O altruísmo é uma especial característica da espécie humana, já que estende os benefícios de nossas boas ações a indivíduos que não fazem parte do núcleo familiar. Atualmente, há uma forte linha de pesquisas que busca explicar as raízes de nossas ações altruísticas através da ideia de que elas podem gerar ganhos do ponto de vista de reputação, colocando o altruísmo como uma possível vantagem evolutiva, ou seja, indivíduos com comportamento altruísta teriam maior chance de sucesso em gerar descendentes. Essa discussão incomoda um pouco alguns dogmas religiosos que não aceitam a teoria da evolução e entendem que o homem foi criado já pronto e que a criação o fez bom e generoso. Entretanto, algumas diretrizes religiosas são até concordantes com o conceito de altruísmo gerando reputação, só que a recompensa viria após a morte.
O aumento da reputação poderia gerar vantagens ao altruísta de duas maneiras, e vários estudos experimentais têm confirmado essas posições. A primeira é a chamada reputação recíproca indireta, que é a tendência de membros, até mesmo não beneficiados, recompensarem o altruísta, de forma também altruística. A segunda maneira seria a sinalização por parte do altruísta de uma imagem favorável a relações sociais, alianças e parcerias (sexuais ou não). Nesse caso, ambas as partes se beneficiam no processo, pois os observadores lucram em ter sinalizações de qualidade na potencial relação.
Esse efeito reputação é ainda mais reforçado por resultados de pesquisas que evidenciam que ações altruísticas são maiores quando há platéia. Além dos potencias ganhos sociais, há um outro nível de recompensa, já que nosso sistema cerebral de recompensa e prazer é ativado quando nos doamos para outras pessoas. Tudo isso não é simples ceticismo. O corpo atual de evidências nos faz pensar que nosso cérebro evoluiu para se sentir bem fazendo bem aos outros e que isso permitiu que aumentássemos nosso potencial de relações e procriação.
O comportamento humano frente a situações injustas reforça ainda mais o papel da reputação como base do altruísmo. Experimentos nos mostram que indivíduos que assistem a uma situação de injustiça, que não os afeta pessoalmente, ganham em reputação quando assumem um comportamento de punição à injustiça. Esse comportamento também ativa os centros cerebrais de recompensa.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e Diretor Clínico do Instituto do Cérebro de Brasília