem livres para não aderir a todos os passeios do grupo. ;Pode-se criar opcionais dentro da viagem. Sempre há os dias livres. Os grupos acabam formando subgrupos;, comenta.

Foi assim que Luiza conseguiu resolver alguns conflitos durante a viagem a Dublin. Ela conta que a confusão do que fazer já começou antes, na decisão de ir ou não às Falésias de Moher. ;Uma parte da galera queria fazer esse passeio; outra, não. É muito caro e muitos falavam que o tempo estaria ruim. Então, decidimos que quem quisesse ir comprava, mas deixamos para decidir na hora, porque descobrimos que podia reservar um dia antes;, exemplifica. Luiza comenta que, apesar da discussão, todos do grupo acabaram indo.

A decisão de se dividirem para certos passeios foi a solução em muitas ocasiões. ;Muitos queriam pagar algumas atrações; outros, não. Então, quem já tinha comprado ingressos ia, e os outros ficavam e faziam outra coisa;, frisa Luiza.

Uma viagem que vale a pena!

De acordo com a gerente de vendas Viviane Pio, viagens em grupo, inclusive aquelas programadas por agências, tendem a sair mais em conta. ;Quando as operadoras elaboram roteiros para grupos, conseguem melhores negociações com fornecedores para passagem aérea e hospedagem, por exemplo;, comenta. Leiva concorda. ;Falo que vou fazer um blog sobre como conhecer o Brasil gastando pouco;, diverte-se.

Além de mais barata, os viajantes garantem que boas companhias deixam a aventura bem mais divertida. ;Eu indico;, destaca Luiza. ;Um grita daqui, outro grita dali. O melhor é a comunhão, é uma coisa bem gostosa. A gente volta com gostinho de quero mais;, enfatizam Eurípedes e Leiva.