Revista

Amor pelas panelas

Jornalista troca de profissão e, com muito trabalho e dedicação, se lança em carreira de sucesso no mundo gastronômico

Sibele Negromonte
postado em 27/10/2019 04:20
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Uma das lembranças mais antigas de Dani Vereza é de, ainda criança, preparar a mesa à luz de velas para, quando a mãe voltasse da missa, domingo à noite, a família se reunir para jantar. No início, o cardápio até era uma pizza pedida pelo pai, mas, depois, a própria menina passou a se arriscar na cozinha na preparação de sanduíche e cachorro-quente. ;Podia ser até um misto quente, mas eu sempre arrumava a mesa com esmero;, recorda-se. Ela nem tinha noção, mas começava ali um caso de amor eterno com a gastronomia.

Dani cresceu, se formou em jornalismo e começou a trabalhar com assessoria de imprensa. Mas a paixão pelas panelas continuava ali, e sempre aflorava quando cozinhava para parentes e amigos. De tanto ouvir que deveria comercializar as suas delícias, decidiu iniciar um negócio de personal chef: começou a fazer jantares, pequenos eventos e a receber encomendas de tortas salgadas, quiches, massas frescas e o que mais o cliente pedisse.

Com o aumento dos pedidos, Dani precisava fazer um verdadeiro malabarismo para conciliar os dois empregos e o serviço de personal. Depois de dois anos nessa rotina enlouquecida, pediu demissão de um dos empregos ; e com o dinheiro da rescisão comprou diversos utensílios para equipar a cozinha de casa ;, mas continuou a fazer assessoria para um parlamentar.

Dani diverte-se ao contar um episódio que acabou por adiar sua saída da Câmara dos Deputados. Ela fez um curso de sushiwoman e passou a vender também comida japonesa. Nessa época, o chefe dela teve um infarto e colocou na cabeça que só podia comer salmão. Como a jornalista preparava a comida dele, tinha um pouco mais de flexibilidade para cozinhar. E assim continuava a conciliar o emprego fixo e as encomendas.

Escolhas


Dani seguiu nesse ritmo alucinante por quase uma década, de 1995 a 2004, quando criou coragem e decidiu se dedicar integralmente à gastronomia. Conseguiu um ponto no CA do Lago Norte ; ;numa época em que não existia nem sequer o Iguatemi; ; e abriu um bistrô com café, o Café.com. Ela entrou de cabeça no novo empreendimento. ;Trabalhava de segunda a segunda. Não tinha mais fim de semana com meu marido.;

Como mal conseguia ver os filhos, ainda pequenos, a solução encontrada foi levar as crianças para almoçar no café diariamente. ;Eles chegavam no meio daquela correria e eu sempre perguntava o que queriam comer. E eles respondiam: o mesmo de sempre, ou seja, um filé em cubinhos com catupiry e batata frita;, conta. Até hoje, com os filhos adultos, o ;mesmo de sempre; é um dos pratos preferidos da família. ;É uma comidinha com memória afetiva.;

Dani garante que essa foi uma das fases mais felizes da sua vida, mas também cansativa. Quando chegou ao limite da exaustão, resolver fechar o bistrô, em agosto de 2008. ;Foi uma decisão que tomei, literalmente, do dia para a noite. Separei todos os utensílios que ainda queria, afastei os móveis da minha sala e levei tudo para casa. O que não me interessava, doei. Comecei ali um novo ciclo.;

O descanso durou apenas um mês. Como tinha feito muitos contatos durante o Café.com, a chef criou uma nova linha de atuação: passou a fazer pequenos eventos para empresas, como coffee breaks, reuniões, confraternizações. ;Eles me contratavam, fechavam um cardápio, e eu ia lá servir o bufê.; Em janeiro de 2009, pela primeira vez em muitos anos, Dani tirou férias com a família e, quando voltou, alugou um espaço adequado para abrigar a cozinha de produção. E os negócios expandiram.


