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A incerteza pode ser pior do que notícia ruim

Quando alguém nos fala: tenho duas notícias pra contar, uma boa e outra ruim, qual você gostaria de ouvir primeiro? A grande maioria responde que quer ouvir a ruim antes

*Por Dr. Ricardo Teixeira
postado em 22/10/2019 16:55
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Quando alguém nos fala: tenho duas notícias pra contar, uma boa e outra ruim, qual você gostaria de ouvir primeiro? A grande maioria responde que quer ouvir a ruim antes. Reconhece-se que o ser humano tem uma tendência a dar mais atenção a informações negativas do que às positivas. Ter consciência de informações negativas, e presumivelmente ameaçadoras, pode ser visto como um traço de adaptação da espécie.

E o que dizer do incerto? Numa situação em que alguém nos diz: tenho uma coisa para lhe contar, você quer ouvir? Poucos devem duvidar que a maioria nessa situação diria: conta logo!
A incerteza é vista pela psicologia como a antecipação de uma ameaça pouco definida. Se a exposição a um estímulo negativo representa uma ameaça, a exposição ao desconhecido pode ser ainda mais ameaçadora, já que não se sabe o tamanho do inimigo (ou do amigo). Alguns estudos nos mostram que o suspense da incerteza gera mais alterações fisiológicas associadas à ansiedade do que o confronto a estímulos negativos bem definidos. As pessoas preferem um "capeta" conhecido a um que ainda nem conhecem.
Uma pesquisa recém-publicada pelo periódico Nature Communications confirma essa ideia. Voluntários mostravam mais sinais físicos de estresse quando estavam numa situação de expectativa do que quando já sabiam que o desfecho tinha grande chance de ser ruim. O estudo foi feito com um game em que os participantes tinham que atravessar um terreno pedregoso e ficar atentos a cobras. Caso encontrassem um cobra, eles levariam um pequeno choque. Quando a chance de se deparar com uma cobra era de 50%, níveis máximos de estresse eram encontrados. Quando a chance era de zero ou 100%, o estresse caía a níveis mínimos. Por outro lado, o estresse trouxe também seus efeitos benéficos. Quanto maiores os níveis de estresse, maior foi a capacidade de fugir das cobras.
Outra pesquisa recente revelou que os macacos também querem saber das coisas o mais rápido possível e que, do ponto de vista neuroquímico, esse acesso adiantado à informação é semelhante ao de outros tipos de recompensa cerebral. Neste caso, o experimento envolvia a recompensa de uma quantidade de água maior ou menor. Outras pesquisas têm mostrado que, quando o assunto em questão envolve uma experiência negativa, a preferência por acesso rápido à informação é ainda maior.

*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e Diretor Clínico do Instituto do Cérebro de Brasília

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