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Nem azul nem rosa

Mudanças sociais quase sempre têm reflexo na moda. O estilo agênero busca desvincular as peças de roupa dos padrões pré-estabelecidos

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 25/08/2019 04:09
Mudanças sociais quase sempre têm reflexo na moda. O estilo agênero busca desvincular as peças de roupa dos padrões pré-estabelecidos
Meninos vestem azul e meninas vestem rosa? Ao longo dos anos, a ideia de que cores e gênero andam de mãos dadas tem sido desconstruída. O debate possibilitou que, em maior escala, outras questões fossem analisadas e repensadas. Neste cenário de mudanças sociais, em que as pessoas estão questionando padrões impostos, a moda agênero encontrou espaço.

Para Lorenzo Merlino, professor do curso de moda e história da Arte da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), o foco da moda agênero ; ou de gênero neutro ; é ampliar a liberdade do público consumidor, para que esse possa escolher qualquer peça que lhe agrade sem que seja rotulado como masculina ou feminina. É sobre pautar as suas decisões na maneira como deseja se comunicar com o mundo ao seu redor.

;Desde sempre, a moda acompanhou os movimentos sociais e foi moldada e adaptada por eles, e quando se trata de questão de gênero, não podia ser diferente. Essa vertente se mostra como uma resposta imediata para as demandas sociais. E, pelo andar das coisas, é uma macrotendência que veio para ficar;, pontua.

Para o especialista, umas das rupturas mais marcantes faz referência às mudanças das roupas femininas ao longo do século 20. Com as ideias transgressoras de Coco Chanel, por exemplo, as mulheres se libertaram dos padrões de vestimenta que exigiam o uso de espartilhos, e experimentaram calças, golas altas, cores sóbrias, listras e outras referências trazidas do armário masculino. Com a moda unissex, não tem sido diferente.

A curtos passos, lojas de departamento têm implementado coleções-cápsulas sem rótulos. As jaquetas oversized, as calças boyfriend e as camisas alongadas são alguns exemplos de peças que fazem parte da produção do dia a dia e não precisam de definição masculina ou feminina.

Algumas marcas carregam em seu DNA a proposta, como a Ocks; ; que propõe uma estética atemporal e unissex, de silhueta complexa e sofisticada. Outras incluem peças nas coleções que funcionam em um guarda-roupa tanto masculino quanto feminino. Há também as que preferem não se nomear nem como sem gênero ; para elas, roupas são apenas roupas.

;O caminho a percorrer ainda é longo, mas só o fato de já estarmos debatendo sobre a importância de inclusão é muito válida e importante. Quanto mais for questionado, mas estaremos próximos de mudanças concretas;, reflete Lorenzo.


A marca Ocks; promove um estilo agênero e atemporal, que remete aos princípios do slow fashion: elegem um tema anual que contará com peças para dias quentes e outras para dias frios, mas com alinhamento, o que aumenta as possibilidades de uso


A coleção Abstral, de Lourival Souza, ganhou o concurso Destaque de Moda, na categoria unissex, do IFB


A inspiração para a coleção Abstral são os vitrais e as curvas modernas da catedral de Brasília


A marca de Porto Alegre Ocks; desfilou no último São Paulo Fashion Week. Em Brasília, é possível encontrar peças na loja Armária


Peças da LED também podem ser encontradas na Armária. O estilo da marca é cosmopolita, irreverente, universal e sem limitação de gênero.

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