postado em 21/07/2019 04:10
Quando fui convidada para participar da versão brasileira do reality show apresentado pela Xuxa, nas noites de quarta-feira, na Rede Record, aceitei imediatamente, afinal o programa é de altíssima qualidade, e eu sou uma pessoa entusiasmada.
Dançar sempre foi para mim muito mais que simples diversão. Movimentar meu corpo desperta minha alegria criativa, permite que minha imaginação decole.
Sinto que a complexidade da alma humana pode ser acessada de diferentes formas, a poesia, a música, a beleza das cores, das formas, da exatidão quase assustadora da física e da matemática, dos significados profundos muitas vezes despertados pela dor, enfim, pela vida pulsando dentro e fora de nossos corações.
A dança é uma experiência tão formidável e constitutiva, que transcende os territórios relativos à humanidade; cientistas norte-americanos publicaram recentemente uma pesquisa realizada com pássaros bailarinos, cujos resultados sugerem que a dança não é nem mesmo um produto arbitrário da cultura humana, mas uma resposta à música que emerge quando certas capacidades cognitivas e neurais se juntam nos cérebros animais.
Assim, cacatuas e ararinhas criam coreografias ao som dos ventos e dos cantos dos rouxinóis.
Dimensões dos comportamentos sociais também podem ser tocadas pela dança. Em minha apresentação de estreia, dancei o paso double, estilo que representa o embate na arena da tourada e traz elementos das tragédias, causadas pelas violentas paixões, entre homem e mulher e, na última quarta-feira, eu me aventurei por dimensões políticas ao apresentar uma performance de fox trote inspirada no filme Cabaré, com Lisa Mineli.
Ao representar o trauma do nazismo chegando à Alemanha e enterrando a liberdade, a genialidade artística de Lisa acendeu os olhares críticos da intelectualidade americana e europeia, ao mesmo tempo em que causou uma reação avassaladora das massas, que consagraram nas bilheterias de cinema os ideais libertários da atriz.
Minha intenção, ao escolher este tema na última quarta-feira, foi seguir numa linha parecida e tentar trazer à lembrança da população brasileira os perigosos desfechos possíveis ao vislumbrarmos a repressão às liberdades sem que nenhuma atitude clara e enfática seja tomada.
O papel do artista, além de saciar sua própria fome de requinte, precisa ser, sempre, o de usar seu corpo, sua inteligência e sua voz para espelhar os acontecimentos atuais e, quem sabe, servir de inspiração para atitudes corajosas capazes de mudar nossos destinos.
E, por falar nisso, se o leitor amigo quiser mudar o meu, pode acompanhar minhas apresentações nas noites de quarta e me ajudar a seguir vitoriosa na competição, já que o voto do público é o que define o jogo, afinal.