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DFB: Política e diversidade dominam passarela no primeiro dia de desfiles

Na edição de comemoração dos 20 anos, o maior evento de moda autoral da América Latina trouxe coleções conscientes, cheias de protestos e peças deslumbrantes, em castings marcados pela diversidade

Ailim Cabral
postado em 16/05/2019 17:10

Desfiles DFB 2019

Fortaleza ; A primeira noite de desfiles da edição de 20 anos do DFB Festival encheu os olhos de quem acompanhou as passarelas. Os destaques da noite de quarta (15/5) foram para Vitor Cunha e Caio Nascimento, que estrearam no festival. O segundo trouxe um desfile com clima de manifestação política, no mesmo dia em que o país entrou em ebulição com milhões de pessoas tomando as ruas protestando contra os cortes de verbas na educação.

O estilista foi ovacionado na passarela e o público vibrou com as manifestações contra homofobia, presentes nos looks e no casting. Com jeans, babados e mangas bufantes em modelagem moderna, o estilista trouxe um desfile de protesto.

As peças tinham em suas estampas os lemas ;paz, elegância, amor e tesão; e vieram com uma estilo agênero. Homens de vestido, salto e brincos grandes. Caio apostou na diversidade no casting e a trilha sonora ditou o clima do desfile. A maioria dos modelos surgiu amordaçada com uma tira de pano com a palavra ;não; escrita.

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Nomes como Celina Guimarães, a primeira mulher a conquistar o voto no Brasil, Olga Benário, Zuzu Angel e João Goulart, entre outros, também figuravam nas estampas.

No início, peças fortes com músicas que remetiam à resistência. Em um momento chave da apresentação, áudios com declarações polêmicas do presidente Jair Bolsonaro se mesclaram à melodia. Ao fim das falas, uma música suave trouxe a transição para peças mais românticas, finalizando com um modelo de vestido e salto alto, que arrancou aplausos entusiasmados.

Praiano

Vitor Cunha apresentou uma coleção que levou a plateia à praia. Os primeiros looks vieram em tons claros, misturados a um azul intenso. Em seguida, veio o verde-água e, por fim, o laranja remetendo ao pôr do sol. O degradê de cores nas peças e transição suave de cores reforçava a ideia do mar e das ondas.

O designer trouxe peças de macramê em tramas usadas pelos pescadores em redes de pesca, remetendo à herança nordestina.

O desfile da Parko, na primeira da noite, chamou a atenção pela passarela montada na praia, em frente ao mar. O ponto de partida visual da coleção foi a flor de lótus, com pinceladas de preto, branco e tons terrosos. Os looks seguiram uma linha atemporal, com silhueta ampla e confortável.

As peças são de tecidos de fibras naturais e biodegradáveis, além de algodão com tingimento vegetal. A marca mostra sua preocupação com o meio ambiente em uma coleção inspirada na lei do retorno, ;Colhemos o que cuidamos de semear, de plantar;.

Almerinda Maria, já consagrada na capital cearense, trouxe uma coleção inspirada na pequena notável Carmen Miranda. Com tecidos nobres, como linho, voil de algodão e gaze de seda, crou peças em branco, off-white e nude, cores tradicionais da marca, em modelagens que brincavam com as tendências das décadas marcadas pela arte da cantora, como cinturas altas, mangas amplas e cheias de detalhes, além de muitos babados.

O coral, o ocre e o preto foram os destaques de cor, inspirados em frutas e temperos brasileiros, segundo a marca.

O Homem do Sapato trouxe uma coleção levemente diferente do que já é tradicional da marca. Modelagens modernas, tênis entre o tradicional e o slip on, botas robustas e releituras da sandália clássica do vovô, se misturaram ao estilo clássico da grife, com mocassins e sapatos sociais.

Gisela Franck trouxe uma estética diferente para a passarela. Com uma renda diferenciada marcada pela leveza, criou peças fluidas, com um linho cheio de movimento, que se destacava quando as saias das modelos rodavam.

Todo o clima do desfile remetia a um jardim dos sonhos, onde fadas e ninfas desfilavam os looks etéreos, carregando flores nos braços e nos arranjos de cabelo.

O desfile da Água de Coco misturou tecidos que normalmente não são vistos juntos, como chamois e lurex. As criações foram inspiradas no sertão e trouxeram muitos babados com assimetria, além da leveza nas saídas de praia.

Com bordados e detalhes luxuosos em modelagens perfeitas, a marca pode ser chamada de beachwear couture. A Água de Coco voltou ao line up do DFB depois de oito anos e encerrou o primeiro dia cheia de estilo.

Duas décadas de DFB

Este ano, na comemoração de 20 anos, a organização do DFB apostou em um novo local, no Aterro da Praia de Iracema. O local histórico marca o final do Centro histórico de Fortaleza e o início da capital moderna, com arranha-céus e empreendimentos inovadores.

Ao longo do evento, o maior de moda autoral da América Latina, ocorrerão 36 desfiles e 20 shows, além de palestras, workshops e balés. No espaço de mais de 27 mil m; acontece ainda uma feira de economia criativa com 60 expositores.

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