postado em 24/11/2019 04:10
[FOTO1]A estudante de pedagogia Geisa Antunes, 26 anos, de Sorocaba, em São Paulo, acredita que já nasceu com uma veia empreendedora natural de quem é da periferia ;por necessidade, por sobrevivência;. Mas queria um negócio que transformasse a vida de pessoas. ;É muito bom a gente se sustentar com o nosso trabalho, mas melhor ainda saber que está fazendo o bem;, reflete. Nunca se viu representada em um brinquedo e só se reconheceu como mulher preta aos 16 anos. Não queria isso nem para a filha nem para outras crianças negras.
Estagiando em uma escola pública e em contato com garotos haitianos, viu uma situação: ;Um dia, numa brincadeira de sereia, disseram que uma haitiana não poderia ser a Ariel, porque ela era branca de cabelo ruivo. Isso me tocou muito. Eu a via sendo obrigada a comprar coisas que não a representavam;. Começou a fazer bonecas de pano negras e surgiu a Melanin. ;A criança tem que se ver representada e ver que ela pode ser o que ela quiser: a sereia, a bruxa, a princesa... A mídia não mostra isso para elas;, afirma.
Com uma filha de 5 anos, Ana Luísa, Geisa já tinha percebido esse furo no mercado. ;Minha filha queria uma boneca e queria uma pretinha, de cabelo crespo, e a gente não achava;, relembra. Depois das bonecas, vieram as mochilas, sucesso no Brasil inteiro, inclusive em Brasília, onde tem muitas clientes. Com personagens negras, todo o processo de criação da mochila é feito por ela. Só terceiriza a costura.
A garota-propaganda e inspiração de Geisa é a irmã, Ana Vitória, de 11 anos. ;Ela sofreu muito: fazia xixi na cama, só usava coque, por causa do cabelo crespo, fizeram música racista para ela;, lamenta. Para apoiá-la, todas as mulheres da família passaram a assumir os fios crespos e deixaram a chapinha de lado. Ana Vitória, diferente de Ana Luísa, tem a pele bem preta, e isso muda a forma como a tratam. É o chamado colorismo: quanto mais escuro o tom de pele de uma pessoa, mais racismo ela sofrerá, e quanto mais claro, mais privilégios ou vantagens ela terá. Geisa também tenta mostrar isso à filha.