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Vozes femininas contra o machismo

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 29/09/2019 04:19
Para que o universo dos games se torne cada vez menos machista, muitas mulheres dão a cara a tapa e se posicionam como protagonistas em um mercado competitivo. Uma delas é a executiva de contas da Brasil Game Show, Bruna Moreira Balbino, 24 anos. Ela mistura os dois mundos. Além de trabalhar nos bastidores, se aventura nas streams e costumava apresentar eventos gamers em Brasília quando morava na cidade.

Hoje, no Rio, é uma das vozes femininas que ocupa seu espaço e luta para que outras mulheres façam o mesmo. ;Videogame não é coisa de menino, temos mais de 49% de mulheres que jogam no Brasil, muitas se escondem atrás de nicknames de homens ou neutros para não sofrerem qualquer tipo de discriminação. Ainda temos muito o que melhorar e lutar, tanto no mercado de trabalho quanto nas partidas on-line.;

Bruna enxerga seu trabalho e o de outras mulheres como uma forma de abrir portas para as próximas gerações. Vítima de assédio em lives, ela afirma que, com o passar dos anos, mesmo sabendo o quanto isso é errado, acabou se acostumando a lidar com a dificuldade. ;O anonimato facilita isso, mas aprendi a filtrar e a ligar só para as coisas boas e para as pessoas que curtem meu trabalho.;

A streamer afirma ter percebido uma melhora de alguns anos para cá, e hoje se preocupa em conscientizar as pessoas e a demonstrar o quanto esse comportamento tóxico pode machucar. Para ela, as mulheres não podem simplesmente aceitar. ;Não é porque estamos expostas na internet que somos obrigadas a ignorar esse tipo de coisa, não podemos alimentar essa postura.;

Enquanto morava na capital, Bruna chegou a apresentar todo tipo de evento geek. ;Foi uma escola para mim, aprendi muito e sinto saudades do público brasiliense, que até hoje pede que eu volte;, comenta. Para a jovem, que transita em vários lados do universo game e também joga por prazer e faz lives, a principal diferença entre jogar on-line sem audiência e fazer stream é a concentração. ;O desafio é conseguir se manter focado no jogo, que depende da sua desenvoltura. A interação com o chat é vital para o entretenimento dos viewers e para que eles continuem interessados em assistir.;

Versatilidade

Fã de streams e também de jogar sem fazer transmissão, Bruna enxerga benefícios nas duas formas. Para ela, a vantagem de jogar offstream é se concentrar apenas no jogo, sem tem que focar em outros aspectos, jogando apenas para relaxar. Já durante as streams, ela gosta de sentir a emoção do público com o jogo. ;O pessoal toma susto, assiste às jogadas ruins que se tornam engraçadas, divide aquele momento com você e vira algo além.;

Bruna gosta também de sempre levar um diferencial às transmissões. ;Não se resume só ao jogo. A gente dá conselhos, conhece histórias, existe uma troca. Temos a liberdade de cozinhar, ensinar uma receita, abrir uma stream no meio de uma festa por celular, fazer um vlog dentro de um evento e o que mais der na telha.;

Perfil dos jogadores

A Pesquisa Games Brasil 2019 considerou que os gamers são todos aqueles que afirmaram possuir o hábito de jogar jogos digitais, independentemente do estilo, da frequência ao longo da semana e do conhecimento sobre jogos.

