Revista

Terapia floral

A primavera chega cheia de cores e boa energia. E a Revista aproveita para apresentar um pouco da arte milenar da ikebana

Manuela Ferraz*
postado em 22/09/2019 04:09
É comum na atividade o uso de

Com a chegada da primavera, muitas pessoas procuram levar o colorido das flores e a harmonia do campo para dentro de casa. Porém, há uma prática ainda mais interessante para promover transformação pessoal, do ambiente e a troca de energias com a natureza: a arte de construir arranjos florais orientais, a ikebana. Segundo os praticantes, tratam-se de uma representação do céu, da terra, da humanidade e uma oportunidade de aprender sobre as flores vivas.

Os arranjos são de origem indiana e eram utilizados como oferta religiosa e decoração de altares, mas foi a cultura nipônica a responsável por aprimorar a técnica gráfica e difundir a prática, que busca encontrar a harmonia nas linearidades dos galhos secos, das folhas e das flores. É um método tridimensional, que se assemelha a uma escultura viva. Em um cômodo, a ikebana chama a atenção pelas complexas disposições das plantas, que juntas criam um resultado geométrico singular.
A ikebana é uma arte tridimensional, que se assemelha a uma escultura viva e trabalha com galhos, folhas secas e o colorido das plantas e flores
Em 1994, Zilá Costa Raymundo fundou um clube de ikebana em Brasília, com a missão de promover encontros dos praticantes e oferecer atividades permanentes. Ela conta, porém, que sua paixão pela arte japonesa começou de forma despretensiosa. ;Em uma exposição de pintura, vi um arranjo feito em um recipiente raso. As flores pareciam flutuar sobre a água.;

Por curiosidade, e como sempre gostou de flores, ela procurou a pessoa que fez e pediu para aprender. ;Pensei que fosse um curso rápido, mas descobri que havia uma história fascinante sobre a cultura japonesa. Acredito que meu entusiasmo pela forma como a arte floral ikebana é ensinada contagiou não somente a mim, porque, desde então, nunca mais parei de divulgá-la.;

O clube se transformou na instituição Ikebana Sogetsu Brasília Branch, que hoje conta com um grupo de professores especializados e realiza workshops para transmitir a valiosa arte. Neste domingo, inclusive, um pouco desse trabalho pode ser admirado no Espaço Cultural Renato Russo. Com o apoio da Embaixada do Japão e para comemorar o início da primavera, o instituto apresenta a Exposição Cores da Primavera, com oficinas para crianças e adultos.
A arte é uma verdadeira terapia e exercício da paciência e criatividade: o contato com a natureza e os objetos é totalmente ressignificado
Paciência e perseverança

Para Zilá, enquanto está criando, o praticante aprende sobre características das plantas, exercita a paciência, a perseverança, a transitoriedade. ;As plantas são lindas, efêmeras, cumprem seu tempo de vida e passam. É gratificante ter a oportunidade de levar beleza e vida aos espaços onde pessoas circulam e vivem. Isso é compartilhar, suavizar o dia a dia e propagar cor e natureza;, avalia.

A praticante de ikebana Ines Rampon, também professora do instituto, esclarece que a arte oriental é democrática ao utilizar todos os tipos de ;restos da natureza;, pedaços de plantas secas e também objetos reciclados para compor os arranjos. ;Aprendemos a colher; depois, a adequar nossos materiais e flores para obter um resultado harmônico. A ideia é organizar para criar um produto mais bonito do que estava quando encontramos. Estou trabalhando em um que vou reutilizar cápsulas de café na estruturação. Por isso falo, que a Ikebana foge de um simples arranjo floral, é sempre uma obra que nos fala alguma coisa.;

Para Zilá, o cerrado na primavera é uma inspiração e fonte de criatividade. Suas flores exuberantes, os ipês coloridos em meio às folhas secas e os galhos tortuosos formam um grande cenário da atividade japonesa. Ela reforça que o exercício é uma verdadeira terapia e quem a pratica conseguirá relaxar, encontrar um olhar mais sensível do mundo e todas as belezas da natureza.

*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte


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