postado em 08/12/2019 04:19
[FOTO1]Uma tarde de spa; meia hora de meditação, de exercício físico ou de sauna; um checape completo no médico... São atividades aparentemente pequenas, mas nem sempre fáceis de incluir na rotina. Elas têm, no entanto, o poder de trazer a satisfação de estar se cuidando. A palavra ;autocuidado; é uma tendência atual. Ela vem lá dos anos 1970, com a teoria da enfermeira norte-americana Dorothea Orem, que se baseia na premissa de que os pacientes podem ; e, sobretudo, desejam ; cuidar de si próprios. Aos enfermeiros cabem intervir só o necessário.
Mas o autocuidado de que tanto se fala atualmente é outro: trata-se de dedicar um tempo para si para viver da melhor forma. ;Está na moda justamente porque o estamos praticando cada vez menos. Deveria ser o nosso jeito de viver: estarmos presentes e atentos, fazermos coisas que fazem sentido para nós, termos atenção a tudo que estamos fazendo. Mas, ao contrário, estamos vivendo no automático;, lamenta a psicóloga Thirza Reis, especialista em inteligência relacional e master coach.
Ela explica que é isso que faz com que seja necessário que as pessoas parem algum momento do dia para se autodedicar. ;Hoje, no universo da alta performance, é tudo ansiogênico. E no primeiro momento que se faz isso, já se vê benefícios. Não importa a sua escolha: ler um livro que dialogue com a alma, tomar um banho longo. O mais importante da atividade é o propósito, a intenção de ter pausa;, garante a profissional.
Thirza explica que, além das pessoas muito ocupadas, as muito ansiosas e as que têm excesso de preocupação com o que os outros vão pensar costumam ter mais dificuldade de fazer pausas para se cuidar. Mas não é só isso que torna o autocuidado tão difícil. ;Ele tem a ver com o autoenfrentamento: enfrentar algumas coisas que você está evitando. Às vezes, a gente mergulha em rotinas ensurdecedoras para fugir de pensamentos. Quando se para, eles vêm e a gente pode se dar conta de que não está vivendo a vida que gostaria, que está fazendo um trabalho horrível, que está numa relação difícil e não está conseguindo dar um desfecho.;
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte
Cuidar-se para ajudar os outros
;Enquanto eu tiver energia e força, quero estar aqui;, afirma a professora Sônia Feitoza, 65 anos, referindo-se à Associação Maria de Nazaré, em Samambaia, que funciona como creche, escola, contraturno para crianças e como um espaço para toda a comunidade, com grupos de ginásticas variadas e do Alcoólicos Anônimos. A entidade sem fins lucrativos foi fundada em 1990. Antes disso, no entanto, Sônia já era voluntária. Ao longo de todo esse tempo, ela viu que, para manter a disposição que deseja, precisava cuidar dela mesma: do físico, do emocional e do espiritual.
A rotina da professora sempre foi puxada. Fazia trabalho voluntário, dava 40 horas semanais de aulas pela Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF), tinha dois filhos e era responsável por uma marcenaria. Dessa forma, zelava muito pelos outros e pouco por si. Com cerca de 40 anos, resolveu mudar um pouco a situação: ;Comecei a fazer dança de salão. Eu me apaixonei. Depois, fui para a biodança, fiz dança do ventre, quando ficou na moda por causa de uma novela;, relembra.
Tudo isso, sem deixar ninguém de lado. Pelo contrário: com uma vontade inata de ajudar os outros, não bastou começar a fazer atividades físicas. Sônia fez questão de incluí-las nas programações da associação. Por ali, instalou projetos para que os pais das crianças, a comunidade e os funcionários do local também se movimentassem. O local já conta com diversos colchonetes, bolas para pilates, halteres, caneleiras e todo o material necessário para as aulas.
Em movimento
Atualmente, ela pratica pilates três vezes na semana, faz caminhadas nos fins de semana e procura fazer exercícios de respiração enquanto dirige. ;Para não focar só nos problemas. Gosto muito de ioga. São formas de diminuir a ansiedade;, explica. Mas nada disso é tão natural assim. Ela precisa se vigiar para não se desleixar. Confessa que, depois que se aposentou, ficou ainda mais ocupada que antes e, às vezes, o tempo é pouco para se cuidar. ;Se eu não brigar comigo e me obrigar a fazer o que preciso, é muito fácil se deixar de lado;, admite.
Ela sente falta da dança, mas foi algo de que precisou abrir mão sem, no entanto, prejudicar o bem-estar. Pelo menos, por enquanto. Além de se exercitar, ela procura realizar checapes médicos todo fim de ano ; os deste, foram feitos na semana passada ; e viajar a cada dois meses, mesmo que só pelo fim de semana. ;Férias, eu costumo tirar picadas: cinco dias aqui, cinco dias ali, mas não abro mão de viajar;, garante, feliz com a rotina intensa, mas que abrange também momentos só dela.
Brasileiros estressados
Pesquisas indicam que os níveis de estresse dos brasileiros estão altos. Segundo levantamento do International Stress Management Association, o Brasil é o segundo país do mundo com o maior nível de estresse. O instituto avaliou que 72% das pessoas no mercado de trabalho sofrem sequelas da sobrecarga emocional. Já a pesquisa Stress no Brasil, realizada pelo Instituto de Psicologia e Controle do Stress (IPCS), identificou que 34% dos 2,2 mil brasileiros entrevistados consideram que vivem estresse extremo. Os relacionamentos familiares e amorosos seriam os maiores causadores.
Para a psicóloga Sirlene Ferreira, o autocuidado revela limites físicos e emocionais das pessoas e, justamente por isso, acaba sendo definidor de com quem o indivíduo se relaciona e como faz isso. A máxima é que cuidar de si reflete no cuidado que vamos oferecer aos outros e na harmonia ao longo da relação.
De acordo com o IPCS, o estresse existe em todos, porém há formas de manejá-lo para que não seja excessivo. Algumas encaixam-se perfeitamente no autocuidado, como ;tirar férias mentais, isto é, se desligar dos problemas por alguns minutos durante o dia, usar técnicas de relaxamento, comer alimentos antiestresse (verduras, legumes, frutas) e praticar alguma atividade física.;