postado em 18/08/2019 04:16
A semana foi muito intensa na cidade. Na quarta-feira, milhares de mulheres participaram da Marcha das Margaridas, trazendo visibilidade às questões enfrentadas pelas populações quilombolas, campesinas e sem-terra do nosso país.
Muito significativo o fato de que homens e mulheres que não fazem parte desses grupos se uniram ao coro, na certeza de que, em se tratando de garantia de direitos, pouco importa se são os meus ou os seus... TODOS PRECISAM SER RESPEITADOS!
Na segunda-feira, outra marcha de mulheres coloriu as ruas da capital! Sim, coloriu, literalmente, pois eram mulheres indígenas com suas belas peles avermelhadas, seus cocares de penas, seus colares, cintos e braceletes de miçangas... As guerreiras encararam muitas horas de travessia de rios e de estradas de asfalto, deixaram os filhos na aldeia e vieram até Brasília mostrar que, apesar do isolamento em que vivem, fazem parte desta nação e merecem ter seus direitos garantidos.
A maioria delas não fala português, mas suas falas, traduzidas por irmãs e parentes mais novas, tocaram os corações de quem presenciou seus atos. Os temas escolhidos foram saúde, educação e defesa de territórios. Na segunda-feira, marcharam ate o prédio onde funciona a Sesai ; Secretaria Especial de Saúde Indígena, onde fizeram uma ocupação pacífica, mas muito contundente.
Com muita sinceridade, elas falaram sobre o medo de que aconteça, de fato, algo que, para elas, é extremamente ameaçador: a municipalização da saúde indígena. Elas ficam muito apreensivas com a possibilidade de ter que tratar suas doenças em hospitais onde serão submetidas a tratamentos medicamentosos, inclusive antibióticos. Cesariana, então, é algo assustador para essas mulheres que, geração apos geração, têm suas crianças aparadas pelas avós!
O segundo tema foi a educação. E elas lembraram que, em suas tradições orais de transmissão de conhecimento, a informação se mistura às próprias vidas e que, em suas mãos, em seus corpos, guardam mais sabedoria que muita biblioteca por aí.
O terceiro tema foi a defesa de território. A mensagem central foi a de que os povos indígenas já estavam aqui antes da colonização europeia e, portanto, os marcos regulatórios não fazem sentido para eles. E, conectando todos os temas, a forte imagem simbólica do slogan da marcha ; Território: nosso corpo, nosso espírito.
Ainda mais grave que o genocídio deliberado que vem acontecendo em terra Brasílis desde o ano de 1500 é o etnocídio. Tentar destruir a cultura dos nossos povos originários é crime e tem de ser compreendido como tal. Por isso, marchamos, denunciamos e não descansaremos até que uma nova consciência mais respeitosa se estabeleça por aqui!