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Quatro décadas de amor

postado em 18/08/2019 04:16

Depois de 37 anos casados, Júlio*, 62, e a mulher, Lúcia*, 59, sentem-se como no início do namoro. Em janeiro do ano passado, decidiram que era hora de fazer algo para recuperar todo o amor ; e as demonstrações dele ; da época em que se conheceram, no Rio de Janeiro. Com ele sempre muito focado no trabalho e de temperamento difícil, as brigas eram comuns. ;Eu tinha uma personalidade assertiva, para não dizer autoritária. E isso, desconectado dela, ainda, virou uma espiral ruim. Eu sabia que estava irritável;, admite Júlio. ;Se o tempo já dificulta manter a paixão acesa, com o jeito dele dificultava mais;, lamenta Lúcia.

Foi ele quem sugeriu que participassem de um fim de semana de terapia tântrica. ;Eu estava ouvindo rádio, falaram algo sobre o assunto, comecei a pesquisar na internet e fiquei impactado com os depoimentos;, relembra. Ela não estranhou a proposta. Conta que ele sempre foi ;novidadeiro;. Mesmo assim, ambos confessam que foi uma verdadeira quebra de paradigma. ;Saímos da nossa zona de conforto completamente;, diz Júlio.

O casal acredita que foi ele quem saiu mais impactado daquele fim de semana. Tanto que, depois, Júlio continuou fazendo terapia tântrica individualmente, além de participarem de workshops juntos. ;O tantra trabalha a parte sexual, mas é também um estilo de vida. E meu comportamento mudou muito, graças a ele;, conta Júlio, que passou a meditar e garante que não se irrita tanto com situações que antes lhe causariam reações raivosas.

Reapaixonados

Lúcia corrobora que tudo mudou. ;Parece que o horizonte dele se abriu. Ele começou a ter outro entendimento da vida e do relacionamento e, principalmente, passou a ver as minhas dificuldades. Antes, por causa das reações dele, parecia que só ele passava por coisas difíceis e sofria. Eu passei a ter muito mais espaço para me expressar. Foi um processo de reencontro;, alegra-se. Para ela, os dois se reapaixonaram.

Resumidamente, eles acreditam que o tantra trouxe, acima de tudo, autoconhecimento e autoestima. ;E, quando estamos bem com nós mesmos, nos relacionamos muito melhor com o outro;, explica Lúcia. O casal nunca tinha feito nenhum tipo de terapia juntos antes, mas acredita que uma das coisas que lhes manteve juntos por tanto tempo foi a espiritualidade. ;Somos espíritas, então, temos essa conduta de saber que ninguém é perfeito. Essa foi nossa ferramenta a vida toda, e agora somamos mais uma;, explica Júlio.

A terapeuta tântrica Daricha, cofundadora da clínica Atman Consciência e Tantra, explica, no entanto, que nem todo desfecho é o mesmo de Júlio e Lúcia. ;É possível que, no processo, o casal perceba que aquele relacionamento já acabou por ali. Nesse caso, o tantra ajuda que aquela separação seja com carinho, respeito, sem as mágoas comuns desse período;, explica. Segundo ela, o tantra faz com que cada indivíduo se conecte com sua essência, sem interferências externas, para que ele entenda melhor os próprios sentimentos.

*Nomes fictícios a pedido do casal

Os cinco pilares de um relacionamento
  • Amor e admiração: o amor é alimentado pela admiração. Quanto mais se admira, mais se ama.
  • Sexualidade: não se trata só do ato sexual, mas do toque, do carinho, do cuidado por meio do tato, da química. Costuma ser um dos primeiros pilares a cair, e é o que mantém o casal apaixonado mesmo depois de muitos anos.
  • Afetividade: parceria, conversa. Não conversar só sobre o ;tem que;: tem que pagar conta, tem que levar a criança na escola, tem que comprar detergente. É um hábito bom do início da relação que precisa continuar.
  • Objetivos em comum: é necessário existir sonhos individuais e comuns.

