postado em 21/07/2019 04:10
Igor de Paula Ataide, 24 anos, agradece todos os dias por ter nascido novamente. E não apenas uma, mas três vezes. Logo depois do parto, os médicos detectaram uma malformação no bebê: o fígado não tinha ligação com o intestino. Com apenas um mês de vida passou por uma cirurgia. Problema resolvido, durante 20 anos viveu normalmente, apenas com acompanhamento e exames periódicos.
Mas, de repente, em 2015, o fígado de Igor começou a falhar, e ele precisou entrar na fila do transplante. Em abril, veio a boa notícia: havia um órgão disponível para o rapaz. A cirurgia foi um sucesso. A alegria, porém, durou pouco. O corpo do jovem rejeitou o fígado vindo do Piauí. Três dias depois, lá estava Igor novamente na mesa de operação para um novo transplante.
Desta vez, não houve rejeição, mas algumas complicações no pós-operatório o deixaram entre a vida e a morte. Igor passou dois meses na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Instituto de Cardiologia do Distrito Federal. E lutou bravamente. ;Não foi fácil. Eram alguns minutos de visita por dia. O cirurgião ficou tão comovido com a minha história que, em um dado momento, pediu à chefe da UTI para arrumar um quarto mais reservado para eu ter acompanhante.;
Recuperado, o jovem voltou para casa. Mas não por muito tempo. ;Um dia, comecei a ter febre e ficar ictérico. Corremos para o hospital e descobrimos que havia ocorrido uma trombose na artéria do fígado;, recorda-se. Em setembro daquele mesmo ano, lá estava Igor novamente se submetendo a um transplante. ;Desta vez, saiu tudo como o esperado. Em quatro dias, já tinha recebido alta, como deveria ter sido da primeira vez.;
Todos esses problemas de saúde fizeram com que o brasiliense interrompesse por um ano o sonho de trabalhar com a paixão que descobriu ainda no ensino médio: a gastronomia. Mas o deixaram ainda mais forte para encarar o que vinha pela frente.
Amor à primeira vista
Igor conta que, quando estava no terceiro ano, o colégio em que estudava levou os alunos para conhecer o Iesb, em uma espécie de experiência vocacional. De cara, ele se encantou pelas instalações do curso de gastronomia. ;Tivemos uma aula demonstrativa de preparo de pães. Ali, eu descobri qual seria a profissão que queria seguir;, lembra. ;Na minha família não existe ninguém que cozinha, não cresci com essa referência. Mas sempre gostei de assistir aos programas de tevê de gastronomia. Só isso.;
Não foi naquele ano, porém, que o sonho do rapaz seria realizado. Igor passou no Programa de Avaliação Seriada (PAS) e entrou no curso de história da UnB. ;Fui mais para ver qual era.; Depois de um semestre e meio de aula, porém, teve certeza de que não seria feliz ali. Largou a universidade e começou um trabalho de convencimento da mãe para que ela aceitasse o seu ingresso em gastronomia. ;Minha mãe tinha muito preconceito com a profissão, achava que não dava futuro. Sem falar que o curso era caro.;
No processo de amolecer o coração da mãe, Igor contou com o apoio de uma tia. E acabou conseguindo. A família fez uma reestruturação orçamentária e, com muito esforço financeiro, o jovem partiu para realizar o sonho. Tudo ia às mil maravilhas quando os problemas de saúde começaram a aparecer. ;Eu estava na metade do curso;, recorda-se. Até que conseguisse se recuperar, Igor foi obrigado a dar uma pausa de um ano em todos os projetos. ;Quando voltei, estava com todo o gás.;
Daí pra frente, depois do renascimento, nada mais segurava o garoto. Cada vez mais convicto de que tinha feito a escolha certa, Igor partiu em busca de experiência profissional. Fez um estágio no Bla;s, onde ficou por sete meses. Depois, passou pela cozinha do restaurante Enquanto isso.... Desde janeiro, já com o diploma em mãos, começou uma nova empreitada. Foi contratado pelo Empório Zíngaro, na Asa Norte, para comandar as panelas no período da noite.
O lugar, conhecido por oferecer cervejas especiais e artesanais, tem um cardápio enxuto e feito, sob medida, para conversar com a bebida. São sanduíches e hambúrgueres ; o de peixe, criado por Igor, tem feito muito sucesso ; e petiscos, como a Raquete Laqueada, cuja receita o chef compartilha com os leitores. ;Essa é uma das grandes pedidas da casa.; Durante o dia, algumas vezes por semana, o Empório, que vende ainda produtos ligados à gastronomia, oferece almoço executivo. Mas, no turno diurno, a cozinha fica sob responsabilidade de outra chef.
Hoje, Igor garante estar totalmente recuperado, inclusive sem restrições alimentares. E, no auge dos 24 anos, sonha em voar alto. ;Quero estudar e trabalhar no exterior;, planeja. Não quer desperdiçar a chance ; ou melhor, três chaces ; que a vida lhe deu.
Raquete laqueada
Ingredientes
- 400g de raquete de frango (facilmente vendida em supermercados)
- 1 pimenta dedo-de-moça com semente
- 5g de páprica picante
- 5g de páprica defumada
- 4 gotas de fumaça líquida
- 5g de pasta de pimenta coreana fermentada
- 300ml de água
- Sal e pimenta-do-reino a gosto
- 200g de açúcar refinado
Modo de fazer
- Sele as raquetes temperadas com sal, cebola e alho, dos dois lados, em uma frigideira com óleo quente até que fiquem douradas. Tire e coloque em um papel toalha para tirar o excesso de óleo, Reserve.
- Processe a pimenta dedo-de-moça, as pápricas, a fumaça líquida e a pasta de pimenta coreana fermentada em 300ml de água ; pode bater no liquidificador ; e passe na peneira para tirar as sementes. Coloque esse suco em uma panela para ferver.
- Enquanto isso, em uma frigideira quente, ponha o açúcar aos poucos e vá mexendo, até formar um caramelo. Quando estiver pronto, coloque o suco fervente (isso fará com que não cristalize), aos poucos, na panela onde está o caramelo. Mexa até ficar uniforme. Depois, deixe uns cinco minutos em fogo médio, sem mexer, para reduzir o caldo.
- Por último, volte as raquetes para uma frigideira, em fogo médio, e jogue o suco misturado ao caramelo. Vá mexendo até dar uma laqueada.
Serviço
Espaço Zíngaro
CLN 316, Bloco E
Telefone: 99641-0175
Abre segunda, das 11h às 17h, e de terça a sábado, das 11h à 1h.