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Comportamento, referências e estilo: o K-pop está na cabeça dos jovens

Entenda como o gênero se tornou uma referência cultural

Ronayre Nunes
postado em 28/04/2019 08:00
Matheus, Yasmin e Viniciús encontraram no K-pop um estilo de vida, que seguem à risca

Doramas, idols, aegyo, stan, maknae. Os termos podem até soar estranho para alguns, mas a aposta é que se tornem cada vez mais comuns no Ocidente. Impulsionada pela onda da música K-pop, grande parte da cultura da Coreia do Sul começa a ganhar destaque do outro lado do mundo. Moda, estilo e comportamento já podem ser percebidos nas ruas, pelas mãos ; e criatividade ; dos fãs.

[SAIBAMAIS]A Revista foi conferir como o domínio do K-pop extrapolou as barreiras da música e está se tornando uma verdadeira referência de atitude. E se você quiser saber como essa cultura se traduz na prática, nada melhor do que falar com quem entende do assunto: os fãs.

Mais do que copiar o estilo asiático, quem curte K-pop, está mais disposto a usar de referências que caibam dentro da realidade do brasiliense. De acordo com os fãs, não há apenas um estilo K. Cada artista, ou melhor, cada ;idol; designará uma tendência, que será uma referência popular de moda e até de comportamento.

;A maioria das pessoas constroem esse estilo pelo trabalho dos idols. Por exemplo, veem os clipes e buscam roupas parecidas em lojas. Se o Blackpink (um dos mais famosos grupos de K-pop feminino) usa peças de Exército no videoclipe, os fãs vão tentar buscar isso também;, explica Viniciús Ramos, 24 anos.

O morador de Planaltina é um fã assíduo que descobriu o gênero sem grandes pretensões e, anos depois, transformou o assunto em um tema de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) do curso de jornalismo, que concluiu recentemente. Hoje, ele mantém, inclusive, um grupo de Facebook dedicado a reunir os apaixonados pelo gênero.

;No vestuário, acho que o destaque fica por conta daquelas camisas de estampa e do estilo colegial, que são uma marca. Os homens usam blusas com um tamanho a mais, calças mais apertada, tênis chamativos, tudo com muita cor. Outro detalhe são os assessórios como uma distinção das roupas;, analisa Viniciús.

Para a graduada em direito Yasmin Góes, 22, o K-pop vai além da moda ; é uma influência até de comportamento. A moradora da Asa Norte conta que conheceu o gênero em 2010, por meio de uma playlist indicada por uma amiga. Logo, a música evoluiu para os doramas ; as novelas sul-coreanas ; e, quando percebeu, o K-pop tinha se tornado uma referência na vida dela.

;Eu posso dizer que tudo ocorreu meio inconscientemente. As novelas coreanas são muito fortes nesse quesito de influência, e podem ir moldando várias áreas de comportamento com os amigos, com os familiares. É uma espécie de alegria e entusiasmo que é passada para o público, e que está no comportamento dos fãs. Na gastronomia, também houve influência. Passei a consumir mais a comida oriental. São pequenas coisas que vão mudando no dia a dia;, conta Yasmin.

E se o comportamento já está completamente ligado ao gênero, com o estilo não é diferente. Yasmin afirma que o mais interessante da simbologia do K-pop no vestuário diz respeito à expressão e à ousadia do se vestir: ;Saias, sapatos mocassins, assessórios. São looks divertidos, que se refletem também na maquiagem, com o batom vermelho mais centralizado e mais esfumaçado nas laterias, o delineador focado para o final do olho, uma coisa mais suave. A questão das cores é muito forte. Hoje, eu saio para comprar roupas coloridas, coisa que eu não fazia muito antes.;

Gênero free


O K-pop chamou a atenção de Matheus Mendes, 23, logo após o graduado em direito ter feito um intercâmbio na Coreia do Sul. De acordo com ele, dois fatores se destacam em relação ao estilo: o gênero free e a distinção de estações.

