Revista

Resgate das origens: confira editorial com produções da cultura afro

Estilistas negros promovem em suas peças um encontro de representatividade, identidade e memória da cultura afro no Brasil

Ana Flávia Castro *, Manuela Ferraz*, Marcella Freitas*
postado em 10/11/2019 07:00
Estilistas negros promovem em suas peças um encontro de representatividade, identidade e memória da cultura afro no Brasil
O Brasil é feito de diferentes heranças africanas trazidas por pessoas que emprestaram um pouco das suas raízes e cultura para criar o sincretismo e a diversidade que existe por aqui. Elas também são exemplos de resistência e luta diária contra o preconceito e encontram diferentes formas de expressar suas origens e a própria identidade. Em Brasília, estilistas unem o que há de melhor da moda afro em criações ímpares ; cheias de estilo e personalidade.

Dja Franck Lagbre deixou a Costa do Marfim, devido às crises políticas do país, e se refugiou em Brasília em 2017. Sozinho em um novo país, o início não foi fácil, mas o cenário mudou quando o estilista encontrou um espaço colaborativo para voltar a produzir roupas cheias de identidade: a loja Égalité, no Venâncio Shopping.

;Com a Egalité, buscamos acolher e incentivar o empreendedorismo de refugiados de diferentes partes do continente africano. É, sobretudo, a oportunidade de uma troca cultural muito rica, por meio de um olhar da moda a partir de outras referências, modelagens e cores;, afirma Ana Rodrigues, gerente de marketing do shopping e uma das idealizadoras da boutique colaborativa.

Assim como Franck, há dois anos, o publicitário Mike Bryant, natural de Camarões, se propôs ao desafio de oferecer roupas e acessórios que fizessem o consumidor brasiliense reconhecer e aceitar as confecções africanas como peças para o dia a dia. Por isso, ele passou a criar artigos de moda praia para sua loja online DS Afro Concept.

Nessa mesma época, Lia Maria lançava a marca Diáspora009 com o objetivo de desenvolver uma moda autoral ; visando exaltar elementos históricos e culturais negros na busca por sua representatividade e protagonismo. O projeto, desde a fundação, se posiciona como uma empresa ARTvista ; junção de arte com ativismo político. E a preocupação vai além: a marca produz peças no sistema slow fashion, no qual prioriza a qualidade de trabalho e o número reduzido de roupas por coleção.

;Pesquiso sobre tecidos africanos ; desde a escolha das cores e dos desenhos ; e acompanho a trajetória das estamparias até a compra de cada metro. Os tecidos se mostram como livros para mim, para reconstruir nossa presença afrodiaspórica no mundo;, explica Lia.

Representatividade


Sempre interessado por uma moda que dialoga sobre identidade, Alex Sousa acompanha desde o começo o crescimento da Flamboyant All Style ; marca orgulhosamente nascida em Ceilândia, que busca representar os jovens da cidade que amam arte e cultura. Gradualmente, foi se envolvendo mais com a produção, e hoje atual como sócio, estilista e até modela nas campanhas.

;A nossa busca é por representar a nossa cidade e a cena jovem que pulsa aqui. Tanto que nos ensaios priorizamos as locações de Ceilândia, os lugares onde as pessoas de reúnem e frequentam nas festas e eventos;, afirma.

Sophia Dinis sempre gostou de desenhar roupas e resolveu transformar diversão em trabalho com o incentivo da irmã mais nova, sua motivação. Ela criou a Sophiesticated para ajudar a elevar a autoestima das pessoas. ;Quero servir de inspiração e espelho para outras meninas negras que sonham em fazer moda.;

A riqueza da cultura afro inspira peças singulares, confortáveis e com cores e padronagens ímpares. A Revista preparou um editorial com roupas de estilistas que unem suas raízes à criação artística. Confira!

Desafios

O mercado de criação e confecção de roupas por si só guarda dificuldades conhecidas, principalmente nos primeiros anos, quando a marca está se estabelecendo. A estilista da Diáspora009, Lia Maria, reforça que para negros e grupos de culturas ainda marginalizadas serem reconhecido é um verdadeiro desafio. ;Ser uma empreendedora negra em um mercado com referenciais eurocêntricos é mais um dos desafios que enfrentamos frente ao preconceito e a toda invisibilidade imposta a nós.; Além da dificuldade de se fazer notado, a resistência às características da cultura negra e africana nas roupas também são percebidas pelos estilistas, que lutam para produzir cada vez mais e expandir para alcançar a aceitação completa.

Desfile Beleza Negra


A moda ainda tem muito o que aprender no quesito diversidade. Especialmente no que tange à participação de pessoas negras no mercado. Além de estilistas, modelos vêm conquistando seu espaço na moda. Essa é a proposta do desfile Beleza Negra, que incentiva a diversidade e a inclusão em todos os eventos do ramo ; dentro e fora das passarelas. As modelos que vestem as peças e os designers deste editorial participarão do evento, que ocupará a estação de metrô da 112 Sul, em 21 de novembro, às 17h.
[FOTO1]
Os acessórios ornam na produção da modelo Paula Lerato como ponto de cor. Já no look usado por Isabella Vieira, a dupla de cores vermelho e azul remetem a um astral navy.
Paula (esquerda) veste conjunto top (R$ 25) e calça (R$ 70) da Flamboyant All Style; bolsa (R$ 90) e chapéu (R$ 90) da Diáspora009. Isabella usa top (R$ 25) da Flamboyant All Style; saia de vinil (R$ 110) da Sophiesticated e pochete do acervo pessoal.

Estilistas negros promovem em suas peças um encontro de representatividade, identidade e memória da cultura afro no Brasil
Nada de monocromia! As padronagens étnicas conferem ao look muita personalidade ; e vida ; à produção. As estampas e cores estão presentes no vestido de Isabella e na saia e no colar usados por Paula. Para ousar, vale compor a produção com lenços, pulseiras ou uma bolsa como ponto de cor.
Isabella veste blusa longa (R$ 250) da Egalité; saia de vinil (R$ 110) da Sophiesticated; e sandálias do acervo pessoal. Paula calça sapatos do acervo pessoal; saia da (R$ 120) disponível na Egalité; camiseta (R$ 80) da Sophiesticated e colar (R$ 50) da Egalité.

[FOTO3]
Para quem tem medo de ousar em estampas, ornar com uma peça com cores neutras ; como o preto ou cinza ; pode ser uma alternativa na hora de compor a produção.
Paula usa maiô (R$ 120) da DS Afro Concept e saia utilitária (R$ 90) da Mindlessly.Isabella veste top (R$ 25) da Flamboyant All Style e calça (R$ 180) disponível na Egalité.

Produção e styling: Ana Flávia Castro, Marcella Freitas e Manuela Ferraz
Fotografia: Marcelo Ferreira/ C.B. Press
Beleza: Salão Red Hair Make Up
Modelos: Paula Lerato e Isabella Vieira
Locação: Centro Cultural Banco do Brasil, exposições Vaivém e Casulo
Agradecimentos: Dai Schmidt e desfile Beleza Negra

*Estagiárias sob supervisão de Sibele Negromonte

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação