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Qual a cor da sua inveja? Branca ou marrom?

Atualmente reconhece-se que há dois tipos de inveja: uma benigna e outra maliciosa. No caso da inveja benigna, o que é invejado é uma coisa, como o carrão novo do vizinho. No caso da inveja maliciosa, a inveja é de uma pessoa e não da coisa em si

*Por Dr. Ricardo Teixeira
postado em 13/05/2019 12:30

Atualmente reconhece-se que há dois tipos de inveja: uma benigna e outra maliciosa. No caso da inveja benigna, o que é invejado é uma coisa, como o carrão novo do vizinho. No caso da inveja maliciosa, a inveja é de uma pessoa e não da coisa em si

Situações competitivas podem gerar sentimentos positivos de identificação com outros membros do grupo capazes de gerar alianças, mas podem também estimular sentimentos como a inveja e até mesmo satisfação com o infortúnio dos outros. O filósofo alemão Arthur Schopenhauer dizia que sentir inveja é humano, gozar do infortúnio dos outros é diabólico.

Atualmente reconhece-se que há dois tipos de inveja: uma benigna e outra maliciosa. No caso da inveja benigna, o que é invejado é uma coisa, como o carrão novo do vizinho. Essa inveja também é conhecida como inveja branca. No caso da inveja maliciosa, a inveja é de uma pessoa e não da coisa em si. Essa é a inveja marrom.

Temos evidências de que quando a inveja é mais focada na pessoa do que na coisa, ela vem frequentemente acompanhada do sentimento que a língua alemã chama de "schadenfreude" ; prazer pelo infortúnio dos outros. Nesse caso, a depender da situação, há uma forte presença de desumanização, rivalidade ou senso de justiça social.

Já foi demonstrado que algumas regiões cerebrais são fortemente envolvidas no processamento desses sentimentos. Pesquisadores israelenses da Universidade de Haifa mostraram que indivíduos que apresentam lesões cerebrais nas regiões frontal e parietal têm reduzida capacidade de sentir inveja ou prazer com o infortúnio alheio em testes psicológicos que simulam esses sentimentos.

Pesquisadores japoneses apontaram que as mesmas áreas cerebrais ativadas no processo de dor física são ativadas também em testes psicológicos que envolvem a "dor" de assistir ao sucesso do outro. Mostraram ainda que testes psicológicos que envolvem a percepção do infortúnio alheio ativam o mesmo circuito de recompensa cerebral que é ativado quando experimentamos situações prazerosas como comer uma barra de chocolate.

Ambientes de trabalho competitivos são palcos propícios para a expressão desses sentimentos, que podem ser vistos como o ;dark side; da experiência humana. Uma dica valiosa para um líder de equipe é priorizar incentivos para o grupo e não para os indivíduos isoladamente.

* Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e Diretor Clínico do Instituto do Cérebro de Brasília

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