53% dos gamers são mulheres
37,7% dos gamers têm entre 25 e 34 anos
34,7% têm entre 35 e 54 anos
83% costumam jogar em smartphones

Entre os gamers, a pesquisa dividiu os jogadores ;hardcore; e os casuais:

41,1% dos homens são gamers hardcore e 58,9%, casuais

25,4% das mulheres são hardcore e 74,6%, casuais

Brasil Game Show 2019
A BGS é a maior feira de games da América Latina e reúne novidades da indústria mundial e produtores de jogos nacionais, além de campeonatos de e-sports com premiações em dinheiro e uma série de estandes de jogos. A 12; edição acontece entre 9 e 13 de outubro, em São Paulo

Gamers para acompanhar

Queen Briny de Laet
  • Raphaela Laet, jogadora profissional de League Of Legends, um dos jogos on-line mais famosos da atualidade, tem mais de 120 mil seguidores na Nonolive, plataforma de stream de jogos, e é uma das primeiras mulheres transexuais a fazer sucesso no mundo dos games. Apesar de sofrer assédio e bastante preconceito no meio, nunca desistiu e se tornou inspiração para as mulheres.

Sasa
  • Também jogadora profissional, Flávia Sayuri, 24 anos, ou Sasa, como é conhecida no meio, tem um público de 340 mil seguidores na Twitch, plataforma de stream. Conhecida por não aceitar assédio, foi vítima de machismo ao assumir que viveu um relacionamento abusivo com um youtuber famoso. Além de desenhar e jogar, ela faz lives cantando.

Gabi Cattuzzo
  • Gabriela Cattuzzo, 22 anos, perdeu o patrocínio de uma marca de acessórios para computador ao se defender de um assédio. Em uma foto publicada em um touro mecânico, ela foi alvo de uma série de comentários machistas e sexistas, e reagiu dizendo que ;homens eram lixo;. Vários homens da comunidade a criticaram pelo desabafo e reclamaram com a marca, que retirou o patrocínio da streamer. Gabi tem quase 90 mil seguidores na Twitch.

Presença feminina na criação

Patrícia Gomes Correia, 27 anos, professora da School of Art, Game and Animation (SAGA), leva uma vida de gamer que se aproxima mais dos bastidores do que das lives. Fã de arte, de design e jogos, transformou as paixões em profissão. Como sempre se identificou com o lado artístico e enveredou pela área de design, ao descobrir que poderia aliar essa paixão aos jogos, achou a profissão perfeita. ;Eu me encaixei bem onde eu sempre quis.;

Patrícia enxerga magia na possibilidade de trazer elementos dos games, como a tecnologia, para o mundo real. E vice-versa. ;No mundo dos jogos, você pode ousar, criar coisas que podem vir a acontecer no mundo real no futuro. Com essas possibilidades, as pessoas podem ser quem elas são e criar livremente enquanto se divertem.;

Trabalhando com design e programação, Patrícia afirma que ainda vê poucas mulheres atuando na área e que o preconceito vem não só dos homens, mas também de outras mulheres. Para a professora, uma das soluções é o envolvimento feminino nesse outro lado do universo dos games, buscando a profissionalização e não deixando de seguir o que tem vontade apenas pelo ambiente ainda ser majoritariamente masculino.

;Na escola, eu sou a única professora mulher e vejo que as meninas se espelham em mim. É importante para elas ver outras mulheres posicionadas em diversas áreas desse mercado. Eu faço meu máximo para incentivá-las;, afirma.

Patrícia também incentiva meninas que querem crescer nesse meio a acompanharem streamers e a procurarem os times femininos de e-sports. ;As mulheres têm a oportunidade de irem se apoiando e se ajudando a crescer. Nos times e campeonatos, elas trabalham como um todo para formar um vencedor, e esse trabalho em equipe é fundamental;, completa.

Entusiasta dos videogames desde criança, Patrícia ainda prefere essa plataforma. Mortal Kombat, por exemplo, é um dos jogos que mais ama desde a infância e continua entre os que mais joga. Na época da escola, quando tinha mais tempo, também jogava on-line. Hoje, prioriza os jogos antigos que foram evoluindo ao longo do tempo e que pode jogar sozinha, a qualquer momento, ou com amigos que estão próximos.

Além de estar inserida nas etapas de criação dos jogos, Patrícia é fã da cultura gamer e participa de eventos geeks, fazendo cosplays dos personagens preferidos, como os do desenho Naruto e a Arlequina.

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