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Cozinha sustentável

O espírito empreendedor e a preocupação com o meio ambiente dominam a cozinha do chef que descobriu a paixão pela gastronomia já na adolescência

postado em 16/06/2019 04:22
O espírito empreendedor e a preocupação com o meio ambiente dominam a cozinha do chef que descobriu a paixão pela gastronomia já na adolescência
Pedro Coe começou a empreender ainda na adolescência. Ao perceber a grande movimentação de barcos no lago nos fins de semana, veio a ideia: por que não ir até eles, que costumavam atracar na Barragem do Paranoá, para vender sanduíches naturais e bebidas? O garoto pegou, então, o jet ski que ficava parado na casa da avó, onde também morava, e começou a fazer as entregas.

O sucesso foi tanto que, seis meses depois, Pedro pensou em expandir os negócios. Como a garagem de barco da casa, situada na ML 13, estava desocupada, ele fez uma proposta para a avó: transformar o local em um pequeno restaurante. Ela não só topou como logo tratou de montar o cardápio. A pernambucana decidiu ofertar as suas três especialidades: galinha à cabidela, peixada e macarrão com camarão. Assim, com um menu enxuto, nascia o Doca.

Todos os fins de semana, o então adolescente ; Pedro tinha 14 anos quando começou o empreendimento ; ajudava a avó no restaurante idealizado por ele. Em pouco tempo, construíram um deque para receber mais barcos, já que o principal público era justamente as pessoas que passeavam de lancha pelo lago. ;Tudo era muito simples, mas sempre estava cheio;, recorda-se. O Doca funcionou de 2004 a 2009, ano em que o rapaz entrou na faculdade.

Ao contrário de muitos jovens, na hora de escolher o que fazer, Pedro não teve nenhuma dúvida: ingressaria em gastronomia, mesmo o curso sendo muito recente ; ele é da segunda turma do Iesb. Como ficaria difícil conciliar a faculdade e o Doca, ele avisou à avó que não poderia mais ajudá-la. ;Ela, então, decidiu fechar o restaurante. E me disse que, quando eu me formasse, ele seria meu.;

Apaixonado por gastronomia, Pedro, ainda na adolescência, começou a comprar livros e revistas do ramo. ;Hoje, tenho uma enorme coleção, uma biblioteca respeitável.; Desde cedo, também começou a cozinhar para parentes e amigos. Durante os dois anos de faculdade, dedicou-se bastante aos estudos e, quando se formou, como prometido, recebeu o restaurante de presente da avó.

Pedro fez, então, uma reforma no local e reabriu as portas, agora com uma pegada diferente, com um menu mais amplo e contemporâneo. Manteve, porém, o funcionamento do Doca Cozinha Contemporânea apenas nos fins de semana e feriados. ;Fiz também uma releitura da peixada da minha avó, cozinhada em panela de barro. Mas a servia à francesa, empratada;, recorda-se. A casa funcionou até 2017.

Comida saudável

Como o Doca só abria sábado e domingo, Pedro tinha tempo durante a semana para tocar outros projetos. Assim, chegou a atuar no Ô, Porketa ; antiga sanduicheria na Asa Sul ; e passou a se interessar pelos negócios do pai, dono de um spa na cidade desde 2004. ;O Balsamo tem essa filosofia de vida saudável e segue a linha do vegetarianismo;, detalha. Lá, não é oferecido nenhum alimento de origem animal, tanto para os clientes que ficam internados quanto para os que apenas usufruem do day spa.

As refeições são preparadas por uma cozinheira, treinada dentro dessa filosofia. ;O que acontecia é que muitos pacientes, depois que saíam do spa, queriam manter a alimentação saudável em casa. Dona Geni (a cozinheira), então, preparava uns congelados para eles levarem em potinhos, mas tudo informalmente.;

Foi quando Pedro, com o tino empreendedor aguçado, sugeriu ao pai fazer do Balsamo também uma marca de produtos congelados saudáveis. Com o fechamento do Ô, Porketa, o chef herdou um ultracongelador, que permite o congelamento rápido do alimento, preservando a textura, o aroma e o sabor. Era o equipamento que precisava para começar o negócio.

