Revista

Seis décadas de experiência

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 17/11/2019 04:18
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Francisco Humberto de Freitas Azevedo, 74, tem 61 anos de vida sexual ativa e não deixa a idade limitá-lo. Afirma que a experiência só aumentou, assim como um atleta que vai melhorando com a prática, e não pretende parar tão cedo.

Francisco teve diferentes parceiras e garante que aprendeu algo novo com cada uma delas. Para ele, a quantidade de parceiros e a forma de vivenciar o sexo são muito particulares e diferentes para cada pessoa. ;Cada um tem seu tempo de aprendizado e sabe qual botina cabe no seu pé. Mas a verdade é que só existe uma coisa melhor que sexo: sexo outra vez;, diverte-se.

Do interior de Uberlândia, perdeu a virgindade aos 13 em um prostíbulo, como era comum naquela época. Aos 23 anos se casou, em uma união que durou 30 anos e lhe rendeu os filhos e netos. Depois da separação, Francisco teve uma paixão ;que explodiu; e ele, que vivia em Brasília, se mudou para o Paraná para viver esse amor. ;Se não for por paixões, não tem graça viver. A vida é feita de momentos e temos que aproveitá-los.;

Depois que esse romance esfriou, Francisco conheceu uma colega de São Paulo. Eles começaram a se envolver e menos de 15 dias depois o médico se mudou para perto da nova namorada. O relacionamento acabou e, dois anos depois, Francisco conheceu a atual companheira, com quem está até hoje, aproveitando a longevidade.

Francisco e a gerontóloga Shirley Pontes se conheceram em 2007, em um baile. Os dois foram apresentados por uma amiga em comum e viveram a primeira dança e o primeiro encantamento um pelo outro ao som de New York, New York, de Frank Sinatra, que se tornou a música do casal.

O médico defende que a sexualidade não tem prazo de validade. ;Para o cidadão que é sadio, se cuida, não muda nada! A frequência pode até diminuir um pouco pela queda hormonal, mas a qualidade é a mesma. No meu caso, uma vez por semana é obrigatório; duas, opcional;, conta, bem-humorado.

Para Francisco, o sono, a boa alimentação e o exercício físico fazem parte da receita para manter uma boa saúde sexual, independentemente da idade. Ele faz modulação hormonal e repõe as vitaminas e os nutrientes necessários. ;Temos receptores hormonais em todas as nossas células. Hormônio é vida e as pessoas se esquecem disso, se acomodam. Tem que se cuidar;, recomenda.

Francisco afirma ainda que a idade está no estereótipo, e não no interior. Quem está descompromissado, solteiro e quer aproveitar, deve aproveitar!

As ISTs entre idosos
A médica geriatra Priscilla Mussi alerta para o perigo que os idosos se expõem ao não usar proteção no ato sexual. O HIV e a sífilis são as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) que mais têm atingido as pessoas acima do 60 anos e ambas podem causar quadros de demência, além de tantos outros sintomas. A médica afirma que a alta rotatividade de parceiros, inclusive em casas de repouso, além de traições, estão relacionadas ao aumento dessas doenças na população idosa, e ressalta a necessidade do uso de preservativo, além de exames regulares. Kátia Arruda, especialista em sexualidade, acredita que muito vem da desinformação. Ela explica que na época da epidemia de Aids, esses idosos eram, em maioria, adultos casados e muitas campanhas de proteção sexual não os atingiam. ;Eles não viveram esse boom e não passa pela cabeça usar a camisinha, mas os índices de pessoas acima dos 60 contaminadas com HIV e sífilis têm aumentado e é necessária uma maior conscientização;, afirma.

Parceria de vida

Mathê Alencar, 69 anos, e Amazildo de Medeiros, 72, são joalheiros, parceiros nos negócios e na uma vida sexual ativa e saudável na maturidade. O que ainda pode render muitos olhares tortos e preconceituosos é tratado pelo casal com a naturalidade devida. Elegantes, simpáticos, cheios de vida e apaixonados, Mathê e Amazildo são o retrato do casal bem resolvido e que vive muito bem, obrigado.

Juntos ;há muito tempo;, de acordo com os dois, que não contam os anos, mas, sim, as conquistas, se conheceram depois da viuvez ; o segundo relacionamento sério um do outro. Eles estavam em uma reunião do Rotary Club de Brasília quando se viram pela primeira vez, mas, para Mathê, as coisas não começaram imediatamente. ;Ele usava aliança, o que acabou sendo uma barreira. Somente depois, descobri que ele era viúvo e aí começou um encantamento;, lembra.

Já Amazildo, depois do primeiro olhar, foi perguntar aos amigos sobre a mulher que chamou sua atenção. Os dois trocaram cartões de visita e essa foi a deixa para o joalheiro convidá-la para um evento, que acabou não dando certo. Em seguida, ele propôs um almoço, estava com vontade de comer carne de jacaré. ;Eu disse que nem pensar! Eu sou pantaneira, não ia comer jacaré, mas disse que poderíamos ir ao cinema.; Essa foi a deixa.

O primeiro encontro aconteceu, e o cinema se tornou o programa especial do casal. Desde então, os dois curtem a vida, em todas as suas facetas, juntos. A sexualidade é apenas mais um dos aspectos que os joalheiros vivenciam juntos, sem tabus. ;Eu queria viver um grande amor, encontrar um parceiro para todas as coisas da vida, inclusive na sexualidade e na sensualidade. Temos a longevidade, e é preciso aproveitar a vida que temos;, afirma a mulher.

Liberdade

Mathê acredita que para viver novas experiências é necessário estar mais aberto e sereno, ser feliz e vivenciar o presente. Ao que Amazildo completa: ;Precisamos aproveitar mais a vida, viver só é um desperdício. Existe a dança, o cinema, eventos e tudo o que envolve a relação. É uma questão de decidir viver melhor.;

Para a joalheira, uma das principais diferenças na sexualidade que vivenciou na juventude e a que vive hoje é o autoconhecimento. Nos anos 1970, como a maioria das mulheres, Mathê sentia a pressão social de ser ;casta, bela e pura;. A posição feminina naquela época não permitia a experiência nem o autoconhecimento.

Mulheres que demonstravam interesse no sexo eram malvistas, o que acabou levando a uma sexualidade retraída e impermeabilizada, nas palavras de Mathê. Em seu segundo relacionamento, ela tinha todas as ferramentas para encontrar um parceiro ideal e viver sua longevidade em plenitude.

Amazildo aponta a fisiologia como uma das diferenças, mas garante que, com a saúde em dia e com a modelação hormonal, feita pelos dois, a sexualidade pode ser vivida em plenitude em qualquer idade. ;Se houver a liberdade, a vontade de estar junto e de despertar aquela sensualidade em você e no outro, além do respeito, vai ser uma vida normal, com alegria e prazer.;

;Sexo é para sempre, é energia, é saúde, poesia, palavra, arte. É uma troca que faz bem para a alma e para o corpo, a alegria de viver é renovada a cada instante;, diz Mathê, exemplificando o que significa o sexo para o casal, e a importância de não limitá-lo de acordo com a idade.

Na hora de dar um conselho para quem ainda se prende a preconceitos e ao medo do novo. Mathê afirma: ;Conheça-se primeiro, é a chave. Vamos aproveitar o que sexualidade nos proporciona. Transformar em saúde, energia, bem-estar, contentamento e em alegria de viver;.

Assista ao vídeo da matéria no tablet e no site do Correio.


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