postado em 03/11/2019 04:19
[FOTO1]Estudante de arquitetura e apaixonada por acessórios, Sarah de Magalhães Sousa, 31 anos, estava à procura de uma nova atividade profissional. Mãe de dois filhos, ela buscava algo que pudesse exercer de casa, enquanto continuava os estudos. Há dois anos, criou a Urbanoise para vender acessórios em couro, mas logo depois migrou para as joias.
Inicialmente, Sarah comprava e revendia, mas sentia faltava de alguns modelos diferentes e personalizados. ;Não encontrava o que queria no mercado, até mesmo para eu usar. Foi quando resolvi fazer do meu jeito e dar a minha cara às peças;, conta. Sarah, porém, nunca imaginou que o mercado de joias se tornaria sua vocação. Para ela, o fato de sempre ter sido fã do trabalho manual ; ela arrumava e customizava as próprias roupas e acessórios ; aliado ao processo criativo da arquitetura a levaram naturalmente para a nova área.
Sarah decidiu, então, fazer o curso de design de joias, e a marca ganhou outra identidade. Inspirada na arquitetura e nas formas de Brasília, a designer começou a criar peças modernas e minimalistas. O Brinco Movimento, por exemplo, imita a sensação de movimento dos três arcos da Ponte JK.
Fã da capital, a designer acredita que a cidade é um grande berço para o trabalho autoral e artesanal. ;As pessoas gostam de consumir o que é feito na cidade e por pessoas daqui, apreciam coisas que carregam a identidade brasiliense.;
Sarah não abre mão de continuar a fazer parte de todo o processo ; do desenho à produção. E tem dificuldade de escolher uma etapa preferida. ;Faço tudo, é tudo meu. Eu amo desenhar, mas gosto de derreter e fundir o metal, lixar, limar. Fazer algo e ver criar forma do início ao fim é muito bom.;
Com estilo que ela define como modernista, minimalista e simplista, a peça preferida é o Anel Disco. ;Ele é um círculo gigantesco, é simples, mas, ao mesmo tempo, chama muito a atenção. Foi uma das minhas primeiras peças, chamo de anel do poder.;
Tradição em joalheria
A capital é um celeiro criativo quando o assunto é joias. Conheça algumas designers consagradas da cidade
Pioneira
Carla Amorim começou a criar joias em 1993 e é a joalheira queridinha da capital. As peças da designer são inspiradas em três grandes temas: a natureza, a religiosidade e, como boa brasiliense, a arquitetura da capital e as linhas de Oscar Niemeyer. Diamantes e pedras preciosas, além do ouro em diversos tons, ganham personalidade única. Carla já teve joias usadas até por personalidades internacionais, como Michelle Obama e Angelina Jolie.
Brasília na SPFW
As joias da designer Miranda Castro, mineira radicada em Brasília, fizeram sucesso pelas passarelas da última edição da São Paulo Fashion Week. As peças adornaram as modelos que desfilaram para a coleção outono-inverno da estilista Fabiana Milazzo. A coleção Jardins de Monet tem 300 peças, entre colares, anéis, pulseiras, piercings e outros, com diversas pedras preciosas, e foi inspirada no pintor francês.
Arte personalizada
Formada em artes plásticas, Vânia Ladeira imprime seu lado artista nas joias que cria. Apesar de não ter nascido em Brasília, vive na capital há mais de 20 anos e se formou na Universidade de Brasília, tendo em sua formação a identidade artística brasiliense. Com peças únicas, Vânia materializa a vontade e a personalidade dos clientes nas joias que cria. A designer também faz alianças de noivado com a participação ativa dos noivos, que podem ajudar na criação e até mesmo na confecção das joias.
O movimento das nuvens
Os caminhos entre a joalheria e o jornalismo parecem se entrelaçar. Assim como Ana Paula Bottecchia, a designer de joias Débora Cronemberger, 48, é jornalista de formação, mas hoje conta histórias por meio de suas criações e da Debcronem Joias.
Fã de acessórios, Débora tinha dificuldade de encontrar peças de que gostasse. Em busca de bijuterias ;diferentes e charmosas;, passou a considerar a possibilidade de fazer os próprios brincos, anéis, colares e pulseiras. Sem encontrar cursos ou workshops específicos para bijus, apenas para joias, deixou a ideia por ali, esperando uma oportunidade. ;Apesar de achar lindo, não era apegada a joias. Tinha um conceito de que eram coisas do valor de um carro e muito glamourosas, para festas de noite. Achava que não era meu estilo.;
As coisas começaram a mudar quando Débora se deparou com o trabalho de uma designer de Santa Catarina e se apaixonou pelo estilo das joias. Identificando-se com a estética clean e delicada, ela percebeu que se sentiria bem fazendo e usando aquele tipo de peça. Foi o empurrãozinho que faltava.
Com o conceito de joia ressignificado ; além de bonita, deve ter um bom custo-benefício e carregar um significado especial ;, Débora aproveitou as férias e investiu em um curso de joalheria em São Paulo. ;Não esperava fazer uma carreira a partir dali, mas eu me apaixonei pela dinâmica e os processos do ateliê. Quando terminei o curso, voltei para casa sabendo que queria fazer aquilo para o resto da vida.;
A princípio, Débora continuou a trabalhar com jornalismo, como assessora, mas começou a fazer encomendas para amigos, e a procura foi aumentando. Com um público cada vez maior, há dois anos, a designer largou o emprego e investiu na capacitação no mundo das joias e do design. Assim nasceu a Debcronem.
Uma nova narrativa
A vocação para dividir narrativas não ficou esquecida, apenas mudou de forma. ;Sempre gostei de contar histórias e faço isso por meio das joias. Minha marca virou o meu livro e a minha própria história.; Além de traduzir as palavras em metais preciosos e design cuidadoso, Débora recebe encomendas personalizadas, nas quais faz a releitura também de histórias alheias. Ela ressalta a relação afetuosa que acaba surgindo nas conversas e no processo criativo com os clientes.
Atualmente, Débora faz algumas peças do início ao fim ; do desenho à produção ;, mas tem passado mais tempo concentrada no processo criativo e levado o conceito, o modelo e o design para ourives de confiança executarem a peça, sempre artesanalmente.
Existem, porém, as joias de que não abre mão de fazer, como os anéis de nuvem, com os quais tem um forte vínculo emocional. O modelo não foi o primeiro, mas é o xodó da designer. Ela sempre gostou de observar o céu, as formas e a beleza, mas o modo como enxerga as nuvens é realmente especial.
;As nuvens estão sempre em movimento, se transformando, sem perder a beleza. Elas são criativas, sempre em aprendizado e interação. Eu me vejo como uma nuvem;, justifica. Apesar de não ser brasiliense de nascença, Débora foi criada na capital e se formou na Universidade de Brasília. O céu de Brasília ; e suas nuvens, claro ; são uma das grandes referências afetivas para ela.