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Conheça os tipos e como tratar a temida doença do carrapato

Muito temida pelos donos de pets, a doença causada pelo hospedeiro tem cura e diagnóstico rápido, mas é preciso ficar atento para evitar as complicações

Cachorros são, no geral, animais extremamente ativos. E na casa da estudante Beatriz Dafne, 22 anos, a cadela Princesa sempre foi conhecida na família pela agitação. Fugir para brincar com os cachorros da rua era uma das estripulias frequentes.

Mas o comportamento da cadela mudou drasticamente de repente. ;Começamos a perceber que tinha algo errado quando ela parou de latir. E logo depois, ela parou de comer;, relembra a estudante. Em janeiro deste ano, foi diagnosticada com a doença do carrapato.

Apesar de ter um nome só, a doença do carrapato engloba um conjunto de quatro males transmitidos pelo hospedeiro Rhipicephalus sanguineus, o carrapato. No Brasil, as mais comuns são a Erliquiose ; causada pela bactéria Ehrlichia canis, que ataca os glóbulos brancos do sangue e compromete o sistema imunológico do animal ; e a Babesiose ; provocada pelo protozoário Babesia canis, que atinge os glóbulos vermelhos e causa anemia (veja box).

Mesmo sendo diferentes, os sintomas clínicos das doenças pouco variam, e não é raro que as doenças estejam simultaneamente no cachorro.

Quando infectado, o animal demonstra apatia, para de comer e pode apresentar hematomas pelo corpo, sangue nas fezes e aspecto amarelado nas gengivas e nas mucosas. ;Nos casos mais graves, o animal pode ter alterações neurológicas que, se não tratadas, podem levar a óbito;, explica a veterinária Bruna Tadine Conti.

Princesa estava bem debilitada quando recebeu o diagnóstico e, apesar de ter sido tratada corretamente, convive com as sequelas deixadas pela doença até hoje. ;Ela tem muita dificuldade para comer, porque não consegue mais abrir a boca toda, só uma parte. Oferecemos sempre alimentos mais molinhos para ela mastigar;, conta Beatriz.

Apesar de temida por tutores de pets, tanto o diagnóstico quanto o tratamento são simples quando a doença é identificada precocemente. Exames de sangue básicos conseguem atestar a enfermidade e o tratamento dura de 15 a 30 dias, à base de antibióticos. Também é indicado o aporte de vitaminas, para fortalecer o animal.

Em casos mais graves, pode ser necessário uma transfusão de sangue para ajudar o cão a se recuperar. ;Quanto mais cedo os sintomas forem observados e o diagnóstico for dado, maiores as chances de cura. Por isso é fundamental agir rapidamente e procurar um profissional;, alerta a veterinária Amanda Corrêa.

Atenção redobrada

Agir rapidamente foi o que evitou sequelas nos cachorros da empresária Gabriella Astofoli dos Reis, 26 anos. Três, dos seis cachorros que possui, tiveram a doença. ;Como passamos por muitos casos, sabemos administrar a situação da melhor maneira possível. Logo que detectamos os sintomas, corremos ao veterinário para ter o diagnóstico e iniciar o tratamento;.

Mas, após tantos casos, a empresária decidiu agir com prevenção: todos os animais da casa tomam remédios contra carrapatos. ;Há mais de um ano que não tem nenhum caso aqui em casa;.

Além dos remédios preventivos, ter um ambiente higienizado para o animal é primordial. ;Manter o ambiente do pet limpo e realizar a assepsia do cão ou gato com produtos específicos para matar os carrapatos também é importante, pois permite um controle maior sobre o lugar em que o animal vive;, garante Amanda Corrêa.

Os cuidados devem ser tomados independentemente de o pet ter contraído ou não a doença, pois não gera imunidade. ;Existem dois casos em que ela pode voltar a se manifestar no animal: a primeira é quando os sintomas desaparecem, mas a doença continua no organismo, no que chamamos de período latente; a segunda e mais comum é quando o bicho continua exposto a carrapatos e volta a ser infectado;, alerta Bruna Tadine Conti.

Examinar o corpo do animal com frequência também é uma alternativa para evitar a doença. Ao notar a presença de carrapato, o ideal é não fazer a remoção com as mãos, e sim com produtos específicos. ;Antigamente era muito comum essa remoção manual, mas existem grandes chances do aparelho bucal do carrapato continuar fixado ao animal, o que faz com que essa retirada não seja eficiente;, alerta o veterinário Cristiano Anjo.

*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira

Três perguntas para três especialistas

É verdade que a doença é mais comum no verão? Por quê?
Sim. Os carrapatos preferem ambientes com clima quente, o que aumenta a proliferação desses animais. Então o cuidado com eles no verão precisa ser redobrado.
Veterinária Amanda Corrêa

A doença pode infectar seres humanos?
Não se transmite a doença do cachorro para o tutor. O hospedeiro intermediário é sempre o carrapato. E existem algumas doenças transmitidas pelo carrapato que podem afetar seres humanos, como é o caso da febre maculosa, muito comum em cavalos e que pode ser bastante agressiva.
Veterinária Bruna Tadine Conti, Elanco Animal Health

Encontrei um carrapato no meu pet? Isso quer dizer que automaticamente ele está com a doença?
Nem todos os carrapatos são infectados por agentes que causam doenças. Para isso, esses animais precisam ter o contato com a doença por meio de um hospedeiro e então se tornarem vetores. Ainda assim, o carrapato precisa de um tempo de fixação no animal de no mínimo 10 horas para transmitir, de fato, a doença.
Veterinário Cristiano Anjo, Elanco Animal Health

Detalhamento das duas doenças

Erliquiose
  • Ataca o sistema de defesa do cão. A bactéria Erhliquia canis induz o corpo do animal a destruir suas próprias células de defesa (glóbulos brancos) e impede a produção de novas células sanguíneas (hemácias). As plaquetas (responsáveis pela coagulação) também ficam comprometidas quando há infecção.
  • A contaminação possui três fases bem acentuadas: aguda, com sintomas comuns a uma infecção, como febre, falta de apetite e perda de peso; subclínica, que não apresenta sintomas e pode durar até mesmo anos após a picada do carrapato; e, por fim, a fase crônica, com sintomas parecidos com os da fase aguda, porém mais graves e intensos.

Barbesiose
  • É similar, mas ataca outras células do organismo: os glóbulos vermelhos, responsáveis pela circulação de oxigênio no sangue. Os microorganismos infectam as hemácias e nelas se replicam, resultando em anemia como a hemolítica imunomediada (quando o sistema de defesa do animal interpreta que as suas próprias hemácias são ;intrusos; e acaba destruindo-as, piorando mais ainda a anemia). Os sintomas da doença são parecidos com os da Erliquiose ; como febre, fraqueza, perda de apetite, entre outros.