No SIA


Por dois anos, Dani ficou responsável pelo espaço gastronômico na CasaCor e também na mostra Morar mais por menos. Passou, assim, a conhecer muita gente da área de arquitetura e design ; razão pela qual a Só Reparos a convidou a assumir a cafeteria da loja, no Setor do Indústrias e Abastecimento (SIA), em 2014. Depois de recusar em um primeiro momento, Dani aceitou a proposta quando ela foi refeita. ;Não queria mais ter um ponto fixo, mas acabei cedendo.; Surgia, assim, a Festim Cafeteria.

Começava ali sua ;história; com o SIA. Em 2017, outro convite tentador fez Dani expandir os negócios e montar um restaurante no Mercado Design. A Festim Cozinha Casual funciona em regime self-service, e o cardápio varia diariamente. ;Não gosto de limites no ato de cozinhar, gosto de me arriscar, de misturar temperos, sabores, texturas e temperaturas;, justifica. Sem falar que, ao mexer sempre no menu, ela pode aproveitar o frescor e a sazonalidade dos ingredientes.

Este ano, Dani recebeu mais uma proposta irrecusável: ficar responsável pelo restaurante de um projeto inovador que abria as portas, também no SIA. O Galpão ; Casa em Movimento é um espaço colaborativo que reúne, em 2.000m;, 15 lojistas dos setores de arquitetura, decoração e vestuário. Desde julho, Dani toca o Festim Box Gastronômico. ;O legal é que, em termos de logística, é ótimo, pois os três empreendimentos ficam na mesma região.;

O novo restaurante proporciona, de forma simples, uma experiência gastronômica. De início, o cliente vai ao balcão, pega uma das saladas preparas no pote e escolhe um dos molhos. Em seguida, opta por uma das proteínas disponíveis no cardápio ; como peito, coxa e sobrecoxa desossada de frango, filé, bife de chorizo ou salmão ; e o garçom passa com cinco tipos de panelinhas para acompanhamento, que variam diariamente. ;Mas seguimos uma lógica: sempre tem um arroz e dois legumes incrementados, um carboidrato e um grão ou leguminosa.; Em breve, devem ser incluídos carré de cordeiro e bacalhau grelhado.

Hoje, os dois filhos, que precisavam ir ao restaurante da mãe para ter um tempinho com ela, trabalham com Dani: o caçula é gerente do restaurante self-service e o primogênito cuida das finanças da empresa. E a chef comemora: ;Se lá atrás eu não vi o porquê de tanta dedicação e cheguei a contestar minhas escolhas, hoje os meus filhos reconhecem todo o sacrifício ; mais que isso, eu tenho a admiração deles;, emociona-se.

Jornalista troca de profissão e, com muito trabalho e dedicação, se lança em carreira de sucesso no mundo gastronômico
Sorvete artesanal de queijo com calda quente de goiabada

O sorvete
Ingredientes
  • 1 vidro de requeijão
  • 2 caixas de creme de leite
  • 50g de queijo parmesão
  • 1/2 caixa de leite condensado

Modo de fazer
  • Bata todos os ingredientes no liquidificador por 3 minutos. Despeje a mistura numa vasilha grande, de forma que fique rasa (vai facilitar o próximo passo). Leve ao congelador por quatro horas. Desenforme a mistura sobre uma tábua e, ainda supercongelada, corte em cubos ou lascas para facilitar o trabalho da batedeira. Comece a bater com a pá de massa pesada, em velocidade alta. Quando estiver já cremoso, troque a pá da batedeira para fouet, que vai aerar o sorvete. Aguarde dobrar de volume e coloque em potes que possam ir ao congelador. Volte ao congelador e espere endurecer.

A calda
Ingredientes
  • Goiabada cascão
  • Água

Modo de fazer
  • Pique a goiabada e leve ao fogo baixo. Coloque a água aos poucos e vá mexendo até dar o ponto de calda. Sirva, ainda quente, sobre o sorvete.

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