postado em 08/09/2019 04:21
Quando foi que a estupidez se tornou um estilo de vida? Até onde eu me lembro, a gente se esforçava para parecer mais inteligente, culto e sábio do que realmente era; muitos decoravam poemas inteiros, outros liam orelhas de livros para tentar substituir o nunca lido ; daí a criação da expressão ;de orelhada;, para definir qualquer conhecimento raso ; e havia quem chutasse. Valia qualquer coisa para não passar batido.
O festival de ignorância é mundial, mas aqui estamos bem representados. Uma pesquisa realizada há dois anos mostrou que o Brasil ocupa um honroso segundo lugar no ranking da estupidez; só ficamos atrás da África do Sul. Os pesquisadores usaram a percepção da realidade como forma de medir o grau de inépcia do povo.
Cerca de 15 milhões de brasileiros acreditam que a Terra é plana. E não adianta mostrar as tantas fotos e a profusão de provas palpáveis e científicas que dizem o contrário, porque essas pessoas foram convencidas por elas mesmas e mais ninguém. Ou seja: não são céticos, só preferem acreditar em outras coisas ; mesmo que sejam absurdas.
Ironicamente, a ignorância grassa exatamente na época em que a informação é mais abundante graças à difusão dos meios digitais. Basta que alguém espalhe que não se deve tomar vacina, que os idiotas se colocam a inventar motivos para justificar a posição, ainda que alguém refute com dados científicos. Há quem veja o fenômeno como uma reação das pessoas ao senso comum, numa época em que se busca desesperadamente uma identidade própria.
Mas não é só, já que muitas vezes a estupidez é oficial. Nos Estados Unidos, o presidente Trump espalhou uma média de 15 mentiras por dia desde o início do governo, segundo o jornal The Washington Post. Foram 10.111 informações falsas ou enganosas em menos de três anos governo.
No Brasil, acho que ninguém está contando, mas o festival oficial de disparates não é menos significativo. E aqui o presidente se reveza com os ministros.
Vivemos numa era de preguiçosos. Só isso explica a quantidade cada vez maior de livros de autoajuda ; agora com direito a palavrões na capa ; nas livrarias que sobraram. Livros como Os segredos da mente milionária se propõem a deixar qualquer um rico, muito rico; o tema está também em Do mil ao milhão; Pai rico, pai pobre e Quem pensa enriquece. Mais um pouco, estará resolvido o problema da pobreza.
Mas há títulos para toda angústia: Mais esperto que o diabo (que traz uma entrevista inédita com o próprio tinhoso), Como fazer amigos e Influenciar pessoas (que deve ser um manual para amigos da onça), O poder do agora (que promete uma iluminação espiritual para a vida) e O poder do hábito (que tem mais uma fórmula infalível para o sucesso profissional).
É assim: o sujeito investe algo entre R$ 40 e R$ 50, lê entre 300 e 400 páginas e está pronto para conquistar o mundo. Ou, no mínimo, contribuir para o festival de bobagens e mentiras que ouvimos todos os dias.