Pedro fez, então, uma imersão na cozinha do Balsamo, recebendo os ensinamentos de dona Geni, e estudou muito sobre vegetarianismo. ;Na faculdade, não havia nenhuma disciplina do gênero, pelo menos na minha época;, ressalta. O rapaz, hoje com 28 anos, passou a pesquisar muito sobre esse tipo de dieta, aprendeu sobre segurança alimentar e começou a usar a cozinha do Doca durante a semana, quando estava fechada, para preparar os congelados.

O negócio deslanchou rapidamente, o que obrigou Pedro a tomar uma decisão: fechar o Doca e se dedicar integralmente ao Balsamo Congelados Saudáveis. ;Eu estava trabalhando de domingo a domingo, sem descanso. Daí, coloquei na balança: devia continuar com um restaurante que só abria dois dias da semana e, ainda assim, quando fazia sol, ou investir em um negócio promissor?;

Decisão tomada, em junho do ano passado fechou definitivamente as portas do Doca e expandiu o Balsamo. Mudou-se para uma loja na Asa Norte, onde, além de produzir os congelados, os vende. Pedro negociou ainda alguns pontos de venda de seus alimentos em lojas especializadas em artigos saudáveis e até grandes redes de supermercado.

O cardápio, todo criado por ele, inclui de refeições naturais ; muitas delas releituras de clássicos da gastronomia, como a paella vegetariana, cuja receita o chef compartilha com os leitores da coluna ;, caldos, lanches vegetarianos, leites vegetais, shakes com superalimentos e sucos 100% da fruta. ;Quando é necessária a adição de água, usamos água de coco;, detalha. No total, são 53 produtos à disposição dos clientes.

Pedro garante que os pratos não levam conservantes e, sempre que possível, são preparados com produtos orgânicos. ;O único problema dos orgânicos é a sazonalidade, mas sempre trabalhamos com produtores locais.; Preocupado com o meio ambiente, o chef usa embalagens biodegradáveis e manda todo o lixo orgânico para compostagem, em Vicente Pires. ;Transformamos os dejetos em adubo, que é distribuído gratuitamente aos nossos clientes.; O meio ambiente agradece!


Paella vegetariana

Ingredientes para o arroz
  • 1kg de arroz-cateto integral
  • 2 litros de caldo de vegetais
  • 200g de cebola branca
  • 100g de alho-poró
  • 1colher de sopa de sal marinho
  • 1 sachê de paellero ou pistilo de açafrão

Ingredientes para o refogado
  • 300g de cebola roxa em pétalas
  • 150g de pimentão vermelho em tiras
  • 150g de pimentão amarelo em tiras
  • 350g de vagem em diagonal
  • 250g de ervilha torta cortada ao meio em diagonal
  • 1unidade de brócolis japonês em floretes
  • 15g de alga hijiki hidratada
  • 100g de alho-poró em rodelas finas
  • 1 colher de sopa de sal marinho
  • 250g de castanha-de-caju
  • 100g de azeitona preta em rodelas
  • Pimenta-biquinho para decorar

Modo de preparar
  • Refogue a cebola em lâminas, o alho-poró em rodelas e o sal marinho até ficarem macios. Acrescente o arroz-cateto lavado e hidratado. Em seguida, ponha o caldo aromático e cozinhe com a panela tampada em fogo baixo. Reserve.
  • Branqueie o brócolis japonês, a vagem e a ervilha torta e passe por água gelada. Refogue a cebola roxa, o alho-poró, os pimentões, o sal marinho. Em seguida, acrescente a alga hidratada, os vegetais branqueados e finalize com o arroz cozido, a azeitona preta e a castanha-de-caju. Decore com pimenta-biquinho.


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