*Quando não há esses pilares, é preciso de alinhá-los deixando o ego de lado.

Fonte: terapeuta de relacionamento Rosangela Matos


Objetivos e sonhos compartilhados

Hendrika, 29, e Anderson Alvarenga, 33, engenheiros civis, se conheceram há quatro anos e se casaram no ano passado. Muito ágil e proativa, ela se incomodava com a falta de iniciativa dele para resolver os problemas e as pendências da casa. Ela reclamava, e ele se incomodava com as reclamações e as críticas. Trabalhando e estudando muito, os dois também não tinham muito tempo um para o outro.

Precisaram de uma profunda imersão no coaching para aprenderem a lidar melhor um com o outro. Primeiro, fizeram um fim de semana inteiro de palestras com o coach Paulo Vieira. Depois, identificaram que conversar sobre as contas da casa era complicado e gerava brigas. Fizeram um coaching de finanças para casais.

;Primeiro, eu entendi melhor como eu sou. E, com isso, passei a compreendê-lo melhor;, conta Hendrika. ;Eu tenho a ação, sou de agir. Ele tem é de refletir antes de fazer. E um pode ser extremamente bom para o outro. Isso de entender o outro é uma arte;, completa.

Nos momentos de impaciência de Anderson, Hendrika costumava reclamar. Passou a entender que, se algo estava causando aquilo nele, ela deveria validar aquele sentimento, em vez de criticá-lo e cobrar que ficasse de bom humor. ;Hoje, eu sei que quando ele está assim, está precisando de amor e carinho.;

Para Anderson, a mudança foi extremamente positiva. O casal faz questão de deixar claro que os conflitos não acabaram, mas a forma de lidar com eles mudou. ;Antes, ela falava bastante e eu ficava mais quieto. Hoje, quando temos algum conflito, conseguimos conversar de forma mais empática, se colocando no lugar do outro;, explica Anderson.

Avanços

Anderson estava sempre com a sensação de que não tinha tempo de fazer tudo que precisava. Em casa, pensava no trabalho. No trabalho, pensava nas pendências de casa. Se se dava um momento de lazer, sentia-se culpado. Com isso, o relacionamento ficava de lado. Ele entendeu que devia se dedicar mais à mulher, que deveria se organizar para isso. ;Agora, anoto as metas da semana, foco no que estou fazendo naquele momento. Se estou com ela, não fico no celular falando sobre trabalho, nem conversando com os amigos;, relata. Nessa rotina, ele também ganhou tempo para si.

Os dois mergulharam fundo no coaching e no objetivo de melhorar o relacionamento à medida que passaram a ler diversos livros com os dois temas. Um dos que mais marcou a vida do casal foi As cinco linguagens do amor, de Gary Chapman. ;Com ele, nós entendemos o que faz cada um de nós se sentir amado. Ele se sente prestigiado quando tem tempo de qualidade, e eu quando ele faz coisas por mim;, afirma Hendrika.

O coaching fez com que identificassem problemas que nem sabiam que tinham: não compartilhavam sonhos e objetivos. Isso já está revertido. Agora, têm sonhos individuais, nos quais um ajuda o outro, e ainda sonhos juntos, que envolvem viagens, investimentos. ;Nós saímos do automático;, conclui Hendrika.

Cristiane Sousa, treinadora e master coach da Febracis, explica que a especialidade auxilia primeiro no autoconhecimento; depois, na descoberta e conhecimento de quem é o outro. ;A comunicação fica mais assertiva, gerando empatia e harmonia em todas as decisões. Existe respeito, mesmo diante das diferenças. Os problemas que poderiam desgastar o relacionamento são substituídos por desafios que são superados e trazem crescimento para o casal.;

"Hoje, quando temos algum conflito, conseguimos conversar de forma mais empática, se colocando no lugar do outro"
Anderson Alvarenga, engenheiro civil

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