A designação de gênero entre homem e mulher é menos latente na cultura K, o que, para Matheus, é uma característica positiva: ;Não tem tanto aquela coisa ;de homem e de mulher;, as roupas podem ser mais claras e acessórios não muito comuns no Brasil podem entrar. Não são só aqueles tons mais escuros. Os tênis brancos são usados. Há toda essa questão do colorido e do contraste.;

Matheus cita ainda a influência das estações. Para os idols, a primavera é tempo de abusar das estampas e do estilo floral, enquanto o verão fica marcado pelo vestuário de marcas esportivas. Para o jovem, os cuidados com a pele, que a cultura K-pop trouxe da Ásia, vai além da maquiagem. ;Tem toda uma complexidade. Um grande diferencial da maquiagem oriental é essa questão de tentar mostrar que você não está usando muita maquiagem. Eles buscam um rosto mais perfeito do que uma maquiagem marcante, e se preocupam muito com o cuidado da pele exatamente por conta disso.;

Vitrine


Quer apostar em um look influenciado pelo K-pop, mas não sabe por onde começar? Dá uma olhada nestas opções:

Saia xadrez: a peça é uma carta na manga para o estilo colegial, visto em diversos idols K-pop. Uma dica é apostar naquelas com a cintura mais alta. Saia xadrex, da C (R$ 99,99) Saia xadrez da C

Acessórios: abusar dos detalhes é uma das marcas do estilo. Vale apostar em pulseiras, brincos, gargantilhas, grampos e até pequenos bichinhos de pelúcia como chaveiro de bolsas e mochilas. Aqui a dica é dá asas à liberdade criativa. Grampos de cabelo, da C (R$ 29,99 cada) Grampo de cabelo claro

Cores: outra marca de inovação do gênero são as cores, e abusar delas é quase uma regra. Os tons quentes chamam mais atenção, mas os claros também entram no jogo, principalmente se você tiver com assessórios mais chamativos. Blusa amarela Cortelle, da Renner (R$ 79,90) Blusa amarela Cortelle

Moletons: os grandes moletons fazem parte do guarda-roupa K-pop. As cores, é claro, são o grande destaque. Vale também apostar nos casacos cropped. Moleton laranja, da Renner (R$ 139,90) Moleton laranja blue steel


Uma forma de expressão


;Para mim, achar o K-pop foi como encontrar o meu lugar. O lugar de uma pessoa tímida, que gosta de cuidar das pessoas, de gostar das mesmas coisas e virar amigo. E a cultura coreana tem muito disso: do cuidar. Foi um mundo de cultura e comportamento que eu conheci pela música.; A estudante Maria Fernanda Teixeira conta a revolução que o K-pop causou em sua vida. Ela foi apresentada ao gênero pela irmã mais nova e lembra que o gênero se tornou uma porta de expressão que até então desconhecia.
Maria Fernanda acredita que o gênero a ajudou a se expressar melhor

;Eu sempre tive um estilo mais alternativo, porque achava que, se fosse me expressar, seria algo estranho. Mas, com o k-pop, há esse desapego de se dizer o que quer, eles não têm medo de ousar, de exagerar. E acho que isso me inclui;, descreve a moradora da Asa Norte, com o jeito calmo de falar e sincero de sorrir.

De acordo com a estudante, o gênero foi um catalisador dessa expressão, especialmente por meio da moda ; algo que a antiga Maria Fernanda nunca imaginou alcançar. ;Eu tenho um tênis de bolinha, coisa que eu não usava, mas hoje eu uso muito. Mais saias, suéteres. Já tive o cabelo pintado. Mas o mais importante é que gosto mais dessa identificação com o estilo.;

Conexão Brasil-Coreia


Luiza Akemi curte o K-pop diretamente da Coreia e não deixa de postar as aventuras nas redes sociaisAfirmar que o destino do intercâmbio de Luiza Akemi, 22, foi escolhido exclusivamente pelo K-pop seria um erro. Entretanto, é inegável que a estudante de publicidade e propaganda está tendo, na Coreia do Sul, a oportunidade de conferir in loco como funciona o gênero de música que tanto curte. ;Ele acabou moldando meus gostos no geral. Principalmente na Coreia, porque as pessoas se inspiram muito na moda do K-pop e eu comecei a mudar involuntariamente meu estilo. Se antes eu não me importava com minhas roupas, passei a notar mais esses detalhes;, observa Luiza.
Se as roupas ganharam nova perspectiva, a estudante garante que a maquiagem teve uma influência ainda maior. ;As coreanas investem em maquiagens, e eu passei a usar o ;blush de bêbado;, como eles falam aqui, porque deixa a bochecha mais vermelha e funciona bem para o meu rosto.; Algo parecido aconteceu com o cabelo da jovem. ;Eu nunca liguei para o cabelo, porque eu tinha preguiça, mas um dia eu ;meti a louca; e cortei uma franja muito popular aqui. Depois, também pintei os fios. Nesse sentido, acho que o K-pop me deixou mais aventureira;, brinca a estudante.

