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Onde há fumaça...

Estudos recentes apontam que o cigarro e outros tipos de fumo podem ser prejudiciais à saúde dos pets, que, muitas vezes, são fumantes passivos

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 03/11/2019 04:19
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As discussões sobre os efeitos maléficos do fumo ganham a cada dia mais espaço devido aos avanços nas pesquisas médicas. O que ainda é pouco divulgado são os impactos naqueles que são companheiros para toda hora, inclusive nas saídas para dar uma volta e acender um cigarro.

Seja tabaco ou cigarro comum, seja narguilé ou incenso, o efeito das substâncias presentes nas fumaças desses produtos é prejudicial para cães e felinos. Os estudos na área são recentes e médicos veterinários ainda trabalham para elucidar todas as intercorrências causadas pelo fumo, mas as possibilidades já descobertas são suficientes para ligar o alerta vermelho do tutor.

Foi justamente o que aconteceu com a estudante Jane Victoria. Por já conhecer os riscos à saúde humana, desde que adotou Saturno, ela se preocupa em fumar distante da gata. ;Que cigarro não faz bem a ninguém não é nenhuma novidade, então, para mim, sempre foi lógico que também faria mal para a gata;, explica ela sobre como descobriu a relação.

Nem sempre o instinto natural dos tutores é tão aguçado quanto o de Jane, e ainda são raros os casos de pessoas que despertam para esse perigo antes de o pet adoecer. Um dos riscos da exposição a qualquer tipo de fumaça é o comprometimento dos sistemas ocular e respiratório, devido ao surgimento de alergias. As raças já propensas a manifestar problemas nessas áreas por causas fisiológicas ; como a respiração dificultada dos pugs em função da pequena caixa craniana ; apresentarão quadros ainda piores.

Sarah Fernandes, veterinária da Cobassi, explica que essas consequências decorrem da alta sensibilidade do organismo de cães e gatos. ;A maioria dos casos que conseguimos correlacionar com o fumo passivo acontece em cachorros, provavelmente porque os tutores os levam mais ao veterinário. Mas pode acontecer com gatos da mesma forma. Ambos apresentam alta sensibilidade aos agentes externos.;

A escolha de submeter a saúde animal aos riscos do tabagismo recai, então, sobre as mãos dos tutores. E Sarah faz mais um esclarecimento: ;Instintivamente, eles (os pets) associam qualquer fumaça a algum perigo, e realmente é. Devemos entender que isso não é um hábito deles, muito menos algo natural para os animais;.

O temido câncer

Os cigarros e outros fumos com nicotina, além de alergias, podem causar nos pets problemas pulmonares, vasculares e inflamações graves. Os veterinários conseguem associar os sintomas à causa pelo fato de os animais terem os sentidos bem aguçados e, portanto, sofrerem mais ao entrar em contato com a fumaça.

A médica veterinária Carolina Freitas chama a atenção ainda para o risco de ingestão e consequente toxicidade do organismo. Basta o pet pegar uma bituca que caiu no chão ou mesmo lamber o pelo já infestado pela fumaça para isso acontecer. ;Nas ocorrências mais graves, o tabagismo passivo chega a causar câncer de cavidade nasal e de pulmão, nos cães, e linfomas e asma severa, nos gatos.;

Os tratamentos veterinários para essas patologias mais preocupantes envolvem muita despesa financeira, acompanhamento constante e enfraquecimento considerável do corpo do animal. No entanto, dados do Ministério da Saúde trazem esperança. Eles apontam a queda, em 2018, para 9,3% da população fumante maior de 18 anos ; em 2006, esse percentual era de 15,6%.

Cuidados

Para evitar intercorrências, a principal recomendação aos tutores é parar de fumar. Caso não seja viável, Carolina indica manter o animal dentro de casa enquanto o dono fuma fora, em ambiente aberto. Ao retornar, é importante bater as roupas para tirar a fumaça impregnada. Outro cuidado está ligado à limpeza da residência, por dentro e por fora. Os cômodos devem permanecer arejados e o jardim limpo, sem nenhuma bituca nem resquícios de fumaça.

A veterinária Sarah pede que, caso esteja em companhia do pet no ambiente externo, o tutor redobre a atenção para se distanciar bastante na hora de fumar, lembrando sempre que o olfato deles é bastante desenvolvido.

*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte


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