postado em 02/06/2019 04:29
Sabor paraense
Quando soube que a final da Copa Verde seria entre Gama e Paysandu aqui em Brasília, Pollyana Dahas viu ali uma oportunidade de dar uma alavancada nos negócios. Era maio de 2016 e havia quase um ano que ela e o marido, Wady Dahas, tinham inaugurado um restaurante especializado em comida paraense na Asa Norte. O movimento, porém, andava muito ruim. ;Tinha dia que a gente não vendia nem R$ 80. Mal dava para pagar os funcionários;, recorda-se.
Pollyana e Wady pegaram os filhos gêmeos e seguiram para a porta do estádio, no Gama, com panfletos do Du Pará em mãos. ;Quando víamos um torcedor do Paysandu, tradicional clube de futebol de Belém, perguntávamos se ele morava aqui ou no Pará. Quando dizia que em Brasília, entregávamos o panfleto e o convidávamos a conhecer o restaurante.;
A ação surtiu efeito. Nos dias que se seguiram, os clientes começaram, aos poucos, a chegar. E o boca a boca se espalhou. Foi o início da guinada nos negócios do casal. ;Sempre tivemos muita fé e acreditamos no nosso trabalho. Até os amigos mais próximos diziam que não ia dar certo. Sugeriram até que colocássemos um self-service e largássemos esse projeto de só vender a tradicional comida paraense. Mas persistimos. E deu certo;, comemora.
Persistência, aliás, é o segundo nome de Pollyana. Boa de tempero, ainda na adolescência ela ia para a cozinha ajudar a madrasta, que era dona de um bufê em Paragominas, cidade do interior paraense onde Pollyana nasceu e cresceu. Aos 17 anos, mudou-se para Belém para estudar. Ingressou na faculdade de engenharia civil e, na universidade, conheceu Wady. Como ele era dono de uma pequena construtura, foi trabalhar com o então noivo. Casou-se, teve os gêmeos, hoje com 8 anos, e acabou trancando a faculdade.
O marido, por sua vez, também largou a construção civil e decidiu se mudar para Brasília, onde as duas filhas, frutos do primeiro casamento, moravam. ;Ele veio na frente, em 2013. Eu, as crianças e o cachorro chegamos em 2014;, conta Pollyana, que a essa altura era famosa entre parentes e amigos por cozinhar muito bem. Até então, porém, nem passava pela cabeça dela que as panelas seriam seu principal instrumento de trabalho.
Sucesso
Na capital, no entanto, os planos começaram a mudar. De tanto ouvir que cozinhava bem, Pollyana resolveu levar a sério as sugestões dos amigos de montar um restaurante. Mas não qualquer um. ;Não queria ser mais um em Brasília. Queria que ele fosse especializado em comida paraense;, diz. No entanto, havia um problema nessa decisão: apesar de ter um tempero maravilhoso, ela não dominava a gastronomia do estado natal. Mas logo veio a solução.
Na época do primeiro casamento, Wady foi dono de um restaurante na Orla de Icoaraci, tradicional ponto turístico de Belém. A casa ainda existe e é tocada pela ex-mulher dele, que mandou para Brasília a sua mais experiente cozinheira. Durante 10 dias, a profissional, expert na culinária paraense, fez uma imersão na cozinha com Pollyana. ;Eu aprendi tudo o que precisava para montar o restaurante.; Assim, o Du Pará abriu as portas em outubro de 2015, na W3 Norte.
O início, como citei acima, não foi fácil. ;Nos primeiros meses, quase não havia clientes, e nós nos endividamos. Não tínhamos outra fonte de renda. Primeiro, vendemos o carro de Wady. Depois, o meu. Fomos morar, eu, ele, os gêmeos e o cachorro, numa quitinete. Precisamos nos desfazer de todos os móveis;, detalha Pollyana.
Hoje, porém, com um público fiel de paraenses e também de brasilienses e de gente de passagem pela cidade, a casa virou uma espécie de ;embaixada; do Pará em Brasília. Na trilha sonora, apenas música do estado nortista, como o popular tecnobrega, e nas prateleiras, produtos típicos da região. ;O paraense tem muito orgulho da sua gastronomia e da sua cultura, que são tão ricas. A nossa comida tem forte influência de portugueses, indígenas e africanos;, ressalta a chef.
E o cardápio é justamente um apanhado dessa mistura: do clássico arroz de pato no tucupi com jambu, passando pelo tacacá, a maniçoba e o caruru. Tem ainda a coxinha com recheio de vatapá de camarão e jambu, criação da casa e que faz bastante sucesso. ;Essa receita você não encontra nem no Pará;, garante Pollyana. Para a coluna, ela preparou uma moqueca de camarão à moda paraense, que não está no menu.
Recentemente, diante do grande número de vegetarianos e veganos que frequentam o restaurante, a chef criou dois pratos para atender esse público. Em um deles, a maniçoba, tradicionalmente preparada com a folha da mandioca moída e cozida e as carnes da feijoada, ganhou uma versão em que as carnes são substituída por linguiça defumada de soja e polpa de jaca assada no forno. ;Muitos vegetarianos vinham aqui tomar açaí, outra especialidade do restaurante, e ficavam só olhando as pessoas comerem pratos salgados;, explica a motivação. Todos os ingredientes vêm diretamente do Norte.
O sucesso tem sido tanto que, há um mês, o casal abriu uma filial do Du Pará na Asa Sul, também na W3, no antigo Mercado Municipal. Agora, os amantes da boa comida amazônica têm dois endereços para se deliciar com iguarias tão marcantes. ;Hoje, os nossos clientes são os nossos melhores amigos.; Vale a pena fazer parte dessa ;comunidade;.
Receita
Moqueca de camarão à moda paraense
Ingredientes
* 1kg de camarão rosa eviscerado
* 200ml de azeite de dendê
* 1 cebola picada
* 1 cebola cortada em rodelas
* 1 cabeça de alho
* 1 pimentão (de qualquer cor) cortado em rodelas
* 200g de farinha de trigo
* 300ml de água
* Sal branco a gosto
* Cebolinha cortada a gosto
Modo de preparar
* Bata o trigo com os 300ml de água na batedeira até dissolver toda a farinha. Reserve.
* Frite a cebola picada e o alho no azeite de dendê até dourar.
* Acrescente o camarão e o sal. Refogue bem.
* Coloque 200ml de água, o pimentão e a cebola em rodelas e mexa bem.
* Em seguida, acrescente, aos poucos, o trigo batido. Vá mexendo e colocando-o até dar uma engrossada.
* Por fim, ponha os ovos cozidos e a cebolinha e sirva com arroz branco.
Serviço
Restaurante Du Pará
714 Norte, Bloco G
Telefone: 3967-4007
509 Sul, Bloco G
Telefone: 3447-3074
Abertos de segunda a sexta, das 10h30 às 20h, e sábado, domingo e feriados, das 10h30 às 18h