postado em 04/08/2019 04:10
Quem vê hoje o suntuoso prédio na esquina da 112 Sul dificilmente imagina que a Casa Doce Família Artesanal começou na cozinha de um apartamento do Plano Piloto, nos anos 1990. Mas a história de Angela Tonon com os doces teve início muito antes, em Bauru, antes mesmo de ela nascer. A paixão pela confeitaria, acredita, está no DNA, herdado do pai, Antonio Tonon.
Antes de contar a trajetória com as batedeiras, Angela faz questão de resgatar a história de seu Antonio. Nascido no pequeno município de Bocaina, no interior de São Paulo, ele não queria passar a vida trabalhando na roça, como o pai e o avô. Aos 14 anos, decidiu se aventurar por Bauru, a ;cidade grande; mais próxima. Conseguiu emprego em uma padaria, onde os patrões o deixavam dormir sobre os sacos de farinha.
Começou a aprender o ofício com os padeiros e, em pouco tempo, tinha total domínio sobre as técnicas de panificação e confeitaria. No trabalho, conheceu Luiza, a balconista, por quem se apaixonou e se casou. Juntos, começaram a sonhar em ter o próprio negócio. ;As pessoas costumavam dizer que em tudo o que o meu pai tocava virava ouro.; E ele aproveitou esse dom para abrir a primeira confeitaria, na década de 1950.
Em pouco tempo, os bolos, doces e pudins do seu Antonio se tornaram referência na região e ele abriu um espaço ainda maior. ;Nos fundos da loja, ficava a nossa casa;, relembra Angela. Foi lá que ela e os irmãos passaram a infância, em meio às guloseimas. Curiosa, ela sempre estava perto do pai, procurando aprender ao máximo a arte da confeitaria.
O casal chegou a ter mais de uma empresa na cidade, mas, depois de um tempo, seu Antonio e dona Luiza se separaram. E ele seguiu por outros rumos, mas sempre entre doces e pães. Foi fazer consultoria para empresas em São Paulo, Paraná, Mato Grosso... Trabalhou para uma grande empreendedora do ramo. ;Ele inventou as massas de minipizzas que até hoje são vendidas em supermercados;, informa Dárcio Barbado, fiel companheiro de Angela há mais de quatro décadas, e uma espécie de ;compartilhador e guardião; das memórias dela.
Apesar da paixão pelos doces e das habilidades manuais, Angela, em um primeiro momento, não seguiu os passos do pai ; que voltou para Bauru e abriu uma nova padaria. Ela fez faculdade de artes plásticas e educação artística, casou-se com Dárcio, oficial da Aeronáutica, e seguiu para Recife, onde ele assumiria um novo posto de trabalho. Lá, nasceu a primeira filha.
Depois de alguns anos, mais uma transferência. Desta vez, para a academia da Força Aérea, em Pirassununga, interior de São Paulo, onde Dárcio foi ser instrutor. Lá, nasceram os outros três filhos do casal, em escadinha. Angela tomava conta da casa e das crianças, dava aula de educação artística em uma escola local e nas poucas horas vagas preparava bolos ; muitos e deliciosos bolos. ;Comecei fazendo para os colegas de trabalho nos aniversários. Depois, quando ia buscar os meninos no colégio, abria o porta-malas e vendia na frente da escola. Com quatro filhos pequenos, era preciso reforçar o orçamento.;
Na capital
E logo vieram as encomendas. Não só de bolos e doces, mas também de salgados, pães recheados, tortas diversas, pães de queijo, tarteletes. ;Tudo o que me pediam, eu fazia. A maioria era receita do meu pai;, detalha. Inclusive a do quindim, que a confeiteira compartilha com os leitores da coluna e é uma ótima pedida para o almoço do Dia dos Pais, no próximo domingo. E, quando Angela tinha feito o nome em Pirassununga, veio uma nova transferência de Dárcio. Agora, o destino era Brasília.
Aqui, a família se instalou em um apartamento na 310 Sul e Angela começou a dar aula no Colégio Nossa Senhora do Carmo. ;Assim, garantia ainda a bolsa parcial das crianças na escola;, lembra. Na mesma época, outras famílias de militares se mudaram para Brasília e a fama da doceira veio junto. ;Eles começaram a fazer encomendas e, quando vi, já estava, de novo, preparando os bolos e doces.;
Com o boca a boca, logo o pessoal da quadra soube das delícias que eram produzidas em um apartamento da Asa Sul. Não demorou muito para Angela ficar conhecida em toda a cidade. ;Tudo era feito na cozinha da minha casa. Quando Dárcio chegava do trabalho, também ia me ajudar a assar bolo. Muitas e muitas vezes, deixava um no forno e ia na escola buscar os meninos. Hoje, eu vejo a loucura que fazia;, diverte-se.
Com os filhos maiores, Angela deixou de dar aulas e passou a se dedicar à grande paixão. ;Meu sobrinho preparou um quadrinho com o nome Casa Doce e colocamos na porta do apartamento. O dia inteiro, era um entra e sai de clientes;, recorda-se. E assim foi até 2006, quando, reformado da Aeronáutica, Dárcio teve mais tempo para também se dedicar aos negócios da mulher. E eles alugaram uma sobreloja de 70m;, na 112 Sul, onde a confeiteira teria mais conforto e espaço para produzir suas delícias. E as encomendas só cresciam.
Em 2012, eles tiveram a oportunidade de alugar o imóvel abaixo da sobreloja e passaram a atender também no local. ;Saímos de uma área 70m; para 400m;;, conta Dárcio. Dos três funcionários iniciais, passaram para quase 60. ;Não demos nenhum passo além das pernas. Fomos crescendo sem pressa.;
Em abril deste ano, veio o maior de todos os passos: a inauguração da nova Casa Doce Família Artesanal, na mesma quadra, só que na loja de cima, com 1.000m;, e a participação ativa dos dois filhos homens do casal. ;As mulheres não sabem fazer nem arroz. Uma é psicóloga e a outra, defensora pública;, brinca Angela. Quanto aos filhos, um fez gastronomia e o outro, nutrição.
Com o talento familiar reunido, os negócios se expandiram. Além de todas as guloseimas, bolos, tortas e salgados, há uma parte de panificação e uma gelateira, sob o comando do filho Fabrício Tonon. É ele também quem assina o cardápio do restaurante, que funciona tanto com almoço executivo quanto à la carte, e do bistrô, aberto, recentemente, à noite. Eles participam, inclusive, da 21; edição do Brasília Restaurant Week, que vai até 18 de agosto, com menu completo ; entrada, prato principal e sobremesa ; no almoço, a R$ 55, e no jantar, a R$ 68.
E, por meio dos filhos, Angela perpetua a memória do pai. Brasília agradece!
Quindim
Ingredientes
- 8 gemas
- 70ml de leite de coco
- 40g de coco ralado
- 15g de manteiga derretida
- 160g de açúcar
Modo de fazer
- Hidrate o coco no leite de coco. Em seguida, misture todos os ingredientes com o fuê, até ficar uma massa homogênea.
- Em uma forma untada com manteiga e açúcar, coloque a massa para assar em banho-maria, em forno médio, por aproximadamente uma hora a ou até ficar levemente dourada.