Na palma da mão


Perfis nas redes sociais com dicas e os próprios idols no Instagram são uma fonte quase infinita de conteúdo da K-pop. Conheça os mais populares:

@bemy1in: Se você quiser um fonte de inspiração em roupas e estilo, a grande dica é seguir @bemy1in. Com muito rosa, ela mexe com a imaginação dos fãs do gênero com vestuários luxuosos. @bemy1in


@midorithais: A blogueira é uma verdadeira fã da cultura coreana e leva para os seguidores um pedaço de todo o estilo do país asiático. No conteúdo, tem desde dicas de maquiagem até viagens. @midorithais


@xxibgdrgn: Na área dos idols, um dos destaques é o cantor G-Dragon. Com imagens bem conceituais, o astro aposta em uma visão mais jovem do gênero para os mais de 16 milhões de seguidores. G-Dragon


@ponysmakeup: No perfil, o grande foco é a maquiagem. Não existem muitos tutoriais, mas as fotos para se inspirar são uma verdadeira obra-prima. Ponys Makeup


@lalalalisa_m: Outra idol de peso no mundo da influência digital é Lisa, do grupo Blackpink. Para quase 12 milhões de seguidores, a jovem apresenta um estilo mais sexy do K-pop. Lisa

Onda crescente


Para a assessoria de imprensa da Embaixada da República da Coreia, o K-pop já ultrapassou os limites da música há muito tempo e agora é um espelho da Coreia no mundo. ;A crescente popularidade do K-pop em todo o mundo ajuda a melhorar a imagem nacional da Coreia e faz com que as pessoas saibam mais sobre o país mundo afora. O K-pop também pode ajudar a espalhar outros tipos de produtos culturais coreanos, como filmes, dramas e literatura. Estimamos que agora existam cerca de 70 milhões de fãs da chamada onda K nos países (do mundo) ; esse número aumentou mais de 230% em relação a 2014;, afirma.

No Brasil, a embaixada, inclusive, sedia eventos semanais para os amantes do gênero. De acordo com a assessoria, a popularização da cultura sul-coreana pelo K-pop é um fator que coincidiu com a expansão das redes sociais e, por isso, gerou tantos frutos. ;O K-pop começou a atrair audiência global a partir do final dos anos 1990. No início, o gênero se tornou popular entre os países asiáticos vizinhos, como o Japão e a China. Com o desenvolvimento de plataformas de mídia on-line, como o YouTube, rapidamente se tornou um fenômeno global. Esse sucesso pode ser atribuído ao sistema de produção bem coordenado e criativo da indústria cultural coreana. Os artistas passam por muitos anos de preparação, desde os primeiros anos, até se tornarem estrelas e ídolos.;

Moda e música de mãos dadas


Estilista, designer, consultora de moda e CEO da Fashion Campus, Mábel de Bonis defende que a influência da música na moda e nos gostos populares não é uma novidade. E mais: pode funcionar como importante catalisador de criatividade. ;O diálogo da arte com a moda sempre existiu, mas a partir da década de 1960 ficou muito forte, especialmente com a música. Se um criador de moda quiser realmente criar algo inovador, um caminho é apostar nas artes.;

Sobre a moda K-pop, Mábel avalia que grande parte das referências está englobada na cultura asiática, já conhecida pelo quesito novidade e ousadia. ;A moda asiática tem influência dos animes e dos personagens populares. É algo jovem e que está fora das convenções;, ressalta. Ela reforça que isso é tão forte que, quando querem pesquisar uma moda mais ligada à inovação, os criadores de tendência mundo afora sempre vão à Ásia.

Como em outras tendências de moda e estilo iniciadas pela música, grande parte da atitude K-pop é pautada pela visão criativa dos idols, ou seja, dos grandes nomes do entretenimento do país. Na prática, os astros abusam de cores ; especialmente nos cabelos ;, peças em formatos simétricos, muitos assessórios ; desde os clássicos, como pulseiras e colares, a chaveiros e até pequenos bichos de pelúcia ;, plataformas no pés e vestuários que frequentemente extrapolam os limites de gênero sexual.

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