postado em 14/07/2019 04:30
Ao ingerir um alimento, buscamos muito mais do que simplesmente saciar uma necessidade. Comer também pode ser um momento de comunhão, compartilhamento ou até um guilty pleasure ; prazer culposo, em livre tradução. Especialistas apontam que existem dois tipos de fome: a fisiológica, quando o corpo libera grelina ; hormônio da fome ; como um aviso de ele precisa de nutrientes; e a hedônica, que está relacionada com o prazer e também a lembranças, como aquele pudim ou bolo que só a mãe ou avó sabe fazer.
;É uma vontade de comer que não tem relação com o estômago vazio, mas, sim, com aspectos emocionais, com a busca pelo prazer que determinados tipos de alimentos, como os processados, podem liberar no organismo;, explica a endocrinologista Tassiane Alvarenga.
Esse tipo de fome é comum a todos o indivíduos. O problema é quando a comida passa a ser usada como válvula de escape para problemas emocionais. ;O paciente começa a buscar no alimento maneiras de aliviar os problemas de estresse, cansaço, sono, e isso, a longo prazo, gera hábitos alimentares transtornados. O resultado do descontrole será ganho de peso, problemas metabólicos e, depois desse episódio, sempre vem o sentimento de culpa e uma restrição para compensar. Torna-se um ciclo;, alerta a nutricionista Annie Bello, do Instituto Nacional de Cardiologia.
No caso de Silveria Oliveira, 29 anos, descontar sentimentos na comida sempre foi algo corriqueiro, mas o hábito tomou proporções graves quando a dona de casa começou a ter crises de ansiedade, em 2011. ;Sempre que começava a me sentir mal, eu tinha vontade de comer. Ganhei quase 30kg na época.;
Há solução
E a busca da dona de casa sempre era por produtos doces. O apetite por alimentos específicos é uma das características da vontade de comer hedônica. ;A procura é por alimentos hiperpalatáveis, ricos em açúcares e carboidratos, que estimulam o hipotálamo (região do cérebro) a liberar sensações de prazer;, explica a nutricionista Anne Bello.
Com o ganho de peso, Silveria começou a ter problemas de circulação, o que a fez procurar por ajuda para reverter a compulsão. Além do acompanhamento psicológico, ela passou a praticar cross fit. ;Vem melhorando minha saúde, disposição e, principalmente, minha ansiedade.;Segundo a endocrinologista Tassiane Alvarenga, a estratégia de unir acompanhamento psicológico com exercícios físicos é, de fato, a recomendada. ;Quando a situação chega a esses extremos, é preciso acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, que conta com endocrinologista, psicólogo e nutricionista para montar um cardápio adequado e um plano de exercícios. Nos casos de compulsão graves, existem até mesmo medicamentos que podem ser usados.;
Outra alternativa é o autoconhecimento ; começar a reconhecer o que de fato é fome. ;É literalmente comer com atenção plena, estar mais atento a si, motivando o autocuidado com a prática de exercícios, frequentar ambientes saudáveis;, ensina Anne Bello.
A especialista defende ainda que a comida pode, sim, ser uma fonte de prazer, desde que consumida com equilíbrio.;Não existe um alimento herói ou vilão, mas deve haver equilíbrio, para que não se desenvolvam transtornos de compulsão alimentar. A comida pode ser uma fonte de alegria e comemoração, sem que assuma o controle da sua vida.;
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte