postado em 24/11/2019 04:10
[FOTO1]Animais de estimação trazem consigo o poder de alegrar lares. Segundo a ciência, porém, os benefícios de ter um gato ou cachorro vão além. Pesquisas recentes nas mais diversas áreas comprovam que a convivência com animais corrobora para a evolução de tratamentos de câncer, depressão, TDAH e autismo.
Um exemplo é a pesquisa realizada por psiquiatras de Portugal que foi publicado na revista científica Journal of Psychiatric Research. Ao estudar 80 pacientes diagnosticados com distúrbio depressivo grave, os profissionais envolvidos constataram que aqueles que se relacionaram com pets mostraram uma melhora mais rápida e significativa no quadro depressivo quando comparados aos que não conviveram com animal algum.
Luana Sartori, médica veterinária, explica que esses benefícios se dão pela natureza dos animais domésticos, que tendem a oferecer amor incondicional a seus donos. ;Imagine por exemplo, alguém que enfrenta a depressão, passa o dia trabalhando e, em vez de chegar em casa e lidar com a própria solidão, tem à sua espera um animal agitado e pronto para recebê-lo e distraí-lo das obrigações cotidianas;, aponta.
Por outro lado, a psicóloga Sirlene Ferreira explica que a interação com os animais proporciona alterações hormonais e, por isso, é eficiente. ;O convívio estimula a produção de hormônios relacionados ao bem-estar, como a endorfina, a serotonina e a dopamina, muito importantes para quem está passando por tratamentos psicológicos, transpondo as barreiras que apenas os remédios, por muitas vezes, não conseguem quebrar.;
Processo de cura
É o que a estudante Rayanna Souza, 23 anos, vem sentido na pele. Em tratamento contra depressão e ansiedade há pouco mais de um ano, ela garante que o cachorro Luke vem sendo um fator determinante para o sucesso no processo. ;Eu resolvi adotar quando percebi que minha tia melhorou do quadro de depressão depois que ganhou um cachorro. Relutei durante cinco meses para criar coragem, até que em um dia vi um anúncio de um cachorro e fui atrás.;
Mas o processo não foi fácil. Rayanna conta que passou o dia relutando para buscar o cachorro e, na primeira noite, até pensou em devolvê-lo por não se sentir capaz de cuidar do animal. ;Minha família me deu todo o apoio e hoje não troco meu filho de quatro patas por nada. Tinha pensamentos suicidas, crises constante e, em uma dessas, meu esposo me mandou uma foto do Luke. Confesso que só resisti por conta dele.;
Sirlene enfatiza que, apesar de animais serem eficazes, eles devem ser usados apenas como um auxílio no tratamento, que não deve deixar de ser observado de perto por psicólogos e psiquiatras. ;A depressão não deve deixar de ser encarada como uma doença real e potencialmente perigosa;, alerta.
Apesar de não haver recomendações de raças específicas para tratamentos do tipo, a veterinária Luana recomenda que o indivíduo analise o contexto familiar, a condição física e o espaço disponível para, só assim, escolher que tipo de animal criar. ;Um idoso que já tem movimentos limitados não deve ter um animal de grande porte e agitado, já que isso pode aumentar os riscos de acidentes ao brincar, além de que ele não consegue atender às demandas de passeio desse animal;, exemplifica.
Socialização
Os animais de estimação também podem ser impulsores para indivíduos que convivem com problemas de socialização, como é o caso de Gabriel Gomes, 13, que foi diagnosticado com dislexia, TDAH e autismo nos primeiros anos de vida. ;Quando ele passou a frequentar a creche, as professoras começaram a notar que ele pegava seus brinquedos e se isolava em um canto e quase nunca tinha amigos;, conta Shirley Gomes, 39, mãe do garoto.
Entre muitas idas ao médico e diversos receituários, Shirley se deparou com uma recomendação até então inusitada: ter um cachorro. ;O intuito era que o animal ajudasse Gabriel a estabelecer uma rotina, desenvolver a socialização e aprender a lidar com responsabilidades, como colocar água, comida e levar para passear.;
Assim, Shirley estudou o melhor animal para o filho até que decidiu por um yorkshire, devido ao pequeno porte. ;O Bob conviveu conosco durante sete anos e, nesse período, observamos uma evolução muito significativa. Meu filho quase nunca abraçava as pessoas, hoje ele já se mostra capaz de demonstrar afeto com os colegas e se socializa de maneira mais natural.;.
Além do desenvolvimento emocional e cognitivo, Shirley notou que o garoto aumentou o comprometimento com as responsabilidades. ;Ensinei a ele as tarefas e ele sempre se mostrou muito empenhado em cuidar do Bob, que, apesar de hoje não estar mais com a gente, foi um agente fundamental para a forma como Gabriel se relaciona hoje em dia;, conta.
Depois que Bob morreu, a mãe decidiu prontamente adotar Mel, que hoje corre por todos os cantos da casa com os dois filhotes que teve recentemente. ;Eles brincam muito, e Gabriel sempre dá prêmios quando a Mel obedece aos comandos de sentar ou dar a pata. É uma relação muito saudável, não só para ele como para nós.;
As melhorias notadas por Shirley foram comprovadas por especialistas do Hospital de Brest, na França, que administraram um estudo entre animais e crianças autistas e constataram que pessoas com a síndrome que convivem com cachorros e gatos a partir dos 5 anos de idade demonstram melhora no comportamento social. Os resultados são ainda mais potentes quando o indivíduo convive com animais desde o nascimento.
* Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte